Resenha de "A grande Transformação" de Karl Polanyi

Resenha 1 - “A grande transformação: as origens políticas e econômicas do nosso tempo.” de Karl Polanyi

        O livro “A grande transformação” de Karl Polanyi, uma das obras mais significativas do início do século XX, traz consigo uma narrativa em defesa da sociedade contra os efeitos degradantes proporcionados pela Revolução Industrial e o surgimento da economia de mercado. Escrita durante a Segunda Grande Guerra Mundial, a obra compara a qualidade de vida social na Europa, após o impacto causado pela criação da economia de mercado, com a vida das sociedades primitivas. De acordo com o pensamento do autor, a evolução dos sistemas econômicos até o surgimento das indústrias no século XVIII foi a grande responsável pela degradação da vida dos cidadãos comuns que encontraram-se na obrigação de venderem sua força de trabalho para alcançar a sobrevivência.

        Para concluir tal ideia, o autor realizou um profundo estudo dos sistemas econômicos criados desde os povos primitivos até meados do século XIX, onde houve o nascimento de uma economia de mercado auto-regulável; Além disso, o autor dedicou-se a estudar a decadência deste sistema, ocorrida na década de 1920/30 nos Estados Unidos e Europa. Usufruindo dessas análises, Polanyi expõe a desordem social proporcionada por essa evolução econômica. Tal desordem, de acordo com ele, foi impulsionada pelo desenvolvimento econômico não regulado e por seu crescimento exacerbado.

        No terceiro capitulo de sua obra, Polanyi afirma que depois do capital e da terra, em um sistema de mercado controlado por preços, o trabalho foi o último fator de produção a ser organizado, pois sem este era impossível que a economia de mercado se tornasse auto-regulável. Segundo ele, tratava-se de um sistema em que o maior ganho monetário passou a ser o principal objetivo dos indivíduos. Embora os trabalhadores rurais tenham sido confiscados das terras comuns que lhes permitiam sobreviver através política de cercamento (enclosures), a qual foi iniciada três séculos antes da Revolução Industrial e os garantia certa seguridade social, houve a criação de novas formas de assistência social como forma de ajustar o mercado de trabalho para atingir as metas de capital e resolver possíveis turbulências contra o novo regime. Com base nessa realidade, durante o período Speenhamland (1795-1934), foi estabelecido um sistema de subsídio salarial que, por meio da Reforma da Lei da Pobreza (1834) reconhecida pelos sindicados no ano de 1870, garantia a qualquer cidadão o "direito à vida" caso sua renda fosse inferior ao necessário para sua subsistência. Esses mecanismos não tinham o objetivo de garantir a qualidade de vida dos cidadãos, tornando-se verdadeiras armadilhas que buscavam usar a sociedade, e sua fé cega pelo progresso, em um simples acessório do sistema econômico de mercado auto-regulável.

        Em seu capítulo sexto, o autor relata a mercantilização da terra e do trabalho humano, além de expor a exploração que esse novo sistema exercia sobre a sociedade. Polanyi explicou que a economia de mercado havia criado um novo tipo de sociedade, demonstrando também que o sistema econômico / produtivo se encontrava firmado em um mecanismo auto-atuante. Era visto que um mecanismo institucional controlava os recursos naturais e o cotidiano humano. Este meio de bem-estar material era totalmente controlado pelos incentivos da fome e do lucro, ou, mais precisamente, por um lado o medo de viver sem condições básicas de sobrevivência e do outro a  expectativa de lucro. A fome entre os trabalhadores e a atração pelo lucro entre os empregadores manteriam o mais recente sistema em constante funcionamento.        

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