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A Formação Política para os Estudantes

Por:   •  8/9/2018  •  Resenha  •  998 Palavras (4 Páginas)  •  279 Visualizações

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A professora Anna Karina Cavalcante afirma que é um processo de formação política para os estudantes, por que apesar de ter sido uma experiência precipitada, eles passaram por momentos bons e ruins, tiveram que viver coletivamente, dividir o alimento e, em algumas vezes, faltava dinheiro para a comida, o gás, os produtos de higiene. Isso muito contribuiu para a formação social e humana desse grupo, pois nessa experiência viveram coisas que, até então a maioria nunca tinha vivido. Diante disso, esclareceu:

“Antes das ocupações ocorrerem no Estado do Ceará, logo na primeira semana da greve, eu fiz uma fala no ginásio, após a assembleia dos professores em que alguns estudantes foram, e, terminado a assembleia, os estudantes se reuniram lá fora, no ginásio, e eu pedi a fala, na reunião deles, e eu coloquei a necessidade de ter a ocupação, porque era o que estava acontecendo em outros lugares do país, em especial em São Paulo, e para a gente ter um apoio e reforçar a luta, a greve, já que não é uma bandeira específica da categoria professor, mas é uma bandeira específica da Educação. E eles, por serem parte do processo de educação, os alunos, nada mais justo deles levantarem essa bandeira também, essa ferramenta que é a ocupação, então assim, antes dela acontecer, eu fui uma das professoras que primeiro apoiou o processo de ocupação, inclusive alguns gestores de algumas escolas já discutiram entre si, ‘’Ah, a ocupação é culpa dela!’’, o que é terrível, como se os meninos não fossem capazes de pensar politicamente, de agir sozinho politicamente, tanto é que durante o processo de ocupação, eu apoiei as ocupações, fazia fala de apoio, visitava as ocupações, mas na medida do possível, quando eu via algo de errado, eu também chegava pra eles e dizia: - Isso está errado, não é dessa forma, ocupação é um espaço político e não deve se fazer dessa forma, porque o que acontecer de ruim na ocupação será de ruim para o movimento todo.”

De acordo com a professora, o movimento apresentou fragilidades, porém foi um processo de muitos aprendizados e conquistas. Os estudantes tiveram suas lutas visibilizadas, organizaram debates, fóruns, promoveram diálogos entre as escolas, partilharam alimentos e produtos de higiene, demonstraram coragem para resistir as medidas arbitrárias do governo.

O coordenador Humberto Mendes comenta sobre as dificuldades que a escola teve em administrar esse processo porque a ocupação foi organizada por adolescentes e, em alguns momentos a gestão escolar percebia a influência de tendências políticas dentro do movimento, porém, ressalta que foi uma relação de muito respeito entre a gestão e os ocupantes. Sobre essa questão, relatou:

 

“Olha, a gente sempre teve uma relação de muito respeito com os movimentos sociais. Inclusive, a nossa visão é essa: de que a gente cumpre um papel social a partir do nosso trabalho como gestor e enquanto professor. O nosso público, na sua maioria, são estudantes que vêm de uma camada carente, são meninos que passam dificuldades, não só na educação, mas também dificuldades sociais. Eu acho que é uma obrigação a gente trazer essa reflexão a esse debate aqui para dentro da escola. Está certo? E eu acho que a escola cumpre um papel muito importante nesses processos, devemos continuar a cumprir, não tendo desilusão de que em um contingente de 100 professores, 2000 estudantes existem uniformidade de pensamento, isso não existe e nem vai existir, nunca. No entanto, a gente entende que a gente cumpre um papel muito grande, e eu acho que a gente deve trazer esse debate, a escola não deve ser submetida a um sistema que reprime, um sistema que quer impedir você de pensar, impedir você de ousar pedagogicamente. Então, se você começar a se submeter a isso, que vem do Ministério de Educação, a se submeter a isso que vem da Secretaria de Educação, ou achar que tudo que esses caras estão fazendo nos gabinetes é correto, então, estamos ferrados. Nós enquanto gestores enfrentamos uma dificuldade muito grande, muito grande dentro do sistema, e dentro da própria escola mesmo, existem pessoas com visão altamente conservadora, que acham que essa proposta que a gente defende é algo que não constrói, é algo deturpador, mas a gente vem mostrando que a gente consegue fazer um debate e consegue também mostrar o resultado da autonomia. É um ciclo, porque eu tenho certeza que se a gente tivesse submetido, desde o princípio, ao que é imposto pela Secretaria de Educação, o que é imposto pelo MEC, não teria nem a metade desse resultado, que é o que acontece com a maioria das escolas, de não fazer, de não ousar, de não tentar arriscar e errar, com medo do sistema, de ser chamado a atenção, de receber uma notificação por isso e por aquilo, e nós aqui não temos medo disso não. Se for preciso ir à Secretaria de Educação para cobrar, se for preciso mobilizar, se for preciso ir à rua, a gente vai; porque a gente entende que o respeito e a autonomia escolar têm que está vinculado em todas essas lutas. A nossa relação como movimento estudantil, sempre foi de muito respeito. Existem várias tendências políticas no movimento estudantil, não é obrigado a gente concordar, e a gente não concordar com muitas, mas a gente procura administrar e, principalmente, garantir o espaço, para que, independente da linha, independente da tendência política e da entidade, que ela possa atuar sem causar grandes transtornos ao funcionamento da escola. ”

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