O BEHAVIORISMO RESUMO
Por: Augusta Coelho • 9/4/2020 • Resenha • 6.098 Palavras (25 Páginas) • 486 Visualizações
RESUMO - Behaviorismo: reflexões acerca da sua epistemologia
RESUMO
Nesta tentativa de definir o behaviorismo como uma proposta científica, é priorizada a descrição dos seus valores fundamentais, sua visão do homem e do universo, sua definição do conhecimento, suas estratégias semânticas e sua atitude frente à noção de verdade científica. Os pressupostos da abordagem são esboçados de forma a possibilitar a comparação com outras abordagens científicas dentro da psicologia. Sua história é traçada em termos de continuidade e descontinuidade paradigmáticas. Sem apegar-nos a dicotomias didaticamente convenientes como a oposição entre as variedades radical e metodológica, exploramos as contradições inerentes ao movimento e as implicações potenciais destas para sua identidade como abordagem e para suas direções futuras.
Definir o behaviorismo
Behaviorismo é um movimento intelectual que carrega em si os efeitos da história que o moldou. Sendo uma das grandes tradições que deram direção ao que conhecemos hoje como a psicologia científica. Ainda, deve ser entendido como uma família de posições teóricas. Apresenta a abordagem hipotético-dedutiva de Hull, trazida por Eysenck para a terapia comportamental. Esta faz ciência testando hipóteses e privilegiando métodos estatísticos para processar dados colhidos em amostras representativas (Hull, 1953; Eysenck, 1959/1994). Usando o "mecanicismo" uma atitude frente ao conhecimento que propõe estabelecer uma estreita correspondência entre os fatos e a teoria, testando predições deduzidas desta última. Para entender um fenômeno deve-se destrinchar as cadeias causais envolvidas. A pergunta legítima do cientista é sempre alguma variante de "como funciona?". Mensuração exata e estatística são amplamente usadas dentro desta abordagem. Conhecimento é considerado válido quando foi objetivamente estabelecido. Diferentes observadores devem perceber a mesma coisa independentemente, isto implica em delineamentos experimentais e replicabilidade das pesquisas.
Assim, uma das cosmovisões que contribuíram para o behaviorismo foi o mecanicismo, que ao fazer implicitamente uma analogia do comportamento à máquina, propunha que, através de combinações de relações causais simples, o funcionamento da pessoa poderia ser estabelecido. A relação de causa e efeito, constituiu-se na base fundamental deste paradigma. Até o pensamento é considerado como sendo uma organização hierárquica de cadeias de estímulo-resposta.
Em contraste, é diametralmente oposta à estratégia indutiva de Skinner. Constrói-se conhecimento de maneira indutiva, a partir de regularidades observadas em estudos onde o sujeito único é seu próprio controle (Skinner, 1938). Usando o "contextualismo" considera que o evento só pode ser conhecido dentro do contexto do qual é função. A metáfora-raiz é o ato como evento histórico. Para a psicologia, isto implica que os fenômenos estudados são sempre imersos em dinâmicas temporais, materiais, sociais, culturais, familiares e outros. Tipicamente são investigadas interações bidirecionais em detrimento de mecanismos de causa e efeito lineares. Observam-se regularidades nas relações entre variáveis e, a partir disto, induzem-se princípios que regam esta interação. O critério de verdade é a pragmática, isto é: quando o conhecimento permite ação, ele é válido.
Como podemos então entender o que é o Behaviorismo? Moderato e Ziino (1994) enfatizam que o Behaviorismo como quadro referencial articulado desde o início em diferentes níveis. Que representa um conjunto de valores que devem ser considerados como uma ideologia dentro da Psicologia.
As epistemologias da psicologia moderna
Todas as epistemologias científicas possuem as suas maneiras de conceber um evento. Elas não só se diferenciam nos tipos de conhecimento que oferecem, mas também na sua definição do que é verdade e como alcançar conhecimento válido. O behaviorismo é conhecido pela sua luta contra as abordagens aqui chamadas de formista e organicista. No "formismo" fenômenos são reduzidos à essência, dependendo da abordagem, representada por idéias puras, universais ou protótipos. O critério de verdade é a correspondência entre o fenômeno complexo estudado e o universal ou a forma essencial capturada pelo estudioso. O "organicismo" porque a metáfora implícita é o ser vivo e o discurso lembra aquele da medicina, onde também se infere processos subjacentes para explicar os sinais observáveis. A mente é tratada como se fosse um organismo com a sua própria vida interior. O clínico que assume esta atitude epistemológica deve atuar nas estruturas ou dinamismos inferidos porque os fenômenos observáveis são apenas sintomas decorrentes destes.
A epistemologia behaviorista
O Behaviorismo tem as suas raízes no funcionalismo (mais coerente com a mentalidade do novo mundo), mas constituiu-se num corte na história da Psicologia com seu projeto de estudar o comportamento, enfocando entidades privadas de dimensões espaço-temporais, libertando a psicologia das suas amarras idealistas (Watson, 1913). Defini como objeto de pesquisa o comportamento e nada mais do que o comportamento, isto é, a relação entre um aspecto da atividade do indivíduo (a resposta) e um aspecto da atividade do ambiente (os chamados estímulos). A partir de associações múltiplas entre as relações de estímulo e resposta, poderia se entender comportamentos mais complexos.
Assuntos tão subjetivos corno as emoções (Watson, 1928), e a construção do sentido da própria vida (Watson, 1932, citado em Cohen, 1979) se tornaram, então, assuntos para pesquisa objetiva. Apareceram o intercomportamentalismo de Kantor e a análise do comportamento de Skinner. Representam um passo em que a afinidade com o empirismo de Mach veio eclipsar o rigor mecanicista de Loeb, que ameaçou se tornar uma camisa de força para a abordagem.
Quem lê Kantor ou Skinner verifica que as interações são determinadas pelos contextos que são, por sua vez, determinados pelos comportamentos. As ações só são influenciadas pelo ambiente, porque têm efeitos sobre este último. E são os efeitos do próprio comportamento sobre o meio que determinam a influência que o ambiente terá.
Assim, um ponto de vista que já era implícito na visão do homem produto do seu meio' de Watson e cujas raízes distavam ao funcionalismo, vinha em primeiro plano no behaviorismo moderno. Apesar de ter surgido paralelamente com as grandes tendências comportamentalistas, ele só chegou a dominar o movimento quando a influência do behaviorismo sobre a psicologia experimental norte-americana entrou em declínio. Entretanto, o pensamento Skinneriano chegou a influenciar profundamente a pesquisa experimental no Brasil, enquanto a corrente Kantoriana, que teve um impacto importante nos meios behavioristas mexicanos, recentemente ressurgiu nos Estados Unidos.
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