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Conto "Um sobrevivente"

Por:   •  3/5/2016  •  Dissertação  •  1.049 Palavras (5 Páginas)  •  331 Visualizações

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Conto: “Um sobrevivente.”

E a doença cai sobre nossas cabeças, sem aviso prévio, ou ao menos deixou farelos soltos na natureza que nos levassem a uma possível cura. Tudo aconteceu rápido demais. No primeiro dia, uma quarta-feira radiante de verão, circulava nos celulares vídeos de policiais atirando incansavelmente contra um morador de rua. Sem sucesso. Bastava um ferimento no cérebro. Não demorou muito para que percebêssemos isso.

Segundo dia, alunos foram dispensados de suas aulas, lojas foram fechadas, expedientes terminaram mais cedo. O alerta de um surto gripe havia se espalhado. O governo, a aquela altura, ainda não havia se pronunciado.

Na sexta-feira a população dos grandes centros sai às ruas, revoltada com as ações da polícia, protestos seguidos de destruição, e os primeiros casos da infecção começam a se espalhar.

Todas as tentativas governamentais e militares não foram bem sucedidas. Isolaram cidades, mataram cidadãos que não estavam infectados, montaram hospitais militares com alta segurança e passavam a mensagem de que tudo estava bem.

A verdade é que tudo aquilo fugiu completamente do controle. Desde o começo não havia chances de se quer dar certo.

Sortudos foram os que conseguiram fugir para longe das grandes cidades a tempo. As capitais se tornaram um verdadeiro pandemônio.

Ninguém sabe de fato como surgiu, se a culpa realmente foi da vacina contra a gripe distribuída semanas antes dos primeiros ataques, um vírus ou bactéria. O que sabemos é que a mordida nos mata com sua infecção, as pessoas voltam dos mortos, e ficam vagando por ai, a procura de carne, sangue. Barulho, cheiro, luz, isso os atrai.

Eu, Tyler, vivia em Los Angeles. Era um entregador de pizzas e estudante de jornalismo. Os dias seguidos do apocalipse foram um verdadeiro caos. Como conhecia grande parte das rotas da cidade, obtive facilidade para escapar e fui bem sucedido na procura por mantimentos. Nesta fuga encontrei pessoas que estão comigo até hoje, outros não resistiram ou foram atacados. Foi quando me aproximei de Caroline, que se tornou uma grande amiga, corajosa e companheira neste apocalipse.

Vivemos um tempo no terraço de um prédio. Fazendo pequenas buscas sempre pela redondeza a procura de sobreviventes e alimentos. A cada parada se tornava mais difícil encontrar ambos. Foi ai que decidimos, estava na hora de entrar continente adentro. Um a um caíram, alguns partiram, outros foram atacados, e ainda há aqueles que não resistiram e continuaram sua jornada em outros lugares.

Em certo momento éramos apenas eu e ela, vagando rápido pelas ruas a procura de outras pessoas e um lugar para se proteger das hordas de zumbis. Encontramos sobreviventes na estrada, que nos diziam haver uma cidade isolada a poucos quilômetros de onde estávamos.

 Devemos aceitar a proposta. É mais seguro para nós e finalmente poderemos participar de uma comunidade novamente. – Retrucou Caroline após minhas análises de se realmente era seguro para nós seguirmos em frente ou não com eles.

Confiamos, não podíamos deixar essa oportunidade passar.

Já faz três meses que estamos aqui, Caroline e eu, e nesse tempo, dia após dia, comemos a mesma comida enlatada de sempre. Não sei mais o que é sentir o sabor e aroma da comida preparada no fogão. Mesmo assim, não posso reclamar do que tenho em mãos, perdemos mais um membro do grupo na última saída atrás de mantimentos. Uma mulher, forte e corajosa, que por um descuido do grupo esqueceu-se de verificar todas as portas da mercearia. Foi atacada por trás, uma mordida em seu braço, sem poder ao menos se defender.  

Tivemos que executá-la, sabíamos que ela iria voltar e atacar uma nova pessoa. Não foi a primeira vez que presenciei essa cena, mas confesso que nunca se torna fácil. Tirar tudo de uma pessoa em um só golpe. Eu sei que sua vida já estava condenada, não havia maneiras de salvá-la.

A cada saída o número de enlatados e água encontrados vem diminuindo. Por isso decidimos que hoje é dia de sair atrás de alimentos novamente. Se eu soubesse o que me esperava, nos esperava, teria ficado na comunidade como sugeriu Caroline. Pobre Caroline, só consigo pensar nela. Ela não confia facilmente nas pessoas, nos dias de hoje isso se tornou algo difícil, e eu a entendo.

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