O Mercado de Notícias - Resenha
Por: Bellynha Almeida • 26/3/2017 • Resenha • 852 Palavras (4 Páginas) • 339 Visualizações
“O Mercado De Notícias”
2014 – Jorge Furtado
Resenha
Isabela Almeida
O documentário trata de forma direta da profissão do jornalista e das amarras que envolvem o complexo mundo da mídia. Brilhantemente dirigido por Jorge Furtado, é inspirado numa peça do inglês Bem Jonson (“The Staple Of News” – O Mercado De Notícias). O filme foge da densidade característica dos documentários e discute os temas midiáticos de forma simples com uma comicidade surpreendente. São expostos depoimentos de veteranos da mídia brasileira em meio a uma encenação da obra de Jonson dotada de uma agradável musicalidade poética. Apresentando uma temática precisa dentro dos questionamentos no que tange a transmissão de informações, as declarações dos jornalistas deixam clara uma lição importante: existe uma diferença fundamental entre relatar um fato e produzir uma notícia.
Primeiramente discute-se o próprio ofício. O que é um jornalista? O que define um jornalista? Fala-se na função de organizar informações, de identificar e contar as verdades, de se escolher quais verdades contar, de provocar reações com a verdade escolhida, e mais que isso, de fazer conhecer a verdade.
Geneton Moraes atenta para um problema do jornalista experiente: busca-se muito o impressionante, mas ele logo deixa de impressionar porque se perde em meio aos seus semelhantes e o jornalista e acaba descartando notícias que de fato seriam interessantes para seu público. Especialmente agora, na era das surpresas, os acontecimentos seriam espantosos, não fosse a enorme concorrência entre eles. Os noticiaristas encontram aí uma grande batalha pela conservação de sua “inocência” inicial, como apontado pelo profissional. Escolher o que merece se tornar notícia agora é um trabalho extremamente complicado, porque exige um controle da própria mente para que se pense como o público e não se deixe levar pela própria experiência.
Outra dificuldade para a produção noticiária encontrada é o imediatismo. A web como um todo e particularmente as redes sociais transmitem as informações em tempo real, com o qual o jornalista não pode competir se quiser produzir uma notícia com efeito. Isso se deve à diferença fundamental antes mencionada. A notícia requer veículo, requer informação, pesquisa e verificação, não é como a mera divulgação de um fato. É importante conhecer, além do evento em questão, outros acontecimentos relacionados para que assim se componha uma matéria jornalística. E assim entra em cena o repórter: é quem recolhe os fatos, organiza-os e separa os verdadeiros dos falsos.
A segunda esfera considerada é a ética midiática, que confere grande responsabilidade ao profissional da área. O compromisso com a verdade é, em teoria, o que move o jornalista dentro de seu campo, mas com a transformação da notícia em objeto de comércio, esse compromisso pode se perder na busca por uma história fácil de se vender, em vez de uma história verdadeira. Surgiriam então acusações errôneas causadas pela disseminação da falácia - esse é um problema que afeta a imagem do publicado e a credibilidade tanto do jornalista quanto do veículo de suas publicações.
Quando indagados sobre quanto de certeza um jornalista deve ter para fazer uma acusação, os entrevistados responderam unanimemente: 100%. O jornalista precisa de cem por cento de certeza para publicar uma delação.
Comenta-se a importância de uma grande rede de contatos como fontes, principalmente para que se saiba do fato sob o maior número de perspectivas possíveis. A verdade é única, mas pode ser contada de várias maneiras. Cabe ao jornalista filtrar as informações recebidas, verificar os fatos e compor e publicar a notícia de modo imparcial e verídico.
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