A Ameaça Ditatorial da Maioria Evangélica Brasileira
Por: Carolina Rondelli • 1/10/2018 • Artigo • 4.299 Palavras (18 Páginas) • 261 Visualizações
A ameaça ditatorial da maioria evangélica brasileira
Carolina Rondelli
Fernanda de Souza
Renata Canario
RESUMO
A questão religiosa no Brasil é amplamente discutida e possui diversos pontos de
partida para uma análise. O presente trabalho busca discorrer sobre alguns dos pensamentos
de Alexis de Tocqueville, que dizem respeito à “ditadura da maioria”, aplicados ao contexto
evangélico no Brasil e suas relações com as minorias e com o Estado laico. Pretende, também,
expor o quanto a ética cristã tem influenciado a sociedade e tem sido usada como ferramenta
de opressão e disseminação de preconceito, tendo em vista a maioria religiosa no país.
PALAVRAS-CHAVE : Tirania da maioria, Tocqueville, Brasil, evangélicos.
ABSTRACT
The religious issue in Brazil is widely discussed and has several starting points to
analyse. The present work seeks to discuss some thoughts of Alexis de Tocqueville, that
concern to the "dictatorship of the majority", applied to the evangelical context in Brazil and
its relations with minorities and with the secular State. It also intends to explain how the
Christian ethic has influenced the society and has been used as a tool for oppression and
dissemination of prejudice, having in mind the religious majority in the country.
KEY WORDS: Tyranny of the majority, Tocqueville, Brazil, evangelicals.
I. Introdução
Em seu famoso livro Da Democracia na América, Alexis de Tocqueville escreveu a
célebre frase: “Considero ímpia e detestável a máxima de que, em matéria de governo, a
maioria do povo tem o direito de fazer tudo” (TOCQUEVILLE, 2005, p. 294). No Brasil,
vive-se em uma democracia, o que significa que os governantes eleitos através do voto da
maioria da população tomam diversas decisões que causam impactos diretos e/ou indiretos em
toda a nação.
As eleições para que seja feita a escolha dos representantes políticos brasileiros são
vencidas através do voto da maior parcela de população eleitoral direcionada a um dos
candidatos, ou seja, o concorrente político que obtiver a maioria dos votos é eleito. Tal
modelo de eleição acarreta a situação onde uma parcela da população, que é minoria, pode
não estar representada nas casas legislativas. E isso se reflete claramente na situação da
religião evangélica protestante do Brasil.
Sabe-se que, teoricamente, a República Federativa do Brasil é um país laico
constitucionalmente, porém observa-se uma grande contradição no que tange a esse assunto: a
existência de uma bancada evangélica no parlamento. Nessa perspectiva, vive-se nos dias
atuais uma realidade de retrocesso onde os governantes de ideologia evangélica extremamente
conservadora — que não representam a totalidade da população brasileira, e nem sequer toda
a população cristã evangélica nacional — se articulam para discutir temas como o direito ao
aborto, religião, igualdade racial e de gênero, além de se oporem à criminalização da
violência contra minorias homossexuais.
Uma vez que esses governantes são escolhidos por uma maioria, esse grupo
preponderante exerce uma forte influência sobre o que seus representantes decidem. Seja em
passeatas com grande adesão de público ou pesquisas de opinião, a participação política
popular é amplamente significativa. O problema reside no fato de que esse predomínio
conservador, que vem ganhando força no Brasil, usando esse poder de interferência e, aliado à
esses governantes, impulsiona resoluções baseadas exclusivamente em seus valores, suas
proibições e suas tradições.
Grosso modo, esses temas afetam diretamente a população brasileira que, em uma
parte, se sente impotente frente às decisões de representantes políticos pertencentes a essa
parcela parlamentar de ideologia particular. Analogamente, essa coligação ainda rompe com a
laicidade do país, de modo a dar lugar a uma possibilidade de instauração de uma “ditadura da
maioria”, o que segundo Alexis de Tocqueville trata-se um cenário onde as necessidades da
parcela minoritária são consideradas obstáculos para a consolidação da vontade majoritária, e
portanto não são atendidas.
Ademais dos aspectos políticos, podemos analisar que não apenas a bancada
evangélica detém uma grande parte do poder. Por outro lado, o grupo ruralista igualmente
detém a autoridade de controlar grande parte do capital brasileiro, indireta ou diretamente.
Essas comunidades políticas, juntamente com a bancada armamentista, formam o termo
pejorativo BBB (Bíblia, Boi e Bala).
Portanto, o presente artigo provém de um estudo que tem como intuito explorar a
interação política e social
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