A Justiça Platônica
Por: Gabriel Costa • 28/1/2016 • Artigo • 1.872 Palavras (8 Páginas) • 294 Visualizações
A JUSTIÇA
Gabriel Eduardo de Souza Costa[1]
RESUMO
O artigo a seguir foi elaborado com o objetivo de aprimorar os conhecimentos e facilitar o entendimento a respeito das questões filosóficas discutidas no livro A República, de Platão, considerada por muitos a sua obra mais importante. O principal tema abordado no desenvolvimento deste trabalho, será o conceito de justiça e o processo utilizado para chegar nesse conceito, visando torná-lo menos abstrato. É importante ressaltar, que A República se trata de uma obra utópica, e sendo assim, desenvolve seu enredo baseado em utopias platônicas. O conteúdo dessa produção foi composto após a leitura da obra e de textos científicos a respeito dela, juntamente com o conhecimento obtido em sala de aula. O presente trabalho deve estar na voz ativa e na terceira pessoa do singular.
Palavras-chave (até cinco palavras): Platão. República. Justiça.
1 INTRODUÇÃO
Refletir sobre Platão pode ser um grande desafio mesmo nos dias de hoje. Não resta dúvida de que Platão é mesmo considerado o pai da herança intelectual ocidental, um pensador que posicionou a Filosofia em direção que até hoje é seguida.
Platão queria resolver o problema de seu tempo, dessa forma, A República contém diversos temas filosóficos, sociais e políticos entrelaçados. Organizada em dez livros (capítulos), a questão chave é em relação justiça em seu sentido amplo, tema que é discutido desde o primeiro capítulo da obra. É nessa obra que ele expõe seus pensamentos sobre o modelo perfeito de Estado e também é nela que aparece pela primeira vez o "Mito da Caverna".
Durante o decorrer da leitura, Platão apresenta diferentes pontos de vista sobre vários assuntos, através de diversos personagens, sendo Sócrates, a representação das ideias platônicas e o principal interlocutor da obra. A obra em analise faz uso da dialética para chegar a uma verdade. A dialética platônica se baseia em três fundamentos básicos: questionar, refutar e argumentar. E através destes, a verdade absoluta pode ser obtida.
2 DESENVOLVIMENTO (A JUSTIÇA)
Platão (acredita-se que seu nome verdadeiro era Arístocles) foi um filósofo e matemático e viveu no período clássico da Grécia Antiga. Ele nasceu em 428 a.C e morreu em 348 a.C. Foi pupilo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Escreveu diversos diálogos filosóficos e fundou a Academia de Atenas, a primeira instituição de educação superior no mundo ocidental. Platão é considerado um dos pais da Filosofia e suas obras são estudadas até hoje, por pessoas do mundo todo. O livro A República é seu diálogo mais celebre e seu escrito mais extenso, além disso, pertence a chamada “fase da maturidade” platônica.
O Livro um gira em torno da seguinte questão: “O que é a justiça?”. Para responder a esta pergunta, os interlocutores de Platão, em sua maioria, recorrem aos ensinamentos dos poetas, que se referem à prática de justiça, à aparência de justiça e a aplicam aos seus comportamentos na sociedade.
Não só em A República, como também na obra Fédon, Platão divaga sobre seus pensamentos a respeito de virtude, felicidade e justiça. Ele considera que a felicidade só é obtida a partir da renuncia das riquezas e dos prazeres e da dedicação a prática da virtude. Ou seja, segundo seu pensamento, felicidade e justiça caminham juntas. Sendo a justiça definida como: fazer aquilo que é próprio de cada um; e a felicidade como: seguir sua própria natureza. É possível identificar esse paralelo durante a construção da cidade utópica.
Todos os argumentos platônicos tinham como interesse o convívio na cidade, defendendo a ideia de que a justiça deva ser o princípio das relações políticas dos indivíduos, tratando a mesma como um bem coletivo, e não individual.
Em Platão não é possível encontrar uma definição exata para justiça. Ele busca trabalhar esse conceito envolvendo todo o comportamento do ser humano, dessa forma é possível dizer que o a definição de justiça em Platão assume um caráter antropológico. Sua analise da justiça se da através do comportamento do homem justo e do homem injusto:
“Logo, foi para termos um paradigma que indagamos o que era justiça e o que era um homem perfeitamente justo, se existisse, e uma vez que existisse, qual seria o seu caráter e inversamente, o que era injustiça e o homem absolutamente injusto.” (2004, p169).
2.1 CONCEITOS DE JUSTIÇA
O primeiro conceito de justiça a aparecer é dado por Polêmarco, esse sustenta que a justiça consiste em dar a cada um o que lhe é devido: “Portanto, não é esta a definição de justiça: dizer a verdade e restituir aquilo que se recebeu.” (2004, p16). E em fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos: “No entanto, ainda continua a parecer-me que a justiça é auxiliar os amigos e prejudicar os inimigos.” (2004, p19).
Sócrates responde que é necessário antes, distinguir entre os verdadeiros e os falsos amigos e inimigos, pois as aparências podem enganar:
“A quem chamas amigos: aos que parecem honestos a uma pessoa, ou aos que o são de fato, ainda que o não pareçam? E outro tanto direi dos inimigos? (...) Portanto, Polemarco, acontecerá que, para muitos, quantos errarem no seu juízo sobre os homens, será justo prejudicar os amigos, pois são maus a seus olhos, e ajudar os inimigos, pois os têm por bons.” (2004, p20).
O sofista Trasímaco então apresenta o argumento segundo o qual a justiça consiste no interesse do mais forte, ou seja, daquele que detém o poder, já que fazem as leis:
“Certamente que cada governo estabelece as leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os Estados, o que convém aos poderes constituídos. Ora, estes é que detém a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte.” (2004, p25).
Trasímaco passa a defender a superioridade da injustiça sobre a justiça.
Sócrates recusa, com o argumento de que a injustiça enfraquece a ação humana pelas discórdias que gera naqueles que a praticam: “Não concordamos que a justiça é uma virtude da alma, e a injustiça, um defeito? (...) Então, a alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto, mal.” (2004, p42).
E termina o primeiro capítulo afirmando que a injustiça nunca será mais vantajosa que a justiça: “Então jamais a injustiça será mais vantajosa do que a justiça.” (2004, p43).
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