A PROBLEMÁTICA DO MAL EM SANTO AGOSTINHO
Por: Marcos Aurélio de J. Silva • 22/9/2019 • Trabalho acadêmico • 3.168 Palavras (13 Páginas) • 173 Visualizações
FACULDADE SÃO BASÍLIO MAGNO
CURSO: FILOSOFIA
ACADÊMICO: Marcos Aurélio de Jesus Silva
ANO: 2018 PERÍODO/SEMESTRE: 3
A PROBLEMÁTICA DO MAL EM SANTO AGOSTINHO
Introdução
O presente projeto de pesquisa dedica-se ao livro 7 das Confissões de Santo agostinho.
Concernir de fazer uma abordagem, ao longo do livro VII o modo pelo qual se dá a visão do mal em Agostinho; tal obra e, também, o papel determinante que é desempenhado no livre arbítrio.
É possível reconhecer no livro VII do diálogo “ A ideia de Deus e a Origem do mal” uma introdução seguida de três partes: 1º O mal na criação; 2º o mal e o livre arbítrio; 3º A origem do mal. Podemos observar que tal introdução não trata apenas de uma exposição dos principais problemas que serão discutidos no decorrer da obra. Mas, é uma busca, para a compreensão do problema do mal. Através da apriori, Santo Agostinho nos mostra os caminhos percorridos por ele até a obtenção de um pensamento que julgava plenamente satisfatória, tanto para a razão quanto para a fé, do problema do mal.
Através da perscrutação acerca do mal faz-se necessário que busquemos precedentemente um esclarecimento com relação ao que está sendo tratado. Nesta coerência, temos uma contestação acerca do mal em diferentes acepções, a atinar: “o mal físico” e o “mal moral”. O primeiro é atinente à ordem corporal e detém um significado mais especifico sobre a fé, o sofrimento, como consequência do mal moral. Os segundos provem de uma violação voluntaria e livre da ordem desejada por Deus, o pecado (livre arbítrio)
Entretanto a problemática se dá sob os pressupostos da fé cristã, visto que, em momento algum se coloca em dúvida a natureza divina. Neste âmbito, Santo Agostinho propõe a seguinte questão: “se o mal vem por ter sido ensinado”. Isto permite inferir sobre a necessidade de examinar a respeito do que parece ser, na verdade, mais uma forma de isentá-Lo da culpa do pecado. Logo é através da afirmação da instrução como uma dádiva de Deus aos homens que Santo Agostinho nega a possibilidade de provir dele alguma forma de corrupção. Ora, seria então contraditório que através desse bem obtivéssemos algum mal! Em virtude desta circunstância que vemos pela primeira vez a noção de mal como o afastamento do caminho proposto por Deus. De onde provem todo o bem.
Agostinho nos mostra outro bem que é a inteligência, mas ainda se tratando da impossibilidade de se ensinar o mal. Um silogismo ilustra a veracidade de suas afirmações: toda a inteligência é boa; quem não usa da inteligência não aprende; logo, todo aquele que aprende procede bem. E desse modo, encerra a discussão sobre a instrução afirmando a impossibilidade de uma ligação entre o mal e o bem segundo a disciplinam. Aliás, se fosse real esta relação entre o pecado e a instrução isso afastaria dos homens a culpa e os tornaria meros imitadores.
O mal na criação
Agostinho dá uma resposta geral a esta questão no sétimo livro das Confissões, onde ele explica como ele pensou que estava saindo do maniqueísmo. Seu ponto chave é sutil: Deus criou tudo de bom, mas todas as coisas boas que ele criou são corruptíveis. O ponto sutil é que corruptível é diferente de corrompido. Visto que estes dois termos estão relacionados a maneira como a possibilidade está relacionada à realidade: algo corruptível pode ficar mal, mas não pode, enquanto algo corrompido é realmente malvado. Para dizer que Deus criou coisas boas corruptíveis, é assim dizer que ele não fez nada de mal, mas que tudo o que ele fez poderia tornar-se um mal.
7Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate,8mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles.9Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. 9Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos. 12Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí habitais. Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta.
Apocalipse 12,7-9-12
Santo Agostinho averigua o conceito de uma má ação, isto é, trata-se, de fato, quando uma ação é qualificada como má, quais são os parâmetros para tal qualificação. Segundo o mesmo, uma ação pode assim ser classificada se o que a motiva for o Eros. Isto nos instiga a uma altercação sobre as leis com intuito de tornar claro até que ponto podemos considerar a lei humana como juíza de nossas ações. Abordemos então, as duas
[pic 1]
Cf.- Confissões, livro VII: cap. p. 145-149
Cf.- Maria, Ave, Bíblia
formas de leis propostas pelo autor: a lei temporal e a lei divina.
Para o autor, e em concordância com a concepção cristã, os homens são seres finitos, corruptíveis e mutáveis, por esse motivo é imprescindível que sua lei seja da mesma maneira de modo que acompanhe as virtudes humanas. Em consonância, legitimidade da lei jamais poderá ser pensada como injusta e mutável. Portanto devemos ter como regra geral que tudo aquilo que possui aparência justa e legítima na lei humana procede da lei eterna e é em virtude dela que é justo que todas as coisas estejam devidamente ordenadas. É por isso que o conceito humano não pode servir de fundamento para prática das más ações.
Então, por que Deus criaria coisas corruptíveis? A resposta, é que tudo, que é diferente de Deus é corruptível, porque tudo diferente de Deus é criado, e ser criado é ser mutável - e ser mutável é ser corruptível. Se você pode mudar, Agostinho pensa, então você pode mudar para pior. Somente Deus é incapaz de ir mal, porque somente Deus é eternamente, imutável, incorruptível, bom. Logo todas o ser é corruptível porque é mutável.
7Filhinhos, que ninguém vos desencaminhe. O que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.
8Aquele que comete o pecado é o diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. 1ª João 3, 7-8
Não raro quando Agostinho fala de mudança (“ou mutabilidade, como a palavra é traduzida”), ele tem em mente uma espécie de fraqueza, uma vulnerabilidade à corrupção e ao não-ser, inerente a qualquer coisa que surgir. Logo o que vem a existir habita o mundo do tempo e muda onde as coisas não podem simplesmente nascer, “tudo flui nada permanece” mas envelhecem, se arruínam e morrem. Uma vez que somente Deus possuiu o “ser” eterno em si mesmo, inegavelmente só Deus é livre de toda possibilidade de corrupção.
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