ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Por: g.silva2 • 23/3/2021 • Exam • 1.000 Palavras (4 Páginas) • 162 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Giovanna Vitória da Silva
LEITURA E ANALISE DA OBRA ÁGUA VIVA DE CLARICE LISPECTOR
Temas Contemporâneos da Filosofia II: Henry Burnett
Filosofia
Guarulhos/SP
2021
INTRODUÇÃO – CONTEXTO
A obra intitulada Água Viva é o sétimo Romance de Clarice Lispector e foi publicada em 1973, após certa relutância da autora, que buscou a opinião de amigos próximos antes de torná-la pública. Água Viva, a priori, Objeto Gritante, é o resultado formal do amadurecimento de pequenas crônicas que ao longo dos anos foram publicadas por Clarice Lispector em sua coluna no Jornal do Brasil. Embora seja o trabalho mais curto de Clarice, Água Viva teve três anos de lapidação e trabalho antes de sua versão final.
ANALISE DE ÁGUA VIVA – Clarice Lispector
Acerca da conversa com a arte não falada
Compreender o livro de Clarice Lispector e lidar com a dúvida de não poder classifica-lo é apenas o primeiro passo para uma vasta leitura, que embora exprimida em um curto livro, é ampla em sentidos e interpretações. Chamá-lo de Romance Psicológico é reduzi-lo a uma nomenclatura apenas para poder defini-lo algo, como a própria escritora previa.
Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo. (LISPECTOR,2019. pág. 6)
Água Viva é uma obra que desafia os elementos narrativos, se dissolve em tempo, personagem e enredo, restando apenas o eu-lírico que se dirige ao tu — um receptor não identificado — fazendo com que a estética se assemelhe a prosa. A obra não permeia a vivencia e o que acontece ao redor da narradora, e sim sobre questões não palpáveis que são apresentadas por ela. A falta de uma ordem lógica torna cada capítulo da obra uma pintura única que capta instantes; o todo se fragmenta em pequenas partes, que abordam de maneiras diversificadas um mesmo tema. O instante. Tal forma de escrita cria uma atmosfera simples e natural, como se cada palavra fosse espontânea do pensamento da narradora. Em um exercício de meditação a personagem principal reflete sobre a dificuldade de captar a quarta dimensão do instante-já, que como dito por ela de tão efêmero já não mais, se tornando um novo instante-já, que também já não é mais.
Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. (LISPECTOR, 2019. pág. 13)
A forma com a qual a personagem-narradora lida com suas próprias palavras é de maneira sutil como um fraseado Jazzico, onde os instrumentos (palavras) vão se encaixando de maneira improvisada resultando no produto final, que é a música, ou nesse caso, a carta.
Escrevo-te à medida de meu fôlego. Estarei sendo hermética como na minha pintura? Porque parece que se tem de ser terrivelmente explícita. Sou explícita? Pouco se me dá. Agora vou acender um cigarro. Talvez volte à máquina ou talvez pare por aqui mesmo para sempre. Eu, que nunca sou adequada. (LISPECTOR, 2019. pág. 38)
Acerca do título
Dor é vida exacerbada. (LISPECTOR, 2019. pág.44)
É perceptível que o grau de intimidade de cada leitor para com a obra difere entre si. Afinal, ele não nos apresenta personagens imagináveis, na verdade, por estabelecer um monólogo onde o eu — a voz narrativa — parece se comunicar com o tu — que vez ou outra se confunde com o leitor — o texto tende a romper a quarta parede que separa ficção e realidade, nos levando a sentir como o interlocutor a quem a mensagem é destinada.
Partindo desse ponto, procurar entender mesmo o título Água Viva em uma perspectiva racional, torna-se uma tarefa frívola e inconsistente, portanto, a visão apresentada a seguir será uma visão pessoal acerca da minha interpretação quanto o título da obra.
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