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O ARCHÉ: O INÍCIO DA BUSCA PELO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DAS COISAS

Por:   •  29/9/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.803 Palavras (12 Páginas)  •  143 Visualizações

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ARCHÉ: O INÍCIO DA BUSCA PELO PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DAS COISAS

Leonardo de Oliveira Dias1

Resumo: Esta pesquisa aborda o decorrer da busca humana pelo princípio fundamental das coisas, perpassando o mito até a concepção de uma substância primordial, identificando os principais filósofos chamados pré-socráticos, que foram os iniciadores da ideia da causa primeira, como também suas conclusões a esse respeito.

Palavras-chave: Arché; Princípio fundamental das coisa; Substância primordial; Mito; Tales de Mileto; Anaximandro de Mileto; Heráclito de Éfeso; Pitágoras.

Introdução

Desde os primórdios do ser humano, é possível identificar uma constante busca pelo esclarecimento a respeito de onde vimos. Essa busca ocorreu de diferentes formas, dentre elas, se compreende que o mito está relacionado com a primeira forma de resposta, afinal, está presente em diferentes épocas, diferentes culturas, sociedades e grupos, mesmo que primitivos. O mito surge com a proposta de explicar a realidade por meio de outra realidade, a qual é concebida por meio da assimilação entre seu caráter simbólico e concreto. Com o "nascer" da filosofia, tal busca passou a reconhecer outra possível manifestação de nossa essência, algo de onde as coisas vinham, pois delas faz parte, e nele, tais coisas terão seu fim, esse é o momento que surge a ideia de que “tudo é um”. Logo mais, a isso chamarão de arché, há divergências a respeito de quem tenha empregado esse termo, enquanto afirmam que se trata de um termo originalmente aristotélico, atribuindo à Teofrasto2, outros reivindicam por meio dos escritos do próprio Teofrasto, que este fora empregado por Anaximandro, no entanto, não é o objetivo deste artigo trazer uma resolução quanto a isso.

O princípio (arché) é o constitutivo das coisas “quer nos termos de uma “substância” permanente, como uma natureza (phýsis)que se conserva sempre” (SPINELLI, 2007). Quando tratamos da arché, estamos se referindo à “ciência de que as coisas que existem têm um princípio constitutivo de sua existência, e que esse princípio é a sua natureza (archên tês phýseôs), ou seja, é aquilo que, no processo da geração, se conserva inalterável (‘...é o termo

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1 Acadêmico do primeiro nível do curso de filosofia da UPF.

2 Teofrasto (C. 372–287 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga, sucessor de Aristóteles na escola peripatética.

primeiro de sua geração e o termo final de sua deterioração’)” (ARISTÓTELES apud SPINELLI, 2007).

A busca do princípio por meio do mito

Como forma de explicar a realidade ao redor, com maior vigor na Grécia antiga, surgiram os mitos, algo inqualificável, porém, que pode vir ao nosso conhecimento por meio de uma razão que quer aprender o real como algo que se distancia da abdução lógica, ganhando sentido em si mesmo, e não somente por elementos próprios da nossa natureza evidente. No entanto, para que haja a sua compreensão, é necessário que o simbólico se relacione com a realidade, pois, o que o mito traz em seu desenvolver, não consiste em algo literal , tal qual nós gaúchos usamos de um dizer simbólico como “uma vez uma velha morreu com uma cuia na mão” para nos referirmos à demora como que o chimarrão está sendo bebido, assim também o mito se comporta, nos querendo comunicar algo por meio de uma narrativa fantasiosa.

Lourenço Leite, em seu livro Ensaio sobre a Gênese da Mitologia Grega como Introdução à Filosofia, afirma que a compreensão do mito ocorre na “passagem do concreto (corpo) para o simbólico (espírito)”. Embora estejamos em uma era de grande avanço científico, algumas perguntas existenciais, ou seja, de caráter profundo que nos surgem, ainda não foram respondidas, de certa forma, a nossa razão se encontra incapaz de compreender totalmente todas as coisas, nesse sentido, “Os mitos servem para auxiliar no conhecimento das realidades mais complexas”.

Para contar quem foi Santo Agostinho, fala-se sobre qual era sua profissão, como foi sua conversão, o que ele fez como bispo e filósofo e quais encargos recebeu em vida. Ou seja, a essência da vida de Santo Agostinho é sua história, bem como de qualquer outra pessoa.

As histórias entram em contato com o centro da vida humana. As histórias são mais tocantes para as pessoas do que termos técnicos (BRASIL PARALELO, 2021).

Assim eram concebidas as narrativas, em essência, como forma de abordar o princípio e razão das coisas, tais como elas são, embora carente de conceitos técnicos, proporcionando à consciência dos ouvintes a profundidade dessas.

Quanto à geração de todas as coisas, dentro da mitologia grega, isso ganha seu sentido a partir da divindade de nome Caos, que vivia, desde sempre, só e sem que nada existisse à sua volta, na ausência de tempo, em pleno vazio sem começo e sem fim. Ele é o responsável

por gerar Gaia, aquela que viria a ser a base do mundo, e que, posteriormente, continuaria a sua criação. O princípio das coisas, de certa forma, se encontra a partir dos deuses e suas relações/vontades. O que podemos contemplar, é que ante ao desconhecido, que passa a ser um mistério, uma vez que a racionalidade humana ainda não o trouxe à compreensão, o mito se responsabiliza por saciar “o coração humano pela demonstração do mistério em sua linguagem simbólica.” (LEITE, 2001). Nesse sentido, não se pode afirmar que a filosofia posterior, superou o mito em geral, uma vez que o mito se trata do prelúdio da filosofia, o que se concretiza no caso específico do objeto de estudo deste artigo, quando (embora o mito da geração não tenha definido exatamente uma substância presente em toda a criatura, da qual foram geradas todas as coisas), por meio da sua linguagem simbólica, nos remete à indução da providência de um princípio fundamental comum.

Filosofia da “Physis”: Água como princípio fundamental

O significado da palavra physis está diretamente relacionada à natureza, onde as coisas estão situadas a todos no mundo em que habitamos, a totalidade do real. A filosofia da physis, por sua vez, está na afirmação de uma substância (princípio) originária dessa totalidade, substância essa da qual tudo deriva, ou seja, foi meio da filosofia da physis que os filósofos pré-socráticos buscaram compreender a origem do mundo, as mutações da natureza e suas causas.

Se tratando de filosofia da physis, logo se deve recordar de Tales de Mileto3, afinal, fora pioneiro quanto à afirmação de um princípio originário único, o que fará Aristóteles referir-se a Tales como archégòs philosophías, o iniciador da filosofia (ARISTÓTELES apud SPINELLI, 2007). Diante da questão do princípio fundamental das coisas, é na physis que Tales procura a sua resposta, vindo a expressar o “princípio” (arché) com a própria palavra physis, no sentido de uma substância primordial, ou seja, “é aquilo que é primário, fundamental e persistente, em oposição àquilo que é secundário, derivado e transitório” ( BURNET, 1994). Rompendo com as narrativas fantásticas utilizadas para a apresentação de conhecimento, Tales isso faz com base em seu raciocínio lógico e construção de argumentos consistidos na razão. Nesse sentido, ele identifica a “água” como “princípio” (arché), com

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