Resenha de " a formação discursiva " Foucault

Cap 2 - As formações discursivas - resenha .

O conceito de " formação discursiva " é fundamental para entender o que Foucault compreende por arquelogia . É um conceito original que se afasta da análise kantiana onde essa se apóia nas formas a priori e no seu conteúdo , ou seja , o material empírico . Tampouco se refere ao fato de um discurso ser produzido por alguém ou algo . Importa sim o modo como o discurso se adequa a conteúdos concretos , isolando temas e objetos, o modo como o mesmo se mobiliza no tempo se adaptando a práticas e aos problemas de cada época .

Iniciando o capítulo , o autor pergunta sobre o que caracteriza o objeto do discurso, “primeira hipótese – a que me pareceu inicialmente a mais verossímil e a mais fácil de provar: os enunciados, diferentes em sua forma, dispersos no tempo, formam um conjunto quando se referem a um único e mesmo objeto” , mas logo depois desse trecho  ele percebe que não pode agrupar o objeto " loucura" num conjunto de enunciados constante e único .

Pois, se a psicopatologia foi aquilo que se falou sobre ela , usando para tanto técnicas e tecnologias para internamento e terapia , é evidente , portanto , que afirmar que exista uma unidade no objeto " loucura " é impossível. Ou seja , o conjunto de enunciados sobre a " loucura " não falavam do mesmo objeto em épocas diferentes.

Logo em seguida , Foucault  pergunta quem enuncia os discursos. “Segunda hipótese para definir um grupo de relações entre enunciados: sua forma e seu tipo e encadeamento” . Esta hipótese revela a tentativa do autor de encontrar num discurso específico , como o discurso do  político , um estilo único de encadear os enunciados . Mas essa hipótese foi demolida ao se observar a história da medicina.

A terceira hipotése problematiza os conceitos: “não se poderiam estabelecer grupos de enunciados, determinando-lhes o sistema dos conceitos permanentes e coerentes que aí se encontram em jogo?” Mas essa igualmente não se sustentou . Porque tentando fazer uma espécie de " genealogia " dos conceitos expressos em um discurso , percebe-se que cada escola de pensamento, ou até mesmo dentro de uma mesma escola em momentos diferentes, sempre haverá conceitos que se opõem ou que são completamente incompatíveis.

“A quarta hipótese para reagrupar os enunciados, descrever seu encadeamento e explicar as formas unitárias sob as quais eles se apresentam: a identidade e a persistência dos temas”. Neste ponto, se encontra a hipótese do discurso como algo baseado numa teoria.

"Foucault mostra que, a partir de um único tema (que é o próprio evolucionismo) emergem duas escolhas estratégicas: se no início do século XVIII o evolucionismo tem mais a ver com uma ideia de evolução linear interrompida unicamente por catástrofes naturais, no século XIX a teoria se dá mais na relação das espécies descontínuas com o meio do que em sua suposta continuidade (já considerada desnecessária)."

Portanto,

"estaríamos errados, sem dúvida, em procurar na existência desses temas os princípios de individualização de um discurso. Não seria mais indicado buscá-los na dispersão dos pontos de escolha que ele deixa livres? Não seriam as diferentes possibilidades que ele abre no sentido de reanimar temas já existentes, de suscitar estratégias opostas, de dar lugar a interesses inconciliáveis, de permitir, com um jogo de conceitos determinados, desempenhar papeis diferentes? Mais do que buscar a permanência dos temas, das imagens e das opiniões através do tempo, mais do que retraçar a dialética de seus conflitos para individualizar conjuntos enunciativos, não poderíamos demarcar a dispersão dos pontos de escolha e definir, antes de qualquer opção, de qualquer preferência temática, um campo de possibilidades estratégicas? " .