TREM NOTURNO PARA LISBOA
Por: Cassol1000 • 3/5/2015 • Resenha • 4.068 Palavras (17 Páginas) • 358 Visualizações
TREM NOTURNO PARA LISBOA
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Trem Noturno para Lisboa
Nome Original: Night Train to Lisbon
Ano: 2013
Elenco: Jeremy Irons, Bruno Ganz, Lena Olin
Duração: 111 min
País: EUA, Alemanha, Suíça
Classificação: 14 anos
Gênero: Drama
Crítica: Trem Noturno para Lisboa
Um professor suíço embarca em uma viagem inesperada para Lisboa em busca da história do filósofo Amadeu de Prado, descobrindo a si mesmo. Leia mais.
Nós deixamos parte de nós para trás quando deixamos um lugar.
Você já parou para pensar como chegou até onde está? Cada uma das influências e das pessoas que garantiram – direta ou indiretamente – que você seja quem você é?
É sempre interessante observar como uma história se forma e influência a tudo. “Trem Noturno para Lisboa” (“Night Train to Lisbon”) é um filme que entre assuntos de ditadura e revolução, dá espaço para muita filosofia e trata de relações entre pessoas, mostrando como por vezes a ausência, tanto quanto a presença, é uma das influências que mais molda a vida de todos a nosso redor.
A direção é do dinamarquês Bille August (de “A Casa dos Espíritos”, 1993), com roteiro baseado no livro de mesmo nome de Pascal Mercier (edição nacional pela Ed. Record).
Raimund Gregorius (Jeremy Irons) é um professor suíço que vive uma vida pacata, sem grandes emoções. Um dia, a caminho do trabalho, salva uma mulher que estava prestes a se jogar de uma ponte (Sarah Bühlmann). A estranha desaparece sem qualquer explicação, deixando para trás um casaco com um livro e uma passagem para Lisboa. Encantado pela vida tempestuosa e pelos pensamentos filosóficos do autor do livro, Amadeu de Prado (Jack Huston), Raimund segue para Lisboa, onde começa a investigar quem ele era. Conforme explora mais da filosofia de Amadeu e descobre seu papel da Resistência contra a ditadura de Salazar, décadas antes, o professor entra em uma jornada que lentamente o faz entender mais sobre a sua própria vida.
“Trem Noturno” coloca Raimund encontrando figuras que o ajudam em sua investigação sobre o falecido Amadeu, como sua irmã Adriana (Charlotte Rampling) ou o companheiro de revolução João Eça (Tom Courtenay) e sua sobrinha Mariana (Martina Gedeck). A narração funciona em dois tempos: conforme Raimund investiga e encontra seus próprios conflitos e dúvidas, cada conversa nos mostra flashbacks que, pouco a pouco, adicionam mais peças no quebra-cabeça da vida de Amadeu.
Há uma boa construção de história aqui, uma vez que essa montagem é fora de ordem, muito mais baseada em experiências de cada interlocutor do que na sequência histórica. Não demora em nos aproximarmos de Amadeu, de modo que a certa altura, mais do que o assunto central da trama, ele é tão protagonista quanto Raimund.
O drama é interessante e envolvente, apimentado por romances e pela perseguição do PIDE, a polícia política atuante na ditadura de Salazar, mas o melhor é o próprio Amadeu e sua filosofia. Antes de membro da resistência política, o personagem é médico e filósofo, deixando para Raimund – e o público, por extensão – vários conceitos interessantíssimos que acabam por ditar os caminhos do filme.
Uma de suas máximas principais é que “Nós deixamos parte de nós para trás quando deixamos um lugar. Nós permanecemos ali, apesar de irmos embora.” A trama é basicamente um exemplo desse conceito, mostrando como a ausência de Amadeu influenciou seus amigos e parentes, depois de sua presença já ter ditado os principais fatos do enredo. Raimund experimenta a mesma sensação quando se afasta de seu país-natal em uma aventura sem um objetivo claro e descobre o quanto isso muda a ele mesmo.
Ainda que a filosofia de Amadeu seja muito interessante e seu modo de ver o mundo contagiante, Raimund se vê incapaz de ter a mesma intensidade em sua vida, a não ser pelo texto do revolucionário falecido. O problema aqui é que nem sempre essa intensidade que o professor vê fica clara para a plateia. Não conseguimos em “apaixonarmos” da mesma maneira, então há dificuldade em nos conectarmos com o que ele sente.
Talvez por culpa de decisões de direção ou de montagem, há a curiosidade e sem dúvida existem emoções fortes, mas mais de uma vez ficamos nos perguntando – afinal, o que há de tão interessante nesse passado que nos valeria tanto a pena? A revolução em si muitas vezes perde o fervor e ganha ares empoeirados de livros de história, apagada pelas personalidades de Amadeu e seus companheiros.
O foco no drama tira atenção da tensão da época. A vida de Amadeu é muito interessante pelas suas relações com seus personagens e por sua filosofia, mais do que pelos seus atos. Existem algumas poucas cenas marcantes em que nos lembramos do impacto e das consequências da ditadura, mas são bem pontuais.
Além disso, toda a internacionalidade da trama – um suíço em Portugal – fica um pouco estranha com quase todos os diálogos acontecendo em inglês. Há um sotaque, claro, e é justificável até certo ponto manter a língua inglesa, mas perdeu-se a oportunidade de explorar os flashbacks com a língua da “Terrinha”. No geral, com exceção de frases soltas, todos os personagens falam inglês e pronunciam apenas nomes de lugares e pessoas com sotaque lusitano.
Não só isso, ainda que o elenco seja ótimo – inclusive, deixo um elogio para a ótima escolha de casting para versões dos personagens em diferentes épocas -, fica óbvio que a maioria deles não é portuguesa. Se Tom Courtenay engana como o velho João Eça, Christopher Lee não funciona tão bem como o padre Bartolomeu.
Uma experiência diferente e interessante, explorando temas, locais e épocas que o cinema muitas vezes passa longe. Não espere emoções fortes, especialmente com o ritmo lento nas quase duas horas de projeção, mas sim uma história introspectiva sobre mudanças profundas, mas silenciosas.
Fonte: http://alemdooscar.pop.com.br/critica-trem-noturno-para-lisboa/
CONTEXTO DO FILME:
Como o filme está inserido no contexto O “Salazarismo” foi uma das mais longas ditaduras do século XX, inspiradas no modelo fascista, durou de 1933/1974, terminando com a chamada REVOLUÇÃO DOS CRAVOS DE 25/04/1974, se impõe para melhor compreensão que se conheça algumas informaçôes históricas pertinentes.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_Novo_%28Portugal%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_25_de_Abril_de_1974
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