A FORMAÇÃO TERRITORIAL DA COLONIA ALEMÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E O SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Por: Carlos Alexandre dos Santos • 21/3/2020 • Artigo • 2.384 Palavras (10 Páginas) • 301 Visualizações
UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
CARLOS ALEXANDRE DOS SANTOS
A FORMAÇÃO TERRITORIAL DA COLONIA ALEMÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E O SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
SÃO LEOPOLDO - RS
2019
A FORMAÇÃO TERRITORIAL DA COLONIA ALEMÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E O SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido Mendes - UCAM, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Geografia Física e das Populações.
SÃO LEOPOLDO - RS
2019
A FORMAÇÃO TERRITORIAL DA COLONIA ALEMÃ NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E O SURGIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR
CARLOS ALEXANDRE DOS SANTOS [1]
RESUMO
O presente artigo tem como tema a formação territorial da colônia alemã no Estado do Rio Grande do Sul e o surgimento da agricultura familiar após o processo de chegada dos imigrantes alemães. O objetivo deste artigo é compreender os elementos históricos, sociais e econômicos que possibilitaram o êxito das primeiras famílias de imigrantes que atreladas ao trabalho da terra já desde sua terra natal, tornaram-se agricultores até então em um território hostil. O estudo também investiga a importância das dinâmicas de convivência estabelecidas no meio rural e como tais processos foram de suma importância para a sobrevivência do estilo de vida do imigrante agricultor mesmo dentro de um capitalismo concorrencial e tecnológico vigente nos dias atuais.
Palavras-chave: Imigração alemã. Colônia alemã. Agricultura Familiar. Identidade camponesa. Economia rural.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objeto de investigação, a formação territorial da colônia alemã no Estado do Rio Grande do Sul e pretende compreender, quais elementos históricos, sociais e econômicos que possibilitaram o êxito destes imigrantes agricultores ao longo do tempo, sobrevivendo inclusive dentro de um modelo de agricultura familiar atrelado ao capitalismo contemporâneo.
Compreender o camponês como unidade subjetiva teleológica como sugere Abramovay (1998) significa, portanto, que este sujeito está em constante criação de sua existência. Ou seja, o camponês constrói a si mesmo, e esta construção está diretamente vinculada a adaptação ao meio do qual ele está inserido.
Portanto, ao adentrarmos na concepção do trabalhador rural contemporâneo, utilizando os imigrantes trabalhadores rurais da colônia alemã do Estado do Rio Grande do Sul como foco de análise, devemos primeiramente superar elementos analíticos que são oriundos de um período do qual o trabalhador rural estava isolado da sociedade e praticava apenas uma economia de subsistência. Assim, foram reunidos elementos históricos importantes para compreender o trabalhador rural na contemporaneidade que nos possibilitam ter uma visão ampla sobre a atividade rural no presente.
HISTÓRIA SOCIAL E ECONÔMICA DAS COLONIAS ALEMÃS NO RS
Para compreender o presente, é preciso, em um primeiro momento, recorrer ao passado. O meio rural foi por um longo período no Brasil o alicerce da nossa estrutura social. Isto, não foi diferente com a chegada dos primeiros imigrantes alemães, os quais se estabeleceram fora das áreas urbanas. Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil nos oferece uma reflexão acerca da importância da compreensão histórica do meio rural,
Toda a estrutura de nossa sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos. É preciso considerar esse fato para se compreender exatamente as condições que, por via direta ou indireta, nos governaram até muito depois de proclamada nossa independência política e cujos reflexos não se apagaram ainda hoje. (HOLANDA, 2016, p. 85).
Atraídos pela melhora das condições de vida e pela oportunidade de ter suas próprias terras, os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Brasil em 1824. O Brasil com sua independência proclamada em 1822, necessitava proteger e expandir seus territórios até o Rio da Prata, e com uma maioria de população escrava, era evidente o medo de utilizar escravos como soldados nesta ardilosa tarefa. O plano do império brasileiro foi povoar ente outras regiões, os rincões inabitados do Estado do Rio Grande do Sul. (Schneider, 1999).
Os imigrantes alemães recém-chegados logo tiveram que se adaptar ao clima subtropical e também, com os intensos períodos de trabalho em meio à floresta a fim de abrir caminho na mata. Desta necessidade de adentrar a densa floresta para encontrar locais aptos à moradia, surge a designação “picadas” e “linhas” tema este, que o historiador Martin Dreher aborda em seu livro 190 anos de imigração alemã no Rio Grande do Sul. Esquecimentos e Lembranças:
A designação “picada” veio da forma como se deu a penetração da floresta: Abrindo com os meios disponíveis (facões, machados) trilhas ao longo das quais, a uma distância aproximada de 300 metros, eram assentadas as famílias. (DREHER, 2014, p. 116).
Deste esforço laborioso do colono alemão para abrir caminho em meio à floresta surgiram nomes de várias localidades e cidades do Rio Grande do Sul, como, Picada Café, Linha Nova, Linha Bonita, Linha Comprida etc. Estes pequenos aglutinamentos de colonos alemães, foram cruciais para o surgimento de pequenas propriedades com o fim de produção de alimentos, em uma agricultura inicialmente de subsistência. Estas propriedades foram de extrema importância para o desenvolvimento econômico de algumas regiões até então inabitadas. “Dessa necessidade e da necessidade de produção de alimentos para o mercado interno surgiu o novo modelo econômico para o Brasil” (Dreher, 2014 p.117).
As pequenas propriedades familiares de produção agrícola não apenas foram importantes para manutenção do território do Brasil império, mas também para a nova dinâmica de produção de alimentos, ao passo que vendiam o excedente que não era consumido pelas famílias oriundas destas pequenas propriedades. O Brasil, até então exportador de monoculturas, carecia de diversidade na produção de alimentos. Assim, de acordo com (Dreher, 2014),
A estrutura desta pequena propriedade familiar permitiu alimentação farta e diversificada para a família, mas também a produção de excedentes que puderam ser colocados à disposição do mercado interno, o que proporcionou bem-estar, pois o Brasil era o país de monoculturas para exportação: café, açúcar, algodão, importando tudo o mais. (DREHER, 2014, p. 117)
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