Brasília
Tese: Brasília. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rogomess • 5/11/2014 • Tese • 4.624 Palavras (19 Páginas) • 267 Visualizações
Brasília
Brasília talvez seja a experiência onde os princípios da Carta de Atenas (que fornece uma síntese do ideário do urbanismo modernista) foram mais aplicados em seu conjunto.
Segundo James Holston ("A cidade modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia"), Brasília demonstra bem as intenções políticas radicais do modernismo, de substituir o capitalismo por uma nova ordem social coletivista, além de constitui a expressão máxima da Carta de Atenas, com a intenção de se construir uma nova forma construída que daria origem a uma nova sociedade, sem referências à história.
É uma expressão da descontextualização total proposta pelo movimento modernista, onde um futuro utópico se torna o meio para se atuar sobre o presente, sem nenhuma referência ao contexto histórico (a tradicional sociedade brasileira altamente segregada em classes seria substituída por uma sociedade igualitária, com todos vivendo em habitações com as mesmas características). Se relaciona também à negação do legado português proposta pelo modernismo brasileiro.
O plano piloto reflete os princípios básicos da Carta de Atenas de separar as quatro principais funções da cidade em espaços bem delimitados para tal:
- o habitar nas super-quadras nas asas sul e norte;
- o trabalhar no eixo monumental e nas áreas comerciais adjacentes às super-quadras;
- o recrear nos parques e no lago Paranoá;
- e o circular no eixão e nas diversas vias previamente concebidas para a livre circulação de automóveis que se espalham por todo o plano numa estrutura viária bem hierarquizada (desde a estrada, no eixão, até as pequenas vias internas às super-quadras que dão acesso aos diferentes blocos e seus estacionamentos respectivos).
Outros elementos da Carta de Atenas presentes no plano piloto:
- Os livres espaços ao redor dos edifícios residenciais, entre os blocos e entre as super-quadras, permitidas pela verticalização
- A eliminação de cruzamentos viários (e consequentemente das esquinas) e sua substituição por “mudanças de níveis” que permitem uma “circulação contínua” do tráfego.
- As vias de grande circulação são isoladas por grandes áreas verdes (gramadas).
- A eliminação das calçadas e a total separação das áreas de circulação de automóveis e de pedestres
- A pretensa homogeneidade nas condições de habitação para todos os moradores da cidade
- O distanciamento dos edifícios residenciais das grandes vias de circulação
- O espaço do lazer pensado em diversas escalas: pontualmente na proximidade do uso residencial (playgrounds para crianças, quadras etc.) até a escala da cidade como um todo (o “parque da cidade” ou o lago Paranoá)
-Uma pretensão (no plano) de total subordinação dos interesses privados aos interesses coletivos.
Brasília é considerada por alguns autores como a metrópole incompleta, por não passar pelo processo que tradicionalmente transforma a cidade em metrópole: a industrialização.
Desde o seu planejamento, Brasília não é pensada para abrigar indústrias (assim como Belo Horizonte), atividade que seria incoerente com a função política, gerando uma desordem indesejada na cidade.
Entretanto, a cidade apresenta uma dinâmica populacional, e de organização de seu espaço urbano, tipicamente metropolitanas, apresentando problemas que também são normalmente presentes nas grandes metrópoles industrializadas.
Dois grandes blocos de texturas urbanas presentes em Brasília: o plano piloto, rigidamente planejado, com infra-estrutura totalmente instalada e um alto grau de coesão interna; e por outro lado, o entorno do plano piloto, composto por partes distintas umas das outras, mas com características em comum: foram constituídas por um processo de urbanização espontânea, muitas vezes irregular, com carências graves de infra-estrutura e uma falta de coesão interna, formando tecidos altamente fragmentados.
Questão para debate: Brasília foi uma experiência de um período da história do urbanismo que já foi superado, entretanto, o legado da cidade permanece, com sua rigidez marcante, não permitindo a incorporação no ambiente construído segundo o plano as dinâmicas atuais, e constantemente expulsando essas dinâmicas para seu entorno. O que fazer? Como re-pensar a cidade de Brasília hoje para re-planejar seu espaço em função do momento atual?
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Trechos selecionados da Carta de Atenas (disponível na íntegra em:www.vitruvius.com.br/documento/patrimonio/patrimonio02.asp )
Primeira Parte / Generalidades
No decorrer da História, circunstâncias particulares determinaram as características da cidade: defesa militar, descobertas científicas, administrações sucessivas, desenvolvimento progressivo das comunicações e dos meios de transporte (rotas terrestres, fluviais e marítimas, ferroviárias e aéreas).
A história está inscrita no traçado e na arquitetura das cidades. Aquilo que deles subsiste forma o fio condutor que, juntamente com os textos e os documentos gráficos, permite a representação de imagens sucessivas do passado. Os motivos que deram origem às cidades foram de natureza diversa. Por vezes era o valor defensivo. E o alto de um rochedo ou a curva de um rio viam nascer um pequeno burgo fortificado. Ás vezes, era o cruzamento de duas rotas, unia cabeça de ponte ou uma baía do litoral que determinava a localização do primeiro estabelecimento. A cidade era de formato incerto, mais freqüentemente em círculo ou semicírculo. Quando era uma cidade de colonização, organizavam-na como um acampamento, com eixos de ângulos retos e cercada de palíçadas retilíneas. Tudo nela era ordenado segundo a proporção, a hierarquia e a conveniência.
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