O Caso do Bairro Hípica/Aberta dos Morros

Gabriel Vieira Pinheiro – 00326317

Evolução do Espaço Geográfico: O Caso do Bairro Hípica/Aberta dos Morros

O Espaço Geográfico, como uma categoria de análise na geografia, transcende a mera descrição de características físicas. De acordo com as proposições de Milton Santos, o espaço é uma totalidade em constante movimento, moldado pela interação entre sistemas de objetos e sistemas de ações. Essa definição abrange não apenas aspectos físicos, mas também sociais e históricos, tornando-o essencial para a compreensão da sociedade.

Seguindo a teoria de Santos, o espaço geográfico é compreendido por meio de categorias como "Sistemas de Objetos" e "Sistemas de Ações." Os primeiros referem-se à configuração territorial, que inclui sistemas naturais e intervenções humanas. Por outro lado, os "Sistemas de Ações" representam as dinâmicas sociais e históricas que ocorrem nesse espaço. É na interseção dessas categorias que a verdadeira essência do espaço geográfico é revelada.

Neste estudo de caso, analisaremos a evolução do bairro Hípica/Aberta dos Morros, localizado em Porto Alegre, onde resido há vinte anos. Este bairro oferece um exemplo vívido de como as categorias propostas por Milton Santos podem ser aplicadas na compreensão das transformações do espaço geográfico ao longo do tempo.

Quando minha família e eu nos mudamos para este bairro, eu tinha apenas dois anos de idade. Naquela época, a região era prioritariamente rural, caracterizada por vastas áreas não habitadas. Fomos uns dos primeiros a morarmos aqui, em meio a outras poucas casas. Não existiam mercados ou centros comerciais nas proximidades. A escola local oferecia ensino apenas até a 4ª série, e os ônibus passavam com uma frequência de aproximadamente uma hora. As ruas eram de chão batido, o que modelava completamente as dinâmicas sociais e nossa relação com o espaço.

Naquela época, era necessário sair de casa cedo e voltar tarde devido aos horários dos ônibus. Fazer compras, buscar educação, saúde, lazer e acessar centros comerciais significava percorrer quilômetros. Bem ao lado de casa tinha um criação de gado e próximo um centro de hipismo, onde quando criança andava a cavalo, no bairro tinha uma sensação de segurança única, onde brincar na rua era comum e todos se conheciam.

Hoje, o cenário do bairro é radicalmente diferente. Prédios estão surgindo, supermercados estão a uma curta caminhada de distância, farmácias e centros comerciais estão cada vez maiores e diversificados. Os ônibus passam a cada 10 minutos, e a escola local expandiu para incluir o ensino até o 9º ano, devido à crescente demanda.

Esse desenvolvimento não é apenas resultado de fatores internos. O crescimento da sociedade fora deste bairro e a crescente busca por maior contato com a natureza serviram de catalisadores para esse progresso. Condomínios destinados a pessoas de maior poder aquisitivo, em busca de uma qualidade de vida superior, surgiram em resposta a essa demanda. Isso não só atraiu novos residentes como também fomentou a criação de comércios voltados para esse público. Produtos e serviços que antes eram inexistentes na região agora são facilmente encontrados.

Essas mudanças trouxeram consigo melhorias e novos desafios. As ruas que eram de terra batida agora são asfaltadas, e o tráfego intenso durante os horários de pico é uma realidade. As casas, que costumavam ser abertas e acolhedoras, agora são protegidas por muros altos, grades e cercas elétricas.

O espaço físico do bairro está constantemente evoluindo para atender às demandas e expectativas das pessoas, refletindo o avanço da tecnologia e as mudanças na relação das pessoas com o ambiente.

Embora o bairro tenha se transformado em quase uma pequena cidade em comparação com duas décadas atrás, ainda é possível observar como esse processo histórico se manifesta nas relações locais. A conexão com a natureza continua sendo uma parte fundamental da vida aqui, com atividades ao ar livre, parques e praças. Em frente à minha casa, diariamente, as pessoas se reúnem para tomar chimarrão e desfrutar do pôr do sol. Nos fins de semana, as ruas se transformam em espaços para feiras de artesanato e atividades para crianças.