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RESENHA CRÍTICA LIVRO DA EMBRAPA PANTANAL

Por:   •  17/6/2019  •  Resenha  •  2.396 Palavras (10 Páginas)  •  269 Visualizações

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RESENHA CRÍTICA

TOMAS, W. M.; MOURAO, G. de M.; CAMPOS, Z. M. da S.; SALIS, S. M. de; SANTOS, S. A. Intervenções humanas na paisagem e nos habitats do Pantanal: EMBRAPA PANTANAL. 1ª ed. Corumbá, Mato Grosso do Sul, 2009. 59 p.

1  INTRODUÇÃO

Walfrido Morais Tomas é Mestre em Vida Selvagem da Embrapa Pantanal. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1983), mestrado em Wildlife Sciences - Oregon State University (1996) e doutorado em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017). Atualmente é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em MANEJO E CONSERVAÇÃO DE VIDA SELVAGEM, atuando principalmente nos seguintes temas: pantanal, conservação, blastocerus, aves e abundância. Atua na área de Pesquisa e desenvolvimento.

 Guilherme de Miranda Mourão é Doutor em Ecologia da Embrapa Pantanal. Mourão é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos e doutor em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia em 1996. Atualmente é Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, e professor permanente no Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde orienta alunos de mestrado e doutorado. Atua na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia, Conservação e Manejo de Vertebrados Neotropicais e Invasores. Atua na aérea de pesquisa e desenvolvimento.

Zilca Maria da Silva Campos é doutora em Ecologia da Embrapa Pantanal. Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Mato Grosso (1983), mestrado em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (1991) e doutorado em Ecologia (Conservação e Manejo da Vida Silvestre) pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002). Desde 1989 é pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Pantanal). Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ecologia e manejo de vida silvestre, atuando principalmente nos seguintes temas: jacaré-do-pantanal, jacarés brasileiros, conservação e manejo, pantanal, reprodução e movimento. Atua na aérea de pesquisa e desenvolvimento.

Suzana Maria de Salis é doutora em Biologia Vegetal da Embrapa Pantanal. Possui graduação em Ciencias Biologicas pela Universidade Estadual de Campinas (1985), mestrado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas (1990) e doutorado em Biologia Vegetal pelo Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro, SP (2004). Atualmente é pesquisadora na Embrapa Pantanal. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Ecologia Vegetal. Atua na aérea de pesquisa e desenvolvimento.

Sandra Aparecida Santos é doutora em Produção Animal da Embrapa Pantanal. Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1984), mestrado em Agronomia pela Universidade de São Paulo (1989) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2001). Pesquisadora, nível III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em Manejo, monitoramento e conservação de pastagens nativas, atuando principalmente nos seguintes temas: raças nativas, pastagem nativa, recursos genéticos animais, bovinocultura de corte, herbívoros silvestres, sistemas de produção animal e monitoramento/manejo sustentável das pastagens. No ano de 2009, recebeu o prêmio de melhor curadora da Rede Animal da Embrapa. Atua na aérea de pesquisa e desenvolvimento.

Nesta obra, estão contidas algumas informações relevantes e de extrema importância para preservação e conservação das paisagens Pantaneiras. Informações essas obtidas através de observações aéreas e viagens realizadas ao longo de mais de 15 anos de trabalho na região. Os autores pautaram e apresentaram, de forma evidente, conceituando os diferentes tipos de intervenções humanas na paisagem da planície pantaneira que, em algumas situações, ajudam a manutenção da fauna, mas podem, ao longo do tempo, se tornarem verdadeiras armadilhas.

A obra evidencia, dentre outros aspectos, a preocupação com o desmatamento de formações florestais pela introdução de pasto cultivado. Os dados contidos na obra são um importante passo na produção de políticas públicas voltadas para a preservação e conservação da paisagem e habitat da região.

Os autores ainda enfatizam a necessidade de se estabelecer uma organização para fiscalizar essas mudanças, tendo em vista garantir a sustentabilidade ecológica das atividades econômicas do Pantanal.

2  RESUMO DA OBRA

A obra é constituída de três partes, cada uma delas sob a responsabilidade dos autores supracitados, traduzindo suas experiências, informações e observações sobre as paisagens e habitats da região Pantanal.

Na primeira parte, suscita-se sobre as intervenções que alteram as características relativas ao solo do ecossistema, da paisagem e dos habitats da região. As condições edáficas do ecossistema Pantaneiro, vem se modificando por diversos fatores.

Os diques, assim como as represas têm uma função simples, mas muito importante: conter a água. Os diques ajudam a evitar que rios e lagos transbordem durante tempestades e provoquem inundações em terras baixas. Eles também são construídos para drenar terras que, em estado natural, ficariam debaixo da água. Porém, as consequências dos diques podem ter efeitos negativos, pois a falta do fluxo da água afeta de forma crítica os habitats para muitas espécies da fauna da região.

Escavações conhecidas como poços de dragas ou tanques, criados para assegurar a acessibilidade do gado da região em períodos de seca. Seus impactos são restritos à algumas áreas e podem até ser considerados positivos, pois torna desimpedido o acesso a água por algumas espécies em períodos críticos de seca. Todavia, este tipo de intervenção causa um aspecto negativo na paisagem pela inserção de formas inorgânica e não harmoniosas, assim desvalorizando a paisagem para o turismo.

Estradas em aterros com caixas de empréstimo ou terraplanagem de estradas, que muitas vezes são construídas utilizando-se de aterros em áreas acidentadas para transigir o tráfego na região. Esses aterros são retirados de áreas próximas das estradas, ocasionado depressões no solo, chamas de caixas de empréstimo. Estas alterações do processo hidrológico afetam diretamente vários habitats e, por decorrência, podem afetar espécies da região.

Nas aéreas fronteiriças da região Pantaneira, onde a declividade é mais intensa, açudes são construídos a fins de reter água da chuva para o uso pecuário. Ajudam na contenção da erosão, mas demandam de técnicas especificas para evitar problemas graves como rompimento e obstrução do curso adequado das águas. Por tanto, podem interromper definitivamente os cursos da água, consequentemente alterar drasticamente o regime hidrológico.

Canais de drenagem causam efeitos que podem ser demasiados, pois eles alteram as características do solo, levando à eliminação da vegetação em grande escala do que hipoteticamente escoada pelo canal. Afeta diretamente as espécies dependentes da área, como anfíbios, mamíferos, aves aquáticas, entre outros.

O nivelamento dos murundus dar-se para impedir a reconstituição de vegetação arbórea e arbustiva nas áreas circulares livres de inundação, em áreas de pastagens que serão cultivadas, por consequência irreversível.

Canais de irrigação é uma técnica utilizada na agricultura que tem por objetivo o fornecimento controlado de água para as plantas em quantidade suficiente e no momento certo, assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação. Esse processo faz a distribuição da água por meio da gravidade, mediante de canais estreitos. A água desses canais é geralmente desviadas para copos d´água naturais, assim podem ter o acumulo de sedimentos nos leitos dos rios, lagos e demais cursos hídricos da região.

O último fator importante que altera a paisagem e o habitat da região é as construções em margens de corpos d’água, essas intervenções humanas removem as vegetações nativas e expõe essas construções à erosão. Esse processo provoca um ciclo defeituoso, em que a erosão dos barrancos expostos piora o acúmulo de sedimentos dos leitos dos rios e, assim, causando maior efeito erosivo da água, transformando em um efeito cascata, que atinge aqueles barrancos não alterados.

Na segunda parte, já demonstra as intervenções que alteram as características bióticas da paisagem e dos habitats da região. As características que foram apresentadas nessa parte, demonstram as alterações causadas nas relações ecológicas, afetando diretamente as plantas, animaisbactérias, fungos e microrganismos que interagem entre si.

Desmatamento completo de formações florestais densas e implantação de pastagem cultivada tem a finalidade de adicionar mais áreas não suscetíveis à inundação para gerar pastagem para uso na pecuária. Entende-se que tais práticas podem ser induzidas pelas secas declamadas, do crescimento econômico e da maior capacidade aquisitiva dos grandes empresários sem vínculo cultural algum com a região.

 Essa estratégia de manejo padroniza a paisagem, consequentemente eliminando uma grande diversidade de espécies de seres vivos que dependem exclusiva ou parcialmente destes tipos de composição florestal. Além de que, induz uma elevada desintegração de habitats em longo prazo, colaborando para extinção de espécies nativas da região.  

O raleamento de vegetação florestal densa e implantação de pastagem cultivada é um processo alternativo do supracitado, um considerável raleamento dessa vegetação, acompanhado da implementação das pastagens dentre às árvores deixadas de pé. Protótipo esse que é difícil de ser detectado via satélite comum, a exceção de imagens por contrastes de forma temporal, ou seja, o antes e o depois daquela área específica. Esse tipo de semi-remoção da vegetação arbórea e a modificação da vegetação de baixa estatura ideal por uma camada de capins, grama ou relvas elimina aproximadamente todas as espécies do habitat arvoredo. Tendo como resultado um desmatamento natural causado pela intempérie da região, devido a vegetação ser mais aberta por conta da eliminação do agrupamento dessas plantas.

  Uma das formas de modificação da paisagem é a remoção de cerrados de murundu e implantação de pastagem cultivada. A flora que ocorre nos murundus provavelmente apresenta maior tolerância à saturação hídrica do perfil do solo, considerando que apenas uma parte do volume de terra do murundu permanece livre de possíveis inundações, ou da constante má drenagem nas depressões. Para uso pecuário é feito a total remoção do murundu visando diminuir essa má drenagem e, substituir pela pastagem cultivada, mas essa eliminação desgasta a diversidade biológica por simplificar a estrutura natural do habitat.

Substituição do estrato herbáceo nativo por espécie exótica tem a finalidade de maximizar o amparo das pastagens nativas, por meio da substituição das espécies naturais por exóticas cultivadas. Essas invasões biológicas que estabelecem de espécies animais ou vegetais, vindas de outras regiões – e, portanto, denominadas exóticas – em ecossistemas naturais ou manejados pelo homem, e seu posterior alastramento, de forma que passam a dominar o ambiente e a causar danos às espécies originais e ao próprio funcionamento dos ecossistemas. Em muitos casos, invasões biológicas causam a extinção de espécies nativas.

Sendo umas das práticas mais comuns é a total remoção de bamburrais, espinheirais, canjiqueirais e outras invasoras, circunstância da expansão de anos de cheias mais intensificadas, aumentando a área frutífera para o gado nas áreas de pastagens nativas. Essa prática pode se limitar às espécies que se beneficia da expansão deste tipo de vegetal, buscando estratégias de limpeza de campo que respeitem nestes casos a dinâmica destas formações arbóreas. Vale frisar que não há estudos que demonstrem os efeitos sobre a diversidade biológica.

Uma prática comprovadamente benéfica é a implantação dos aceiros na intenção de evitar incêndios inesperados em áreas que muitas vezes podem ser de fazendas inteiras, contudo, essa prática também tem seu impacto na paisagem da região. Os aceiros são constituídos em corredores abertos nos habitats mais profundos, tendo toda vegetação arbórea removida, consequentemente facilitando a ocorrência de espécies onde anteriormente elas não habitavam, gerando resultados contrários aos esperados.

Outra prática que está diretamente ligada aos aceiros é o estabelecimento das reservas vedadas que visam à remoção do gado bovino, que são manejas para impossibilitar a ação do fogo. Esse tipo de alteração tem levado a uma situação diferente do esperado, pois o acumulo de biomassa vegetal institui um perigoso combustível para incêndios irreprimível.

Os Corredores para linhas de transmissão de energia elétrica especificamente a rural desenvolve-se e sua tendência é que aumente consideravelmente no Pantanal. Esse tipo de manejo requer uma limpeza regular, incluindo a completa remoção da vegetação nativa, tendo o efeito aproximado dos aceiros só com a manipulação diferente nas épocas da seca, isto é, removendo completamente a vegetação da região.

Na terceira e última parte enfatiza os efeitos em longo prazo do fogo e pisoteio do gado em áreas de florestas e também os efeitos das alterações no pulso de inundação.

Em muitas ocasiões o uso do gado bovino é bastante expressivo e os frondes que emergem sofrem com um processo desengraçarão lenta ou desaparecendo por completo. Esses efeitos em longo prazo do fogo e pisoteio do gado dentro dos habitats florestais, assim, impede ou diminui o recrutamento de espécies nativas do Pantanal e com o passar do tempo, as árvores maiores e mais velhas morrem, não havendo restituição. Segundo os autores tais estudos indicam que a modificação na estrutura da vegetal em habitats florestais pode danificar consideravelmente a biodiversidade no Pantanal.

Com a alteração das inundações sazonais para as penduráveis que acarreta a extinção de formações florestais influenciadas do cerrado, gera uma gradativa substituição  por espécies mais toleráveis. Já nos locais que deixaram de ser inundados devido a essa alteração hidrológica, ocorre uma invasão de plantas capazes de produzir madeira como tecido de suporte dos seus caules dá espécie lenhosa em local precedentemente sazonal inundado. Então, o feito das alterações no pulso de inundação pode está sucedendo uma “savanização” de áreas antes soberanas por campos sazonais inundados.
        

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De um modo geral, os autores apoiam-se em diversos estudos para emitir suas conclusões. Os autores concluem ressaltando que as intervenções humanas claramente alteram as características físicas e da vegetação do Pantanal, observando em mudanças na paisagem e nos habitats.

A obra fornece subsídios para novas pesquisas científicas, à medida que trata de um problema importante como a preservação e conservação ecológica, trazendo todas as informações necessárias para o entendimento da intervenção humana na região estudada. Com sólidos conhecimentos acerca do assunto, os autores empenham-se em apresentar clara e detalhadamente informações relevantes a cerca das paisagens e habitats do Pantanal, levando-nos a compreender a preocupação com o desmatamento.

Não se trata de um simples trabalho, com informações a cerca de um determinado assunto, mas um livro que apresenta os fundamentos necessários à compreensão da natureza do Pantanal e de suas alterações humanas na região. Está obra contribui para o desenvolvimento da atitude crítica necessária ao progresso ecológico e estudos mais detalhados são indispensáveis para se compreender a dinâmica da vegetação em função das práticas pecuárias no Pantanal.

Finalmente, com o estudo dessa obra, podemos amadurecer mais a questão ecológica, inclusive para exigir mais políticas públicas voltadas à preservação e conservação do meio ambiente de modo geral, que em muito pode enriquecer nosso modo de vida.

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