Reforma do ensino secundário francês
Resenha: Reforma do ensino secundário francês. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: alanysoliveira • 12/3/2014 • Resenha • 766 Palavras (4 Páginas) • 325 Visualizações
Há aproximadamente três anos, um debate sobre a reforma do ensino secundário francês relançou uma antiga discussão em torno do papel e da importância da manutenção da geografia no currículo do ensino básico. Argumentos bastante conhecidos vieram novamente à tona: a geografia nunca teria produ-zido resultados suficientes para fazê-la figurar ao lado das disciplinas "verdadeiramente" científicas; ela pretende integrar qua-se todos os ramos do saber, mas na verdade não ultrapassa o patamar das relações banais entre natureza e cultura; jamais teria se libertado dos estreitos limites de uma tautologia empiris-ta; e se satisfaz com análises simplistas de relações superficiais, sem se elevar ao nível de abstração requerido pela ciência moderna; enfim, ela seria uma ciência "abortada", segundo os julgamentos críticos mais severos. Em resposta, os geógrafos sublinharam os progressos rela-tivos aos diversos domínios incriminados pelos críticos, evo-cando notadamente a introdução de novas técnicas, o caráter mais operacional dos conceitos recentes, assim como o papel da geografia na definição de políticas de reorganização do terri-tório. A resposta enfatizou, portanto, os aspectos relacionados à modernização de seus métodos, a nova perspectiva prospecti-va e, sobretudo, a ruptura que foi operada com aquilo que se identifica como sendo a "velha" geografia. O prestígio e a legiti-midade se justificariam, assim, pela conformidade ao modelo normativo de ciência, e sua modernidade se exprimiria nas téc-nicas sofisticadas (imagens de satélite, tratamento informático de dados, sistemas de informações geográficas etc.) e nos métodos que ela emprega. Geografia e modernidade, eis o eixo central da questão. Assim, saber se a geografia é uma ciência consiste, em um certo sentido, em meditar sobre o caráter moderno desta disciplina. Se aceitarmos, no entanto, a idéia de que a ciência de uma época se inscreve necessariamente na representação do mundo desta época e se aceitarmos, ainda, que a geografia tem justamente como principal tarefa apresentar uma imagem renovada do mundo, parece evidente que a geografia e a modernidade estejam intimamente ligadas. Ao nível do ensino secundário, por exem-plo, ela tem por meta apresentar uma visão global e coerente do mundo, em que a dinâmica dos fenômenos naturais e as relações homem-natureza, ou sociedade-território, são articuladas à luz de uma perspectiva que nos é contemporânea. Neste sentido, o professor de geografia se aproxima da imagem do aedo grego que, através dos seus cantos, reatualizava a ordem do mundo através das aventuras dos deuses e heróis no interior de longas cosmogonias. Assim como o geógrafo atual, estes poetas descre-viam a imagem do mundo e forneciam, ao fazê-lo, uma explica-ção da multiplicidade, uma cosmovisão. Trata-se de uma dimen-são freqüentemente negligenciada do saber geográfico como pro-dutor e difusor de uma cosmovisão moderna. Que ela tenha obtido êxito ou não em estabelecer relações necessárias, leis ou teorias, a geografia é o domínio do saber que procura integrar natureza e cultura dentro de um mesmo campo de interações. Que outra disciplina moderna poderia reivindicar car este papel e esta competência? A filosofia se dedicou a esta tarefa durante séculos. Ela, aliás, tem origem nas questões colo-cadas pelos pré-socráticos sobre o que reuniria a dispersão.
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