Resenha O Estado Empreendedor Mariana Mazzucato
Por: Giordana Elizabeth • 17/7/2021 • Resenha • 8.243 Palavras (33 Páginas) • 619 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS[pic 1]
INSTITUTO DE GEOGRAFIA, DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - IGDEMA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
GIORDANA ELIZABETH ROGÉRIO DA SILVA
O ESTADO EMPREENDEDOR
Maceió
2020
GIORDANA ELIZABETH ROGÉRIO DA SILVA[pic 2]
O ESTADO EMPREENDEDOR
Resenha apresentada à disciplina Geografia da Organização Empresarial no Brasil e no Mundo, ministrada pelo Prof. Dr. Domingos Sávio Corrêa, no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia, do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente – IGDEMA/UFAL, como requisito parcial à obtenção de nota.
Maceió
2020
RESENHA – O ESTADO EMPREENDEDOR
MAZZUCATO, Mariana. O Estado Empreendedor: Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado. Tradução de Elvira Serapicos. São Paulo: Portfólio-Penguin, 2014.
Desmascarando o mito do setor público vs. setor privado, frase escolhida como subtítulo e que resume bem os objetivos de Mariana Mazzucato ao elaborar a obra O Estado Empreendedor. Isso porque, a autora pretende dissecar vários dos argumentos falaciosos que giram em torno da figura do Estado no desenvolvimento de diversos setores econômicos, apontando que, diferente do que é propalado, o Estado tem sido crucial em diversos empreendimentos, assumindo riscos, criando mercados e financiando novas invenções.
É nesse contexto que Mazzucato, economista italiana, faz um levantamento histórico da edificação de setores econômicos estadunidenses, de modo a evidenciar como o Estado permitiu que tais se desenvolvessem. Desse modo, a autora fugiu da visão caricaturada propagada principalmente no atual estágio do capitalismo – neoliberalismo -, trazendo dados que evidenciam que a máquina estatal não é burocrática, ineficiente e antiquada, como os economistas costumam afirmar veementemente.
Como bem esmiúça Carlota Perez ao prefaciar o livro de Mariana Mazzucato, “a questão fundamental de sua análise é que as tecnologias mais radicais em diferentes setores [...] têm origem no financiamento de um Estado corajoso, disposto a assumir riscos” (MAZZUCATO, 2014, s/p). Frise-se que o auxílio perpetrado pelo Estado não se limita à concessão de financiamentos, mas também perpassa para a criação de agências especializadas, criação de mercados consumeristas, definição de regras para o funcionamento do setor, dentre outras funções que o setor privado não seria capaz de implementar de forma exclusiva.
Insta aclarar, de pronto, que o livro ora analisado é o resultado de um desmembramento de um relatório apresentado a DEMOS, o Instituto de Pesquisa do Reino Unido, por Mariana Mazzucato. Essa estava imbuída do objetivo de convencer o governo britânico a não implementar estratégias neoliberais, que estavam sendo apresentadas como a possível solução dos problemas ocasionados pela Crise de 2008, de diminuição do Estado para, supostamente, incentivar o setor privado a investir.
Para tanto, no relatório, que fazia as vezes de manifesto, como bem informa a autora, diante da rapidez com a qual fora elaborado e da urgência que estava em seu âmago; trazia-se à tona o papel ativo dos Estados Unidos nas incubadoras de inovação, muitas delas agora sediadas no Vale do Silício, testificando a função de criador e de investidor de risco do Estado em áreas inovadoras, muito diferente da visão clássica de um Estado ineficiente e estanque. Assim, buscava-se destacar que a presença do Estado na economia poderia ser o meio através do qual a crise seria solucionada, de forma dinâmica, competitiva, inovadora e sustentável.
Diante disso, Mazzucato assumiu a dianteira e se insurgiu contra economistas clássicos ao defender o Estado, apresentando-o como inovador e eficiente, que pode assumir um papel de empreendedor no sentido mais específico do termo, tendo em vista sua disposição e capacidade de assumir os riscos, como bem observado nos casos narrados ao longo de O Estado Empreendedor. Pretende-se demonstrar, desse modo, que “quando o Estado é organizado eficientemente, sua mão é firme, mas não pesada. [...] o Estado é um parceiro fundamental do setor privado — e em geral mais ousado, disposto a assumir riscos que as empresas não assumem” (MAZZUCATO, 2014, s/p).
É em razão disso que a imagem escolhida para compor a capa do livro é extremamente significativa. Isso porque, foram colocados lado a lado um leão e um gato; o leão significando o espírito de liderança, que se põe em situação de risco; e o gato, animal domesticado, normalmente conhecido por sua preguiça e rispidez. A autora, divergentemente do usual, afirma que o gato representa o setor privado, diante do seu receio de assumir o comando de situações potencialmente arriscadas, e o Estado como sendo o leão, que age tanto em situações de crise, quanto em momentos de bonança, mas que clamam por inovações.
Seguindo essa conjuntura, no decorrer de dez capítulos, a autora desvela e apresenta seus argumentos à favor do Estado, não se resumindo a fazer uma defesa ideológica, mas sim de, mediante um levantamento histórico do desenvolvimento de setores de inovação de diversos países, em especial dos EUA, apresentar como o Estado tem sido uma figura indispensável para a criação de tecnologias que o capital privado não iria querer investir ou não teria condições de fazê-lo. Frise-se que, apesar de contar com dez capítulos, somente serão analisados os capítulos 1º ao 4º, e o capítulo 9º.
CAPÍTULO 1 – DA IDEOLOGIA DA CRISE À DIVISÃO DO TRABALHO INOVADOR
No cenário pós-crise de 2008, tornou-se costumeira a apresentação de um plano de recuperação econômica baseada na austeridade, na diminuição da intervenção estatal, no incentivo fiscal ao setor privado, de modo a garantir o livre mercado e conceder espaço para que os investimentos privados fossem realizados. Nessa linha de pensamento, as empresas estariam mais propensas a incrementar inovações e, consequentemente, contratar novos empregados, desembocando em um processo de crescimento econômico generalizado.
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