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Ética da Moderação Aplicada à Crítica Francesa ao Movimento MeToo

Por:   •  7/11/2018  •  Monografia  •  1.472 Palavras (6 Páginas)  •  299 Visualizações

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Ética da moderação aplicada à crítica francesa ao movimento #MeToo

Rômulo Augusto Carvalho Teixeira, UFOP

Email: romuloact@gmail.com

Resumo:

Em outubro de 2017, um movimento feminista viralizou nas redes sociais. O movimento visava chamar atenção para os abusos sexuais que as mulheres reprimiam por medo das consequências. Na França, houve uma crítica ao movimento por parte de mulheres importantes na mídia, o que levantou ainda mais questionamentos sobre a situação da violência contra a mulher no mundo moderno. Este artigo visa aplicar o argumento de Peter L. Berger e Anton Zijderveld do seu livro “Em Favor da Dúvida”, identificando três posicionamentos ideológicos aplicáveis na situação.

Palavras-chave: Movimento Me Too, feminismo; moderação;

Desenvolvimento

O Movimento Me Too, nasceu como um movimento de conscientização para apoiar sobreviventes de violência sexual, em particular jovens mulheres de comunidades desfavorecidas. Sua primeira aparição nos veículos de mídia sociais foi em 2006 na rede MySpace, onde Tarana Burke criou a frase como parte de uma campanha para promover “empoderamento através da empatia”. Burke citou em um documentário que a inspiração da frase veio de uma conversa com uma garota de 13 anos, na qual a garota confidenciou que havia sido abusada sexualmente. Burke diz ter desejado simplesmente responder “eu também” (tradução literal de “me too”).

Em outubro de 2017, a atriz Alyssa Milano sugeriu em um tweet que mulheres que tivessem sofrido algum tipo de abuso sexual usassem a hashtag #MeToo, de forma a permitir uma consciência da magnitude do problema. O tweet teve como motivação abusos que Alyssa teria sofrido por parte de Harvey Weinstein, produtor de filmes em Hollywood. A hashtag viralizou e rapidamente milhões de pessoas começaram a usar a frase, que também se espalhou para dezenas de outros idiomas. Como resultado, o propósito do movimento se expandiu e começou a englobar diferentes significados para diferentes pessoas (mas mantendo o intuito e essência de empatia para com as vítimas).

Na França, o movimento assumiu o nome de #BalanceTonPorc (#DenuncieSeuPorco), e encorajou os usuários da hashtag a expor os nomes de seus agressores. Assim como em outros países, a hashtag também viralizou, porém a repercussão na mídia teve um outro caráter. Muitas mulheres influentes, incluindo a renomada atriz Catherine Deneuve, assinaram uma carta co-redigida por cinco mulheres: Sarah Chiche (escritora/psicanalista), Catherine Millet (crítica de arte), Catherine Robbe-Grillet (atriz/escritora), Peggy Sastre (escritora/jornalista) e Abnousse Shalmani (escritora/jornalista). A carta foi publicada no jornal francês Le Monde, e se apresentava como uma visão alternativa e crítica do movimento Me Too, descrevendo-o como “uma censura desenfreada por parte das militantes feministas” e defendendo “o direito masculino de seduzir as mulheres”. As signatárias argumentam também que a hashtag não deveria ser levada a sério, que se trata antes de uma expressão de frustração sexual, além de explicitamente se deixarem fora de um feminismo que “perpetua o ódio contra o homem e a sexualidade”. A reação das francesas ao movimento Me Too levantou muitos debates acerca do posicionamento das pessoas quanto ao feminismo em geral, lembrando que na França o quadro criminal de violência sexual contra a mulher é assustador: cerca de 93% das queixas não têm um segmento legal. Em 2014, apenas 65 dos 1.048 processos por violência sexual resultaram em uma condenação.

Em seu livro “Em Favor da Dúvida”, Peter L. Berger e Anton Zijderveld propõem a análise de três posicionamentos que podem ser aplicados de modo a entender melhor a situação de um ponto de vista analítico. O primeiro deles é o relativismo, ou mais precisamente, relativismo radical. Sobre o relativismo, os autores afirmam que trata-se de “um processo no qual o status absoluto de alguma coisa é enfraquecido ou, em caso extremo, destruído” (Berger, Zijderveld, 2012, p.24). Pode-se entender o relativismo radical como uma posição onde não se faz uma defesa da existência de uma verdade como absoluta. Para um relativista radical, os valores são condenados nesse aspecto ideológico, de maneira que até mesmo as certezas dos nossos sentidos podem ser relativizadas (em função de várias definições de realidade). O relativismo radical consiste em uma linha de pensamento onde “a verdade é subjetiva”, e isso pode acarretar uma estagnação, pois, em uma sociedade onde nada é considerado “real”, não é possível ter a certeza quanto nada.

É possível observar um posicionamento relativista radical na forma como o assédio sexual é visto na sociedade moderna. Não se tem um valor absoluto para o que se pode definir como assédio sexual, e isso trouxe debates acerca do assunto da violência contra a mulher, sendo um deles a situação vista no movimento Me Too e na repercussão da carta assinada pelas várias francesas influentes. Sem essa definição exata, algumas mulheres considerariam uma variedade de atos como assédio, enquanto outra parte das mulheres não os veriam como tal. Esse pode ser considerado o motivo para os debates sobre a carta publicada no jornal Le Monde. As signatárias da carta e os usuários da hashtag Me Too tinham uma visão diferente sobre a definição de assédio, e, como no relativismo radical a verdade é subjetiva, não há como afirmar a razão para qualquer um dos lados envolvidos no dilema.

A segunda forma de posicionamento descrita no livro é o fundamentalismo. No fundamentalismo descrito pelos autores, adota-se uma posição onde o não-questionamento de valores é defendido. Segundo os mesmos, “no contexto contemporâneo, a reação é justamente contra o efeito relativizante da modernidade” (Berger, Zijderveld, 2012, p.65). Os autores

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