As Fulôs do Sertão: As Mulheres da Caatinga Fazendo Eco Negócios
Por: Adenailton Silva • 16/1/2025 • Resenha • 1.433 Palavras (6 Páginas) • 11 Visualizações
Resenha de um documentário: “As Fulôs do Sertão: As mulheres da caatinga fazendo econegócios” .
Adenailton da Silva Rodrigues[1]
O documentário foi dirigido por Ricardo Malta trazendo em seu bojo uma representação das atividades exercidas do PNUD voltadas para o desenvolvimento ecológico do trabalho das mulheres da caatinga. Além disso, ressalta sobre as oportunidades de emprego, renda e qualidade de vida nas comunidades. Ao garantir maiores oportunidades às populações mais pobres, asseguram o seu protagonismo, envolvendo-as nas parcerias e auxiliando-as no aprendizado mútuo. Desta maneira, contribuem para a redução da pobreza e para a sustentabilidade. O percurso feito para elucidar a importância dos projetos foi na Associação das Mulheres Rurais do Sítio de Macaúbas/CE, Associação de Mulheres Produtoras de Caroalina/PE, Associação Quilombola de Conceição das Crioulas de Pernambuco e Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçau – Bahia. Ademais, “esses personagens acompanham cuidadosamente cada passo da natureza, suas vontades e caprichos e vão aprendendo a tecer a teia da vida nessa região de significativas belezas e potencialidades” (COSTA; LACERDA; ARAÚJO; ANDRADE; FERNANDES, 2014, p.54).
O primeiro local apresentado no vídeo é a Associação das Mulheres Rurais do Sítio de Macaúba/CE, utilizam o coco de Babaçu para a produção de óleos e “bio-joias”, como fonte de renda do município. Além disso, nota-se a preocupação das mesmas em aumentar o desenvolvimento econômico da região, mas também em manter o cuidado com o meio ambiente. Maria Bethânia, presidente da Associação de Macaúba, comenta que se não fosse o cultivo do coco de babaçu ocorreria um grande êxodo rural, pois muitas famílias abandonaram a localidade para as grandes cidades, por exemplo, São Paulo e Rio de Janeiro, em busca de oportunidade de trabalho. É interessante se pensar na importância desses projetos nas regiões semiáridas, ao qual segundo Pierre Gervaiseau o objetivo é promover um acesso direto ao mercado e simultaneamente manter a conservação do meio ambiente. Ademais, a fundação Araripe e a introdução de algumas máquinas qualificaram a mão-de-obra das mulheres nessa comunidade, aumentando assim, os empregos na região. Maria Betânia afirma que é “através de pequenos projetos que surgem grandes empregos”.
Sendo assim, podemos correlacionar sobre a globalização e o evolucionismo humano, o qual a um desenvolvimento tecnológico e biológico, que perpetua novas formas de interação com o mundo. Contudo, mesmo com o avanço da classe “homo” ainda é nítida a degradação da natureza ao longo dos anos e nota-se que intensificou ainda mais nos dias atuais. Por isso, o documentário surge com o objetivo de apresentar maneiras de se usar a natureza, mas sem degradá-la. Ademais, dando ênfase ao papel das mulheres, principalmente, na caatinga, como força motriz na luta por espaço e de (re)existência. Dessa maneira, a “Caatinga se mostra um território constantemente recriado pelo olhar e emoção que organiza a experiência de homens e mulheres”. (COSTA; LACERDA; ARAÚJO; ANDRADE; FERNANDES, 2014, p.54).
Na Associação de Mulheres Produtoras de Caroalina/PE, nesse espaço é feito através do caroá produtos de utilização diária, por exemplo, cadernetas para anotações, enfeites decorativos e etc. No documentário ressalta sobre como o Caroá estava praticamente em extinção, contudo, com as técnicas de preservação dos moradores do município conseguiram salvaguardar e potencializar o produto econômico. Segundo Hilda Bezerra, presidente da associação, o objetivo é robustecer uma vida melhor para todos no município através da geração de empregos. É importante mencionar que o papel das agências implementadoras no projeto do ministério do meio ambiente é fazer a inclusão do papel das mulheres em todas as suas iniciativas. Maria Geralda Almeida (2008) ressalta bem esse contexto quando aborda que dessa maneira “eles aprendem a aproveitar todos os recursos que a caatinga oferece, utilizando tecnologias sociais de fácil manejo, com o propósito de garantir a segurança alimentar, nutricional e hídrica através da agricultura familiar e de pequenas cooperativas” (p.326).
Sobre a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas de Pernambuco, segundo Maria de Lourdes, professora e artesã, o contexto histórico se inicia com seis mulheres negras que chegara à comunidade e o “senhor” que trouxe consigo a imagem da nossa senhora da Conceição, prometeram que se ninguém alcançasse-as essas construíram uma igreja denominando de Conceição das Crioulas. A mesma também comenta sobre o apadrinhamento das terras por pessoas recém-chegadas na comunidade e de como isso afetou na consolidação do local. Em conjunto do mesmo pensamento a Aparecida Mendes, Coordenadora executiva da Associação, comenta que muitos fazendeiros com a criação de gado e de algodão invadiu as terras da comunidade, utilizando as pessoas com poucas informações como mão-de-obra barata ou gratuita. “A caatinga, por suas características naturais, era considerada como própria para a criação de gado extensivo” (ALMEIDA, 2008, p.324).
Maria de Lourdes ao apresentar um panorama histórico sobre o surgimento da comunidade abordou a história oral como principal fonte desse contexto. Vale salientar, que o silenciamento muitas vezes não significa que algo é esquecido, mas mesmo em silêncio a memória ainda pode ser lembrada, pois “a memória é levada a atualizações contínuas de linguagem, que demandam processos complexos de reelaboração” (PASSERINI, 2011: p.79). Por isso, a história oral foi de suma importante para a consolidação da comunidade nos anos 2000.
Na luta pela superação da desigualdade econômica as mulheres do campo, buscaram-se organizar e lutar, assim se consolidou muitos movimentos feministas, associações, cooperativas e iniciativas não formais de resistência feminina. (ALMEIDA; GERMANO; MELO, 2020, p.336). De foto, observa-se essa luta dentro da comunidade Conceição das Crioulas e nas Mulheres Produtoras de Carolina/PE, já que ambas se apoiam no Caroá para a produção economia local, visando também à preservação da biodiversidade. Além disso, Valda Aroucha, coordenadora da AGENDHA, mencionou que “elas estão sustentando suas famílias, o meio ambiente e, sobretudo, sustentando sua autoestima, felicidade e garra”.
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