As Mulheres em Homero: São reflexos ou Distorções das Mulheres do Mundo Contemporâneo
Por: Cynthia Thayse • 23/3/2023 • Relatório de pesquisa • 1.379 Palavras (6 Páginas) • 146 Visualizações
AS MULHERES DE HOMERO: SÃO REFLEXOS OU DISTORÇÕES DAS
MULHERES DO MUNDO COMTEMPORÂNEO
Cynthia Thayse[1]
RESUMO
Esse artigo visa propor uma análise sobre as distintas representações do feminino, presentes nos poemas homéricos, ilíada e odisseia. Usando um grupo específico de personagens femininas como destaque: Helena, Andrómaca e Penélope. Em seguida, estudar em forma de diálogo os reflexos e distorções dessas figuras no mundo atual.
Palavras-chave: Feminino; Representação; Homero.
INTRODUÇÃO
O patriarcalismo é um aspecto comum nos enredos e narrativas de Homero, pois enfatiza o papel do homem na sociedade, refletindo o pensamento da época.
Nas últimas décadas houve um aumento considerável na quantidade de estudos, de mulheres na literatura antiga. Contudo, quanto mais lemos esses estudos, mais evidente fica a escassez de informações relativas sobre qual seria a percepção das mulheres da Grécia Antiga sobre elas mesmas, uma vez que quase todos os textos que conhecemos desse período, são de autores homens.
Nesse mundo de mulheres distintas surge uma obra do qual considero necessário ressaltar, Odisseia de Penélope, de Margaret Atwood 2, uma obra magnifica cujo o intuito é dar voz á rainha silenciada. Diferente da obra homérica, onde Penélope se caracteriza como um forte contrate com o herói Ulisses ou Odisseu, deixando claro que naquela sociedade o homem estava no centro e cabia a mulher o papel secundário, assim também com Helena e Andrómaca.
Margaret reconta a história sob uma outra perceptiva, isto é, representa a posição ativa da personagem que está subentendida no texto homérico.
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A RELAÇÃO DO FEMININO
Uma frase que se tornou sabedoria popular e já não é possível recorrer á sua autoria: "As mulheres fazem lares, os homens fazem guerra". O que nos leva a um questionamento: quando um grego ouvia a palavra mulher, qual seria a primeira coisa que viria a sua cabeça[2]?. De acordo com Rogusa Giuliana[3]:
Os gregos consideravam a mulher, dentre outras coisas, um ser volúvel, sem capacidade de controlar seus impulsos, vulnerável aos ataques do desejo, da paixão. Sinal disso seria, por exemplo, a função da procriação que relaciona a mulher aos elementos líquidos – de caráter fluido, amorfo e inconstante - e à capacidade de transformação; em outras palavras, a reprodução aproximaria a mulher da natureza – uma força imprevisível. (RAGUSA, 2005, p. 58).
Ou seja é claro uma distinção entre o que compete ao o homem e o que compete a mulher, um exemplo da função do homem e a representação da mulher está na fala de Heitor e Andrómaca ( Vl, 433- 465). Andrómaca pede que Heitor, não lute na linha de frente ou seja Andrómaca não pede que ele deixe a guerra apenas que adote uma postura mais defensiva, com isso Heitor responde:
Todas essas coisas, mulher, me preocupam mas muito eu me envergonharia dos troianos e troianas se tal como um covarde me mantivesse longe da guerra [...]. Muito mais me importa o teu sofrimento, quando em lágrimas fores levada por um dos Aqueus vestido de bronze, privada da liberdade, pela falta que te fará um marido como eu para afastar a escravatura. (ILÍADA, 2018, p. 249).
Contudo é evidente a função do homem, em ser o centro, onde sua ausência significaria a escravidão, onde seu papel é de guerreiro e ao feminino sua função de dependência. Também podemos apresentar essa dependência em Penélope que na ausência de Ulisses se ver obrigada a escolher um pretendente. Na disputa dos pretendentes, muitas vezes a interpreta mais como uma competição por sua riqueza que por sua companhia, como é ilustrado na obra de Atwood:
Na corte do rei Icário, meu pai, ainda conservavam o antigo costume de promover torneiros para saber quem deveria desposar uma moça nobre que estivesse por assim dizer no mercado. O vencedor ganhava a mulher e a festa de casamento, (...). Ele obtinha riquezas por meio do casamento taças de ouro, tigelas de prata, cavalos, mantos, armas,
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todo o lixo que tanto valorizavam quando eu ainda vivia.” (Atwood, 2005, p. 34).
Assim, nos é mostrado o papel de obediência e submissão, no caso veremos Penélope, que mesmo sendo mãe, seu filho Telêmaco repetidamente manda ela e as servas para as partes inferiores do palácio, um ambiente doméstico e mais silencioso, onde poderia se dedicar a tecer e fiar.
Essa dependência juntamente com a obediência e submissão também é mostrado em Helena, no seu casamento com Menelau, além da visão de posse, onde Helena é representada como mercadoria, troféu e propriedade. Do qual se trava uma guerra, ao deixar seu marido para ficar[4] com Páris.
Nessa perspectiva, a mulher era um objeto e não um ser humano, cuja importância na sociedade pode ser comparada à dos escravos. Vale destacar que em Homero as tarefas domesticas são exclusivamente feminina, a elas cabia as atividades domiciliares e à procriação. Com isso, é evidente que a representação do feminino nesse período, é coadjuvante, submisso, obediente e dependente.
ENTRELINHAS
A literatura por ser escrita em sua maior parte por homens influencia a forma que enxergamos o mundo, de modo que eterniza o pensamento de uma época, e propaga a cultura, pois como define Paganini[5]: "A literatura como arte reflete as representações da cultura de um povo".
Homero às vezes não hesita em apresentar as mulheres como mais perceptivas e inteligente do que os homens. Andrómaca é bem perceptiva em suas especulações lançando acusações contra Helena. Helena é mais inteligente que Menelau e a astúcia de Penélope é impressionante em ganhar tempo e adiar a escolha do novo marido. Como bem destaca Ana Mariana Machado7:
Durante esse tempo, entre o fim da guerra de Troia e o momento em que os pretendentes descobrem que ela os enganava, desmanchando de noite o que tecia de dia, o que acontece é que ela está experimentando criar sua própria história no tear, de cada vez tecendo uma coisa diferente, ensaiando, fazendo várias versões, retecendo, reescrevendo, porque é uma história que nunca tinha sido escrita
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