Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo
Por: hey_ale • 14/2/2017 • Resenha • 1.133 Palavras (5 Páginas) • 1.172 Visualizações
Resenha: Pioneiros Crioulos. In:_______. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo – Benedict Anderson
O capítulo “Pioneiros crioulos” do livro de Benedict Anderson intitulado “Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo” apresenta a seguinte tese: os movimentos de independência surgem a partir do medo das classes mais altas (crioulos) em relação às mobilizações políticas das classes inferiores. Além disso, não nega a tese de que o aumento do controle da metrópole sob a colônia, assim como as ideias Iluministas são fatores relevantes dentro dos movimentos de independência, mas afirma que eles por si sós não são suficientes para o entendimento do processo.
Em busca de elucidar melhor sua tese o autor levanta três questionamentos essências, são eles:
“Eis, então, o enigma: por que foram precisamente as comunidades crioulas que desenvolveram concepções tão precoces sobre sua condição nacional [nation-ness] – bem antes que a maior parte da Europa? Por que essas colônias, geralmente com grandes populações oprimidas e que não falavam o espanhol, geraram crioulos que redefiniram conscientemente essas populações como integrantes da mesma nacionalidade e a Espanha, à qual estavam ligados de tantas maneiras, como inimigo estrangeiro? Por que o Império Hispano-americano, que havia existido serenamente por quase três séculos, de repente se fragmentou em dezoito estados diferentes?”
Para explicar por que os crioulos foram pioneiros, ou seja, desenvolveram a noção de sua condição nacional antes mesmo de maior parte da Europa, o autor defende que as repúblicas sul-americanas eram, anteriormente, uma unidade administrativa durante o período colonial, isto é, entre os séculos XVI e XVIII, o que as colocam à frente dos estados que vêm a surgir nos continente africanos e asiáticos durante o século XX e os novos estados europeus que iniciam seus processos durante o fim do século XIX.
Estas unidades surgem, segundo B. Anderson, devido tanto à fatores geológicos (variedade de climas e solos) e também ao fator comunicação (durante o período colonial a comunicação entre os territórios era extremamente difícil, uma mensagem demorava meses para alcançar seu destinatário), já que contribuíam para que cada local fosse autossuficiente. Para além disso, existe o fator econômico incitado pela própria metrópole. A política comercial proibia o comércio entre os diferentes territórios, restringindo-as a comercializar apenas metrópole, o que resultou, segundo o autor, em diversas zonas econômicas.
Quanto à questão de integração de crioulos à uma mesma nacionalidade, Benedict afirma que isto ocorreu devido às dificuldades que os nascidos na América possuíam ao tentar ascender nestas sociedades. Segundo o autor, havia uma clara distinção entre aqueles que nasceram em solo europeu e aqueles que nasceram em solo americano, mesmo sendo descendentes de europeus, os primeiros ocupavam majoritariamente os postos mais altos na administração. Isto ocorria, porque durante esta época circulavam às ideias racistas de que o hemisfério sul era um local de selvagens, portanto quem nascia nestas terras eram inferiores e, logo, inaptos para assumir cargos mais elevados.
Sendo assim, os funcionários crioulos possuíam diversas regras impostas mesmo ocupando os cargos mais baixos, uma delas consistia em proibir possibilidade de peregrinação dentro do território hispano-americano, como o autor diz: “(...) os seus movimentos laterais eram tão restritos quanto a sua ascensão vertical.” (ANDERSON, p. 97). Logo, segundo o autor, um funcionário em sua peregrinação limitada ao encontrar outro igual a ele desenvolvia um sentimento de companheirismo que não restringia somente à condição de peregrino limitado, mas também da condição de limitação dentro da sociedade colonial.
Entretanto, segundo o autor, a integração não ocorreria somente pelo motivo apresentado acima, mas atrelada ao “capitalismo tipográfico” (p. 101), já que a imprensa é a chave para a comunicação, uma vez que através deste meio as ideias não só circulavam, mas fixavam-se no imaginário da população alfabetizada. E será nos jornais que vão ser encontrados elementos político, segundo B. Anderson, nestes jornais encontram-se frases em que os crioulos se referem como “americanos” e termos como “nuestra America”. Desta forma, o resultado foi uma noção de nação entre aqueles que partilhavam do poder da escrita.
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