Dos Arranjos familiares e o papel da mulher
Por: José Victor • 29/8/2017 • Resenha • 1.993 Palavras (8 Páginas) • 244 Visualizações
Dos arranjos familiares e o papel da mulher
Compreender a situação das mulheres, sejam elas brancas ou negras, é analisar cenários que, em época, lhes estabeleciam, definitivamente, uma visão imposta de segundo plano. Mais ainda: Nota-las é, em resumo, algo abstruso no âmbito historiográfico; haja visto que, além do fato de que os estudos feitos a respeito das mulheres são desenvolvidos em tempos recentes, estamos diante de um penoso acesso às documentações, sejam elas atas notariais ou advindas de fontes indireta, como cartas ou crônicas, etc. Desta forma, os estudos são construídos pela junção de fragmentos históricos, que nos permite observa-las em certos aspectos, tais como as perspectivas de prostituição e concubinatonota.
Partiremos, então, à análise das mulheres, num recorte que compreende as livres de cor no Distrito Diamantino. A desorganização na sociedade pós-rush mineratório promoveu um forte abalo na conjuntura da vida privada e no status quo. Compreendia-se, gradativamente, que as novas complexas redes de relacionamentos iriam fomentar uma sociedade composta por arranjos familiares diversos; justifica-se este argumento, pois, através de moldes como a prática do concubinato¹. a mulher poderia, portanto, caminhar de uma forma mais livre. algo que, para a mentalidade em época, não poderia ser absolutamente aceita pelas instituições, como a Igreja e o Estado.
Anteriormente, viviam num cenário intenso de ínfima valorização moral. Contudo, as mulheres dos tempos do séc. XVIII encaminhavam-se para um novo panorama, a possibilidade de ascensão social e econômica. Como analisa Júnia Ferreira Furtado em Chica da Silva e o contratador dos diamantes: o outro lado do mito, as mulheres que aderiram ao concubinato, conseguiram seguir os caminhos prósperos do homem branco, que, paradoxalmente, as subjugavam pouco antes.
Evidentemente, tal prática não deve ser compreendida como exemplo de tolerância ou novos ares de liberdade. Ao estudar este tema, fica explicito que, apesar das “vantagens” fornecidas pelo concubinato, elas não se estendiam muito. Esta forma de relacionamento não era permitida, autenticada; A Igreja não legitimaria o casamento entre “desiguais”. Mais ainda, é intrínseco o fato de que, de certa forma, tratava-se de uma exploração sexual mascarada. nota
Outro ponto que se pode abordar é a vida comercial das mulheres. Nas vendas, as mulheres trabalhavam para si ou estavam sob exploração de seus donos. Nestes locais, que cercavam zonas próximas às áreas de mineração, vendia-se toda sorte de produtos e alimentos. Entretanto, deve-se atentar para outro tipo de comercio: A prostituição. Sob condições de extrema miséria e extremas imposições, não teria, outra alternativa senão o meretrício, algo que estava pouco de ser enraizado no cotidiano dessas mulheres, em especial a mulher negra. Tal ato era realizado nas “Casas de alcouce”, cujos intermédio entre a prostituta e o cliente era realizado pelo “Alcouceiro”, algo lucrativo para o explorador que as impunha-las à esta circunstância.
Como no caso das mulheres, existe um árduo caminho historiográfico quando o assunto é família; ainda mais os laços familiares entre negros. Como afirma Gilberto Freyre, enfatizou-se, por muito tempo, a coisificação do escravo e a negação de laços sólidos entre os cativos. Contudo, ao passo da historiografia norte-americana, compreender a família escrava torna-se essencial.
Compreendemos, pois, a família escrava das Minas Gerais. Antemão, nota-se três aspectos: As raízes africanas permaneceram dentro do núcleo familiar; deve-se assistir o diálogo entre a realidade colonial com as raízes africanas; compreender as diferentes formas de estrutura familiar. Para tal tarefa, pode-se exemplificar a região de Catas Altas do Mato dentro; uma típica zona de exploração mineral no séc. XVIII. Neste sítio de extração, podemos observar, por meio dos registros paroquiais, os traços da organização familiar escrava.
Nesta observação, podemos notar especificidades, tais como a presença dos forros e casos peculiares de arranjo familiar, como a presença de cinco homens para cada mulher, etc., mostrando como o concubinato tornara-se uma pratica em expansão. . Em resumo, se construiu, conforme a passagem do tempo, diversas aproximações entre os escravos e os livres.
A escrita, a cultura e as inspirações que as promoviam
A função dos registos escritos, sem dúvida, é fundamental para a existência social e econômica. Objetiva-se com ela comunicar, tomar melhor controle das produções, adquirir conhecimentos laborais, religiosos, filosóficos, etc. Isto é, ler e escrever significa acumular capital estrutural e capital humano.
Podemos analisar que a intensa estratificação da sociedade mineratória do Sec. XVIII ecoava diretamente na cultura escrita e posterior leitura. Poucos eram, portanto, letrados. Os negros, com rara exceção, eram alfabetizados, pois, definitivamente, poderiam usar desta disposição para gerar lucros ao seu senhor. Fugia-se deste determinismo casos como o de Cosme Teixeira Pinto de Lacerda, escravo que usou desta notória habilidade para pedir intervenção as negociações escravagistas. Contudo, brancos e livres eram majoritariamente detentores da capacidade de ler, escrever e adquirir livros.
Tais sujeitos brancos e livres usavam a cultura literária de forma majoritária para o uso prático de sua profissão. Usavam-na para a construção de seus documentos notariais, como inventários e afins. Depositavam seus livros em recintos pessoais, classificados como parte das bibliotecas da capitania. Sobrava-se espaço, além disso, para a religião ou para as florescentes Ciências Naturais. Contudo, grande parte do que chegava à capitania sofria por enorme censura, a fim de evitar inconvenientes ao establishment advindos de teorias de cunho iluminista, que, sem dúvida, eram profanas, ou, de certa forma, ilícitas ao cidadão de bem. Existia, além das bibliotecas pessoais, espaços nas instituições de ensino.
Para toda regra, como a censura aos ideais iluministas, há uma exceção. Tais como os poetas inconfidentes das Minas Gerais: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto. Convivendo juntos, os três poetas inspirados pelos novos ares, na transição do Barroco para o Arcadismonota, usavam da arte poética para transmitir sua revolta ao Estado português.
As festividades cotidianas e as Ordens Terceiras como um marco da religiosidade, da sociabilidade e do estabelecimento
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