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OS DIÁLOGOS COM A MEMÓRIA: UMA PROPOSTA LÚDICA NO ENSINO DE HISTÓRIA PARA O NÍVEL MÉDIO EM TORNO DE TEMAS RELACIONADOS À CULTURA AUTORITÁRIA BRASILEIRA

Por:   •  24/1/2022  •  Trabalho acadêmico  •  5.257 Palavras (22 Páginas)  •  139 Visualizações

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DIÁLOGOS COM A MEMÓRIA: UMA PROPOSTA LÚDICA NO ENSINO DE HISTÓRIA PARA O NÍVEL MÉDIO EM TORNO DE TEMAS RELACIONADOS À CULTURA AUTORITÁRIA BRASILEIRA.

Fernando de Souza Cruz[1]

O presente artigo busca apresentar uma abordagem introdutória à pesquisa que se propõe desenvolver uma proposta lúdica para estudo do período conhecido como Ditadura Civil Militar no Brasil. Para tanto, abordar-se-ão os conceitos de Memória e Ensino de História, relacionando-os ao período supracitado e à prática que se propõe construir durante a pesquisa e confecção do produto desejado posteriormente.

Comecemos com uma obviedade: ensinar e aprender História não são ações fáceis. Vários pontos de inflexão corroboram com tal afirmativa, sejam eles colocados pela Teoria da Ciência da História, ou pela Teoria do Ensino de História, como é chamada no Brasil a adoção da História enquanto disciplina propedêutica para a Educação Básica nos níveis Fundamental I e II e Médio.

 Docentes e discentes enfrentam verdadeiros desafios de aplicação e de compreensão do fazer histórico, elencamos aqui dois desses aspectos: um teórico e um relacionado a conteúdos substantivos. Os estudos teóricos que tratam da História – Teoria da História e Teoria do Ensino de História – tem criado metodologias de ensino e aprendizagem através das quais se buscará alcançar os objetivos das aulas. Por exemplo uma aula expositiva dialogada sobre os povos pré-cabralinos para o sétimo ano do Ensino Fundamental II[2], coloca para a professora ou o professor o desafio de, a partir de sua exposição (método utilizado), tornar inteligível tal tema que exige uma grande capacidade de abstração por parte dos alunos, levando ainda em consideração a pluralidade e a diversidade de cada turma. Já a abordagem de determinado “conteúdo substantivo”[3] – como as relações de suserania e vassalagem do período medieval europeu por exemplo, enfrenta questionamentos que vão desde “porque precisamos aprender esse conteúdo se o Brasil não existia no período conhecido como Idade Média?” até a relação que se faz com a profusão de filmes da temática utilizada como exemplo.

Nesse contexto de dificuldades postas para o ensino de História enquanto disciplina escolar, apresenta-se o período da Ditadura Civil Militar enquanto conceito substantivo a ser trabalhado no Ensino Médio que passa por questionamentos, questionamentos esses que impõe dificuldades metodológicas cada vez maiores para docentes abordarem o assunto.

AS MEMÓRIAS DO AUTORITARISMO MILITAR: DE ENTRAVES PARA O ENSINO À POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM

        A Ditadura Civil Militar[4] , que se iniciou em abril de 1964 e teve fim oficial em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves para o cargo de presidente da República Federativa do Brasil faz, parte desse rol de conteúdos “polêmicos” e que também apresentam dificuldades de aplicação metodológica relacionadas ao ensino de História no Brasil[5] e à formulação dos Currículos Básicos por todo o país.

        É mister afirmar o pressuposto de que existe um senso comum quanto à temática. Isso mostrou-se corroborado pelas recentes solicitações de intervenção militar na gestão do Estado Brasileiro (retomadas com mais vigor após as manifestações de junho de 2013) por uma parcela da população que tem clamado pela volta da “administração pacífica e exitosa feita pelos militares” no Estado junto aos poderes de representação político-social do Brasil. Esse clamor, em muito, tem sido reproduzido socialmente com base em opinião pública e, por vezes, encontra reverberação no ambiente escolar, lugar de produção e reprodução da sociedade, definido por apresentar visões distintas do conhecimento humano, determinadas, em parte, por sua da cultura histórica. Segundo Jörn Rüsen (RÜSEN, 2015 p. 217):

Cultura histórica é o suprassumo dos sentidos constituídos pela consciência histórica humana.  Ela abrange as práticas culturais de orientação do sofrer e do agir humanos no tempo. A cultura histórica situa os homens nas mudanças temporais nas quais têm de sofrer e agir, mudanças que – a por sua vez – são (co)determidas e efetivadas pelo próprio agir e sofrer humanos. A cultura histórica é capaz de orientar quando viabiliza que as experiencias com o passado humano sejam interpretadas de modo que se possa, por meio delas, entender circunstâncias da vida atual e, com base nelas, elaborar perspectivas de futuro.

Assim, compreender a formulação de tal senso comum como parte constituinte de uma cultura histórica dentro das proposições de Rüsen é possível e necessário. Todavia, tal compreensão não encerra a análise desse senso comum, como também não significa que este pensamento seja endossado pela Ciência da História e pela Ensino de História. Convêm, portanto, para nós, professores, entendermos como tal forma de pensar tem se fixado no discurso discente, ao ponto de haver por parte do alunado um questionamento sobre os acontecimentos históricos do período, ou ainda uma negação de que tais fatos, comprovados em documentações existentes reunidas em diversos estudos historiográficos[6] ,tenham realmente acontecido.

Partimos de uma recorrente experiência pessoal minha, enquanto professor de História, e de relatos de colegas que também lecionam a mesma disciplina, em ambos os níveis de ensino – fundamental II e Médio. O conteúdo Ditadura Civil Militar, segundo a Base Nacional Curricular Comum para Ensino Fundamental II (BNCC) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio são ministrados para o nono ano do Ensino Fundamental II e para a terceira série do Ensino Médio[7].  Em ambas as etapas do ensino, ao realizar um levantamento prévio com estudantes sobre os conhecimentos a respeito do período, via de regra, aparece a resposta “Mas meu pai me disse que naquele tempo tudo funcionava”, ou ainda “Meu avô falava que não era ruim”, “Meu avô me disse que naquele tempo que era bom, porque as pessoas andavam seguras nas ruas”. Tais relatos apresentados pelos estudantes possuem uma referência muito importante para a Teoria da História e para o Ensino de História: a Memória.

        Durante muito tempo, a História foi dissociada da Memória. A primeira seria uma ciência construída através da racionalidade e do método de pesquisa. Os diferentes fins e métodos apresentados para ciência da História convergem para o fato comum de que para ser reconhecido como um estudo histórico é necessário abordar os vestígios do passado – materiais e/ou imateriais – a partir de um rigoroso método de análise desses vestígios e da construção de uma narrativa que consiga relacionar determinados aspectos da sociedade humana, escolhidos por quem está produzindo a pesquisa histórica, partindo de um ou vários problemas do presente que impelem a quem pesquisa a procura por justificativas localizadas nas sociedades do passado. Logo, produzir História demanda uma série de conhecimentos e três preceitos básicos: um problema originado a partir de uma indagação do presente, um rigoroso método de análise dos vestígios recolhidos e uma finalidade específica para tal estudo. Tais pontos permitem que sejam construídas pesquisas dos mais variados temas.[8] 

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