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Resenha: Campos da violência

Por:   •  28/6/2017  •  Resenha  •  1.413 Palavras (6 Páginas)  •  812 Visualizações

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                                                Universidade de Brasília

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HIS – Departamento de História

Disciplina: História do Brasil

Professor: André Cabral Honor

Aluno: Victor Freitas de Souza         15/0022972

Data: 08/06/2017

Resenha: Campos da violência

        Campos da Violência de Silvia Hunold Lara tem como ponto principal analisar as relações sociais presentes no Brasil de séculos XVII e XVIII, mais especificamente fins do XVII e início do XIX, a chamada idade de ouro do tráfico, e logo da escravidão. Silvia H. Lara fez parte de um novo movimento historiográfico que estava muito menos interessado em definir ou caracterizar essa sociedade escravista (debate teórico dos movimentos historiográficos já presentes na época), focando muito mais em ressaltar praticas, costumes, resistências, presentes nessa sociedade, afim de mostrar indivíduos sujeitos de transformações, e um sistema sujeito à essas transformações também, criando valores dentro da própria escravidão e humanizando esses sujeitos, sem a menor intenção de desmerecer esses debates teóricos já presentes.

        Parte das inovações que esse novo movimento historiográfico que a autora faz parte são as novas formas da metodologia de pesquisa. Silvia H. Lara faz um recorte espacial e temporal para realizar sua pesquisa, o tempo, já especificado acima, e o espaço sendo os Campos dos Goitacases, uma região administrativa do Rio de Janeiro, a qual possui rica documentação processual da época em estudo, que a autora irá usar amplamente em sua pesquisa e desenvolvimento de sua teoria. Essa documentação será usada tanto de uma maneira qualitativa quanto quantitativa, usando, por exemplo, casos presentes nessa documentação para exemplificar as relações de dominantes e submissos, e quantificando maior numero de casos para tirar conclusões maiores, como por exemplo, quando ela mostra a presença de vítimas escravas nos crimes de violência física, e ressalta que a maioria desses processos se dava afim de ressarcir o senhor, mais do que punir o agressor.

        É através da análise desses documentos que Silvia H. Lara vai levantar pontos cruciais para o entendimento de sua teoria, e a autora faz isso de uma maneira, como já foi dito anteriormente, a qual ela evita ao máximo formar conclusões por conta própria, ou seja, ela, em nenhum momento, pretende caracterizar ou definir essa sociedade, deixando esse trabalho para o leitor fazer, através dos argumentos que ela levanta em sua obra. Isso é visto claramente na forma de escrita da autora e na forma que ela interpreta os dados que dispõe.

Um dos pontos cruciais a ser entendido no livro é o que Silvia H. Lara chama de castigo incontestado, para exemplificar esse castigo incontestado a autora vai fazer de uso de devassas relativas à violência física em escravos, assim como obras feitas por padres letrados que queriam educar os senhores de escravos. Essa primeira ferramenta vai ser mais útil para explicar o castigo incontestado, na medida que nesses processos o senhor era acusado de fazer de uso de violência maior do que era necessário, ou seja, apesar de que nessas devassas a metrópole queria, de certo modo, punir o senhor demasiadamente violento, em nenhum momento ela acha que o castigo deve parar, assim como os padres letrados que escreveram seus manuais sobre o castigo. Disso conclui-se certo anacronismo na palavra violência usada nesse contexto, visto que o castigo não chegava a ser uma.

        Ainda nessa linha de raciocínio, Silvia H. Lara fala sobre um castigo exemplar, relacionado com o castigo incontestado, visto mais claramente nas obras dos ditos padres letrados, que ao falar sobre as obrigações dos senhores com seus escravos, ressaltam não apenas coisa básicas como roupas, comida, abrigo, mas também colocam como uma obrigação do senhor castigar e ensinar seus escravos. Percebe-se aí uma dimensão pedagógica desse castigo, algo que unia o controle e o amor, ou seja, o castigo era necessário não apenas porque disciplinava os escravos, mas também porque mostrava a preocupação por parte do senhor de ensinar seus escravos a serem “bons”, isso é visto claramente na fala desses padres ao falarem sobre a má índole de certos escravos, que precisavam por conta disso de maior atenção senhorial.

        Com isso vemos a relação entre o castigo exemplar e incontestado, pois para lidar com escravos de má índole não era necessário uso de muita violência física no castigo, mas de uma violência bem especifica, aquela que era justa, moderada, medida, e mais importante, corretiva, se era corretiva por medo ou por amor do senhor na hora de castigar, pouco importa, pois afinal de contas ambos conceitos estavam correlacionados.        

        Sabendo disso, entramos em outro ponto crucial de entendimento da teoria de Silvia H. Lara, que é o controle social, como pode ser visto no livro e nos exemplos acima, dizer que a violência era usada como forma de controle social, é anacrônico, pois como definir essa violência, se ao mesmo tempo que o castigo era algo incontestado e solidário, criminosos eram mortos, esquartejados e queimados em praça pública, outros alegavam sofrer uma violência dos insultos feitos à sua pessoa, que nem mesmo escravos deveriam sofrer. Se a violência não é bem definida como pode ser uma ferramenta de controle social? Com tantos outros casos de misericórdia e bondade do senhor, como definir a violência como principal ferramenta de dominação? Com tantos casos de um sistema que se adapta quase que em favor dos escravizados, como alegar tal coisa?

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