A Independência do Haiti
Por: aimeeseixas • 13/12/2015 • Artigo • 1.294 Palavras (6 Páginas) • 378 Visualizações
UFF - Universidade Federal Fluminense
A INDEPENDÊNCIA DO HAITI
A primeira revolução de escravos bem-sucedida da história, ocorrida entre os anos de 1791 e 1804, refere-se à revolução de Saint-Domingue, atual Haiti. Essa revolução negra acabou culminando no fim da escravidão, em 1793, mas a liberdade legítima dos escravos só se deu a partir da expulsão definitiva dos colonizadores dessas terras. Além disso, a revolução fez de Saint-Domingue a primeira nação negra independente no contexto das lutas contra o imperialismo colonial. A maior parte da população branca foi eliminada ou levada ao exílio.
O Contexto Histórico
Cerca de meio milhão de escravos, dominados por trinta mil brancos, eram responsáveis pela produção de açúcar, principalmente, além de diversos outros produtos da colônia, como algodão, cacau, anil e café. Os mulatos, apesar de já livres, ainda eram submetidos a agressões e extorsões vindas dos brancos escravocratas.
O acúmulo de insatisfações de diversos setores da sociedade em relação ao governo francês enfraquecia ainda mais a relação entre colônia e metrópole, que nunca havia sido tranquila. Nem os libertos (affranchis), em sua maioria mulatos, nem tampouco os produtores de açúcar (grands blancs) estavam de acordo com a administração francesa, que tentava tirar todo o proveito possível da colônia. A ascensão social dos mulatos e, às vezes, até mesmo de alguns negros não era tolerada pelos petits blancs – soldados, artesãos e comerciantes. Em 1780, porém, a população negra havia dobrado, e alguns negros eram inclusive proprietários de terras e até possuíam escravos.
Nesse cenário de descontentamentos, os cultivadores brancos começaram a luta por mais direitos, exigindo reformas no comércio, por exemplo, e ameaçando até mesmo exigir a independência, - assim como já haviam feito os norte-americanos -, caso o governo viesse a interferir no sistema escravista. Os brancos mais ricos não desejavam partilhar o poder político, e, por essa razão, os brancos das classes mais baixas esperavam alguma compensação que pudesse surgir com o desenrolar da revolução na França. Os mulatos livres, por sua vez, buscavam ser tratados da mesma forma que os brancos e desejavam ainda que o sistema de escravos fosse mantido, mas não podiam exercer a maioria das profissões e nem mesmo usar o nome de seus descendentes brancos. Possuíam um terço das plantações e um quarto dos escravos em Saint-Domingue, além de outras propriedades. As demandas crescentes dos mulatos livres e também dos negros ameaçavam, em grandes proporções, a continuidade do status quo.
De acordo com Leslie Bethell, “Todo mundo falava das liberdades da revolução na França e do exemplo dos Estados Unidos. Os grands blancs buscavam sua autonomia. Os mulatos, inflamados pelas mortes de Vincent Ogé e Jean-Baptiste Chavannes (ambos participantes da rebelião armada de 28 de outubro de 1790, que exigia a igualdade para os homens livres de cor.), buscavam a igualdade com os brancos, e eventualmente sua independência. O que nem se pensava ou dizia era que os escravos negros tinham direitos e os mereciam. Mas, dia após dia, estes ouviam os debates de seus senhores. Nas casas grandes, nas plantações, nos povoados, nos mercados, os escravos tomavam consciência de sua condição e das possibilidades que se abriam de escapar dela, tal como havia previsto o lendário rebelde François Macandal em 1758” (Pp. 124-125).
A Revolta
Em maio de 1791, um decreto garantiu que todos os homens de cor livres nascidos de pais e mães livres obtivessem seus direitos políticos. Esse decreto foi conquistado em Paris pelos Amigos dos Negros – uma sociedade criada pelos abolicionistas franceses. Em agosto do mesmo ano, os deputados rescindiram esse decreto após os escravos se rebelarem, dando início à revolta que crescia cada vez mais rápido. Brancos foram eliminados e campos de cana de açúcar e casas de plantações foram queimados por grupos de escravos armados. A culpa logo foi atribuída aos Amigos dos Negros e à difusão de “lugares-comuns sobre os Direitos do Homem”. Os direitos políticos iguais aos negros livres foram concedidos, em 1792, pela França, que também emancipou os escravos em 1794. Vale ressaltar que essa emancipação dada aos escravos de Saint-Domingue ocorreu bem mais “cedo”, levando-se em conta as demais nações que possuíam escravos.
Os negros e mulatos livres se aliavam tanto aos brancos contra os escravos, quanto aos escravos contra os brancos, desempenhando, dessa forma, um papel ambíguo durante todo cenário de revolta. Os Amigos dos Negros enxergavam os homens de cor livres, em 1789, como mediadores no caso de uma possível futura abolição da escravatura, apesar de ver neles também uma fortaleza contra uma grande rebelião de escravos. Ainda que os deputados de Paris tivessem rejeitado incialmente essa visão, os mesmos passaram a considera-la assim que a rebelião tornou-se realidade, em 1792, na esperança de que os homens de cor livres se aliassem aos brancos de classe baixa e às forças francesas
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