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A classe trabalhadora urbana

Por:   •  16/10/2016  •  Resenha  •  1.531 Palavras (7 Páginas)  •  833 Visualizações

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“A classe trabalhadora urbana e os primeiros movimentos trabalhistas na América Latina, 1880-1930”- Michael Hall.

Inicialmente torna-se válido mencionar que o período a ser analisado é datado de 1880 até 1930. Nesse sentido, Michael Hall em seu livro “História da América Latina” descreve muito bem as peculiaridades desse recorte histórico e seus desdobramentos sociais, políticos e econômicos nos países latino-americanos, principalmente sob uma ótica da classe trabalhadora urbana. Logo, o capítulo 7 “A classe trabalhadora urbana e os primeiros movimentos trabalhistas na América Latina, 1880-1930” servirá como base central para parte desta resenha.

Entretanto, antes do aprofundamento nas análises da classe operária latino-americana, é importante salientar a conjuntura daquela época, que, por sua vez, é marcada pela transição do capitalismo periférico acarretada da forte presença das oligarquias e os seus projetos econômicos de desenvolvimento industrial. A característica da produção industrial desses países, inclusive numa perspectiva mundial (como afirma Hall na página 283) era de exportação de produtos primários e importação de produtos manufaturados, o que proporcionava uma dependência das economias estrangeiras. Essa relação é desigual em sua essência porque o desenvolvimento de certas partes no sistema ocorre as custas do subdesenvolvimento de outras, e esse processo todo envolve diretamente a superexploração do trabalhador latino, uma vez que políticas públicas também não faziam parte desse projeto oligárquico.

Devido a essa conjuntura, o movimento trabalhista começa a se organizar a partir do final do século XIX e início do século XX, cujos negócios urbanos alcançaram proporções significativas em quase toda a América Latina, entretanto ainda com muitas limitações políticas. Sendo assim, Hall aponta que as práticas políticas desses trabalhadores não eram uniformes, e que prevaleciam as táticas dos trabalhadores assalariados.

Outra característica que afetou as relações trabalhistas de forma inegável foi a política de imigrações adotada. No Brasil, por exemplo, a importação desses imigrantes para trabalharem majoritariamente nas lavouras de café proporcionou um grande impacto no mercado urbano. Tal política se baseou em dois principais quesitos: obter mão de obra barata no campo, e diminuir o poder de barganha dos trabalhadores locais. Nesse contexto, Hall ressalta que:

“A criação de um grande exército de reserva nas primeiras fases do processo de industrialização tornou a organização trabalhista especialmente difícil em vários dos países mais importantes da América Latina, principalmente porque a eficácia do recurso da greve diminui consideravelmente quando os grevistas podem ser substituídos rapidamente.” (p.287)

Outro aspecto importante foi a truculência e intransigência da burguesia, donos de indústrias e do próprio Estado em relação as demandas trabalhistas. Essa reação se deu principalmente pelo fato das instituições e classes dominantes não conseguirem articular formas de controle ideológicas sobre a força de trabalho, uma vez que, todo esse processo de industrialização se deu rapidamente em países historicamente agroexportadores.

Inclusive, o fato de muitos donos de indústrias serem estrangeiros (principalmente norte-americanos e ingleses na mineração e no empacotamento de carnes) e terem práticas discriminatórias na contratação, acabou por gerar um “ressentimento contra a propriedade estrangeira” segundo Hall, que também contribuiu para a tomada da consciência da classe trabalhadora.

Michael afirma que os Estados latino-americanos eram economicamente liberais, no entanto tinham um papel político muito bem demarcado no que se referia à repressão de qualquer manifestação trabalhista. Um exemplo dessa repressão foi o caso do Chile na primeira década do século XX, aonde o Estado ordenou uma série de massacres, matando centenas de trabalhadores que estavam em curso de greve e manifestações por melhores condições de trabalho e salário em Valparaíso, Santiago, e Atofagasta. Nas minas de nitrato em Iquique, milhares de mulheres, homens e crianças morreram nesse processo. Esses episódios sangrentos aconteceram repetitivamente em vários países da América Latina.  

Outro tipo de violência contra os trabalhadores, a fim de desmobilizar o movimento, se dava quando o Estado fechava e saqueava os sindicatos, ou então proibia manifestações ordenando a prisão e espancamento de líderes militantes. Nesse sentido, Michael Hall destaca em seu texto na página 291, que todos esses acontecimentos foram reflexos da falta de leis sociais e trabalhistas para amparar o proletariado. Tal legislação só começou a ganhar corpo a partir da década de 30.

Posteriormente, o autor faz um apanhado da composição do movimento operário na América Latina até a primeira Guerra mundial. Ao longo desse período percebe-se que esses países latinos foram os maiores abastecedores de produtos primários do mundo. Para tal, como já foi mencionado anteriormente, esse destaque certamente foi pautado na exploração da mão de obra trabalhista. Hall identifica o perfil desses operários e algumas das dificuldades enfrentadas pelo movimento. Verifica-se que em capitais como São Paulo e Buenos Aires os trabalhadores estrangeiros como italianos, portugueses e espanhóis estavam fortemente presentes. Já no Rio de Janeiro e em Havana, parte significativa da classe trabalhadora era composta por ex- escravos nascidos na áfrica e seus descendentes. No México, a imigração atlântica foi um pouco menor, mas mesmo os migrantes internos sofreram algumas dificuldades de adaptação.

Hall aponta que ao contrario do que se esperava, os imigrantes europeus vieram com pouca tradição política para organizar a sua classe trabalhadora. Isso se dava devido a dois principais fatores. O primeiro ocorria porque parte desses imigrantes era abrigada por outros imigrantes do mesmo país que cresceram de certa forma na América Latina, isso acabou por desenvolver uma relação paternalista que dificultava qualquer organização de resistência. O segundo motivo foi o individualismo de obter o reterno econômico o mais breve possível para voltar a sua terra natal. Além disso, as leis que foram institucionalizadas pelos Estados de expulsão sumária de estrangeiros que estivessem envolvidos em manifestações trabalhistas ou greves foram significativas para as dificuldades de desenvolver uma forte e integrada classe trabalhadora.  

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