As Escritas e Histórias
Por: Robass • 6/5/2018 • Dissertação • 1.718 Palavras (7 Páginas) • 187 Visualizações
Ao falar de educação no Brasil, inicialmente somos levados apensar em um grande processo Jesuíta de catequização, assim como em outras partes da América Latina. Focado em dogmas religiosos, recheado de euro centrismo, que remetia a um discurso de dominação e despidos de senso crítico, desde o período colonial há uma série de dificuldades de implementação desse ensino que incialmente foi herdeiro da Idade Média. Além de por muito tempo ser direcionado a uma elite branca e abastada. Visto que esse se tratava de um período de transição na Europa, a medida que o ensino ia sendo reformulado com o passar do tempo, com implementação das aulas regias por exemplo, sem surtir drásticas mudanças, mas tendo um afastamento da igreja, refletido do iluminismo europeu, começa a partir daí a buscar um tipo de ensino mais voltado ao lado um pouco mais científico. Os primeiros livros didáticos de História do Brasil partiam do mundo europeu, contando a história dos vencedores. Esse modelo criado a muito tempo, em uma ótica muito diferente da atual, de certa forma perdura até hoje. Com a independência e a criação da nação começa a ser trabalhada a nacionalidade. Nesse ponto a história e a geografia passam exercer esse papel, objetivado por criar um sentimento de pertencimento dos indivíduos a nação, trata-se de uma produção de identidade nacional.
De um ponto de vista prático, o ensino de história é marcado por suas origens. Podemos notar em Cerri (2011), que “socialmente esperava-se que o ensino de história contribua de modo decisivo para a formação do cidadão em nossas sociedades, cimentando-o ao espirito público, ao amor pelo país, aos interesses coletivos, por meio da vinculação de todos a um passado comum”. Nessa ótica apresentada, nos períodos ditatoriais no Brasil, a história esteve atrelada a esse serviço de instrução nacional, onde a escola era incluída dessa ideia, seguindo interesses nacionais juntamente ao governo militar. Esse período é marcado por um ensino carregado por ideias tradicionalistas e não detinha um caráter crítico ou questionador, período esse em que professores e intelectuais, preocupados com o ensino de história, formularam propostas de inovação, para além da nacionalidade, visavam uma história crítica, abrindo também, espaço para uma história das minorias, reformas inspiradas na corrente marxista e na nouvelle histoire, como pode ser visto em Cerri (2011), esse foi considerado um período de declínio e a aprendizagem passava por um período de penúria. Se mostrando fraca a ideia base de criar uma identidade social através da história, essa função foi sendo deslocada para outros meios como a comunicação em massa, ou de certa forma era esquecida. Nós vivemos em um período onde essas ideias iniciais não fazem tanto sentido, visto que a ideia de identidade coletiva está cada vez mais fragmentada, os indivíduos agem cada vez mais buscando seus próprios objetivos não se preocupando com o bem coletivo, suas lutas, salvo alguns casos, não mais afetam de modo geral a estrutura social.
Vencido esse período de formação de identidade nacional, de cidadania, se instaura a questão de qual seria o papel da história? Sendo um elemento que faz uma ligação entre o passado e o presente, visando ações para o futuro, a história, teoricamente teria o papel de levar ao indivíduo outras perspectivas, para além do seu meio social ou o do seu recorte temporal, afim de que por aí se desenvolva um senso de crítica ao seu próprio meio social, além de dialogar com seu próprio passado. Essa ideia aplicada a realidade parece um tanto utópica, tendo em vista que, na prática o ensino não funciona dessa maneira. Dispomos de um material didático construído em uma perspectiva que valoriza a história dos vencedores, que traz leves pinceladas a nossa própria história ou as minorias, além de ser um conteúdo generalizado, e interpretações que não atiçam o aluno a desenvolver um senso crítico de fato. Um historiador busca nos documentos o que lhe convém, de acordo com a época que está sendo escrita ou do seu meio social, essa visão varia, e de certa forma a narrativa produzida dialoga com sua realidade. Bloch (2001), “o conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da maior parte deles no presente, deve ser um conhecimento através de vestígios (...) o que entendemos efetivamente por documentos senão um "vestígio" quer dizer, a marca, perceptível aos sentidos, deixada por um fenômeno em si mesmo impossível de captar”... A narrativa que podemos ver presente nos materiais didáticos, tratam de recortes constituídos de perspectivas de historiadores, que varia de pessoa a pessoa, de tempo em tempo, posto que na maioria das vezes é reproduzida em sala de aula uma ideia que já chega pronta e que por muitos casos não é discutida ou criticada pelos professores, sendo apenas repassada aos alunos. Não se tratando de uma verdade única, a história está aberta ao diálogo, ao questionamento, partindo desse pressuposto, expor a ideia de que um documento pode gerar diferentes pontos de vista, quebrando a ideia de que o material didático traz uma verdade absoluta, seria um começo para fugir de uma abordagem conteudista. Tendo em vista que o historiador ao fazer uma análise de um período passado, está automaticamente introduzindo perspectivas de seu próprio contexto social e temporal, a elaboração de narrativas, como vistas em materiais didáticos, carregam um certo tom de ficção, que remete a perspectiva presente em Certeau (2008), que apresenta o conceito de que, “o passado é, também, ficção do presente e o mesmo ocorre em todo verdadeiro trabalho historiográfico”, partindo dessa premissa, um professor de história, afim de fugir de seu manual didático, abriria de certa forma a mente de seus alunos apresentando uma bibliografia díspar a apresentada nos manuais, expondo dessa forma para o aluno um viés diferente do corriqueiro, criando a possibilidade de inquietação e questionamento no meio escolar.
Tendo em vista que o ensino de história dialoga com o senso comum, sendo ministrado de forma crítica, em um debate aberto a diversas perspectivas, pode de certo modo desenvolver no aluno um espirito questionador. Partindo dessa premissa o aluno e levado a fazer uma leitura histórica do mundo em termos críticos. Ministrado de forma semelhante a apresentada, o desenvolvimento da de uma boa leitura auxilia no processo de aprendizado de outras disciplinas, além do fato de que a experiência adquirida pode ser traduzida em seu próprio meio social, sustentando um olhar mais cuidadoso e inquieto para as questões do dia a dia
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