Músicas Era Vargas

Trabalho sobre músicas na Era Vargas

Contextualização

Antes da introdução ao uso das músicas como recursos para o ensino de história na prática docente em sala da aula, é necessária uma contextualização histórica dentro do período a ser trabalhado. No nosso caso, a Era Vargas.  Diante disso, a explicação da importância do rádio será necessária. O rádio foi introduzido no Brasil no início do século XX, tornou-se, nos anos 1930, popular meio de comunicação, o que justifica o fato de o período ser designado como “Era do Rádio”. Vargas tornou-o um importante veículo de comunicação de massas. Considerando esse contexto, foi expressivo o papel que a música assumiu como instrumento de propaganda ou crítica a seu governo.

Desenvolvimento

Diante da questão levantada, trabalharemos com análise de algumas canções em que se evidenciam aspectos de exaltação da figura e do governo de Vargas e, também, com aquelas que serviram à realização de importantes críticas a ele. Como por exemplo:  a música Lenço no Pescoço de Wilson Batista que faz uma exaltação a vida vadia (vadiagem) que era condenada no governo Vargas. Contrapondo, a música o Bonde de São Januário escrita anos depois pelo próprio Wilson e a música é negócio casar de Ataulfo Alves que relata a imagem de “malandro regenerado”.

Objetivo

                    Ao abordar o uso da letra e música como recurso didático, temos como objetivo a incorporação da linguagem musical ao ensino de História, onde a forma e o conteúdo integram-se como força de expressão, como referencial de manifestação e comunicação. Sendo assim, a análise da canção possibilita ao aluno uma interpretação direta sobre tempo, espaço, e o mais importante a interpretação do discurso do período trabalhado. Ajudando a compreender que a música tem um papel importante dentro das relações sociais e na construção do conhecimento histórico.

       Músicas na Era Vargas:

1. Comendo Bola (1929) - Jaime Redondo E Orquestra
2. Lenço no Pescoço (1930) - Wilson Batista
3. G E Gê (1931) - Almirante E Bando De Tangarás
4. Com que roupa (1931) -  Noel Rosa
5. A menina Presidência (1937) - Silvio Caldas
6. Glórias Do Brasil (1938) - Nuno Roland
7. O Bonde São Januário (1940) - Wilson Batista
8. E O Negócio É Casar (1941) -  Ataulfo Alves
9. Brasil Brasileiro (1942) - Carlos Galhardo
10. Retrato do Velho (1950) – Haroldo Lobo

Música 1: Comendo Bola
Autores: Hekel Tavares e Luis Peixoto
Intérprete: Jaime Redondo com o Grupo Regional
Gênero: Marchinha
Gravadora: Disco Columbia
Ano de lançamento: 1929
Audição da música: https://www.youtube.com/watch?v=s5hKxJ9bKBk
Letra: Gaúcho, meu irmãozinho                           Meu irmãozinho mineiro                             Seu Julinho é que vai ser                             Porque esse tá de Julinho É um caboclo brasileiro Brasileiro como quê Tudo o mais é gauchada Tudo o mais não vale nada Meu irmãozinho gaúcho Se tu amarra a cavalada Vendo as coisa mal parada Não agüenta com o repuxo Getúlio, Você tá comendo bola Não te mete com seu Júlio (2x) Que seu Júlio tem escola	Atrás do liberalismo Ninguém vá que esse cinismo É potoca, é brincadeira Eu conheço muito tolo Que acabou levando bolo E bateu na geladeira Eles pensam, seu Julinho Que esse povo é zé-povinho Que isso é pau de galinheiro Que sem nota e sem carinho O Brasil anda sozinho Porque Deus é brasileiro
Comentário: A canção “comendo bola” entra no contexto para explicar a Revolução de 30 e os desdobramentos entre a derrota de Getúlio e a sua posse através da Revolução. Tudo começa com a derrota de Getúlio Vargas para Júlio Prestes, na eleição de 1930. A 26 de julho daquele ano, João Pessoa candidato a vice na chapa derrotada, foi assassinado a tiros na Confeitaria ‘A Glória’, do Recife, por seu desafeto João Dantas, por motivos estritamente pessoais. Apesar disso, a oposição transformou o fato em instrumento político, jogando o povo contra o governo. Daí nasce a Aliança Liberal, formada pelos estados do Rio Grande do Sul, da Paraíba e de Minas Gerias, que depõe Washington Luíz e põe Getúlio no poder, a famosa Revolução de 30. “Comendo bola” é nitidamente a favor de Júlio Prestes: “Getúlio, você tá comendo bola/ Não te mete com seu Júlio/ Não te mete com seu Júlio/ que seu Júlio tem escola”. Diante disso, a canção pode ser trabalhada para explicar às eleições de 1930 e a tomada de Getúlio Vargas. Mostrando a importância da música dentro do cenário político da época como porta voz dos acontecimentos históricos.

Música 2: Lenço no Pescoço

Autores: Wilson Batista

Intérprete: Sílvio Caldas

Gênero: Samba

Gravadora: Victor

Ano de lançamento: 1930

Audição da música: https://www.youtube.com/watch?v=vmD6D0zAGnc

Letra: Meu chapéu do lado Tamanco arrastando Lenço no pescoço Navalha no bolso Eu passo gingando Provoco e desafio Eu tenho orgulho Em ser tão vadio Sei que eles falam Deste meu proceder Eu vejo quem trabalha Andar no miserê Eu sou vadio Porque tive inclinação Eu me lembro, era criança Tirava samba-canção Comigo não Eu quero ver quem tem razão E eles tocam E você canta E eu não dou

Comentário: “Lenço no pescoço” é uma canção para ser analisada a questão da malandragem boemia do período, versos a exaltação do trabalho e da figura do trabalhador. A vida de malandro era considerada uma vida de vadiagem e a exaltação dessa figura não é favorável ao governo que prioriza o trabalho. A canção não foi bem aceita entre os outros sambistas e o próprio governo de Getúlio. Anos depois o mesmo autor lança o bonde de São Januário que após passar pela censura do DIP, enaltece a figura do trabalhador e sua felicidade ao estar inserido dentro da política populista de Getúlio. Diante disso, as canções podem ser trabalhadas para a discussão da política trabalhista e a importância da propaganda no governo Getúlio e questão da censura nos meios de comunicação.

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