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O PERIODO COLONIAL NO BRASIL, FRAGMENTADA A VINDA DE D. JOÃO VI e FAMILIA REAL

Por:   •  8/7/2017  •  Artigo  •  8.093 Palavras (33 Páginas)  •  849 Visualizações

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PPI: PROJETO DE PESQUISA

Campus Santana

Daise Clar                          1418199

Gina Silvana                      1414787

Joelma Alves                     1314493

José Carlos                        1414960

Laysa Daniele                    1413212

Michele Santos                  1418232

Rafael Portugual                1412138

 

São Paulo, Abril  de 2015

PPI: PROJETO DE PESQUISA

O PERIODO COLONIAL NO BRASIL, FRAGMENTADA A VINDA DE

 D. JOÃO VI e FAMILIA REAL

        

                                                          Sumário

Introdução.....................................................................................................................

4

A fuga da Família Real.................................................................................................

5

A Chegada da Família Real no Brasil..........................................................................
Conclusão.....................................................................................................................

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18

Bibliografia...................................................................................................................

19



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Observação: Documentos Analisados em anexo.

Introdução

        Este artigo faz parte de um conjunto de reflexões, do período colonial fragmentada a partir da vinda da família colonial ao Brasil.

          As transformações que ocorreram no Brasil durante este período em que Dom Joao VI com sua corte por consequência da situação politica e econômica de Portugal, que sofria com as constantes ameaças francesas.   Na época Napoleão Bonaparte tinha como intuito dominar toda a Europa, e temendo ser destronados, a família real portuguesa vê apenas uma alternativa: Fugir para o Brasil e regressar apenas quando a situação estivesse mais tranquila.    

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A Corte em Fuga

          Neste contexto Histórico, em 29 de novembro de 1807, as tropas de Napoleão já estavam próximas de Lisboa, com isso a família real e toda sua corte portuguesa deixaram Portugal em fuga para o Brasil. Eram cerca de dez mil pessoas, nos quatorze navios além da família real, vieram centenas de funcionários, criados, assessores e pessoas ligada a corte portuguesa. Trouxe também muito dinheiro, obras de artes, documentos, livros, bem pessoais e outros objetos de valores. Esta transferência da corte portuguesa dava-se para sua colônia mais importante o Brasil.                          
         Um livro que usamos também como auxílio para a compreensão do que aconteceu é o 1808 de Laurentino Gomes. Onde t
udo começa quando Napoleão Bonaparte declara o Bloqueio Continental, o qual nenhum país europeu poderia comercializar com a Inglaterra. Desobedecendo a esse bloqueio, Portugal decide a continuar comercializando com o mesmo.
          Quando Napoleão estava pronto para atacar Portugal, a família real e grande parte da nobreza decide fugir para o Brasil (sua maior colônia) com a proteção da marinha inglesa. Levam consigo todas as riquezas portuguesas com eles (deixando o povo totalmente indefeso e abandonado).
          Sem o rei, o país ficava à míngua e sem rumo. Dele dependiam toda a atividade econômica, a sobrevivência das pessoas, o governo, a independência nacional e a própria razão de ser do Estado português. Para complicar ainda mais a situação, Portugal era um dos países mais atrasados da Europa no que diz respeito às ideias e reformas políticas. Ao contrário da Inglaterra e da Holanda, em que a realeza ia gradativamente perdendo espaço para os grupos representados no Parlamento, em Portugal ainda vigorava o regime de monarquia absoluta. Ou seja, o rei tinha o poder total. Cabia a ele não só criar as leis, mas também executá-las e interpretá-las da forma que julgasse mais adequada. Os juízes e as câmaras municipais existentes funcionavam como meros braços auxiliares do monarca, que podia desautorizar suas opiniões e decisões a qualquer momento.
         Antes de explicar a fuga, é importante esclarecer que nessa época, o trono de Portugal não era ocupado por um rei mas por um príncipe regente. Dom João reinava em nome de sua mãe, Dona Maria I. Declarada insana e incapaz de governar, a rainha vivia trancafiada no Palácio de Queluz, a cerca de dez quilômetros de Lisboa. Segundo filho da rainha louca, Dom João não tinha sido educado para dirigir os destinos do país. Seu irmão mais velho e herdeiro natural do trono, Dom José, havia morrido de varíola em 1788, aos 27 anos. Além de despreparado para reinar, Dom João era um homem solitário às voltas com sérios problemas conjugais. Em 1807, fazia três anos que vivia separado da mulher, a princesa Carlota Joaquina, uma espanhola geniosa e mandona com quem tivera nove filhos, um dos quais havia morrido antes de completar um ano. O casal, que se odiava profundamente, dormia não apenas em camas separadas, mas em palácios diferentes e distantes um do outro. Carlota morava em Queluz, com a rainha louca. Dom João, em Mafra, na companhia de centenas de frades e monges que viviam à custa da monarquia portuguesa.
         O príncipe regente era tímido, supersticioso e feio. O principal traço de sua personalidade e que se refletia no trabalho, no entanto, era a indecisão. Espremido entre 12 grupos com opiniões conflitantes, relutava até o último momento a fazer escolhas. As providências mais elementares do governo o atormentavam e angustiavam para além dos limites. Por isso, costumava delegar tudo aos ministros que o rodeavam. Em novembro de 1807, porém, Dom João foi colocado contra a parede e obrigado a tomar a decisão mais importante da sua vida. A fuga para o Brasil foi resultado da pressão irresistível exercida sobre ele pelo maior gênio militar que o mundo havia conhecido desde os tempos dos césares do Império Romano: Napoleão Bonaparte. Em 1807, o imperador francês era o senhor absoluto da Europa. Seus exércitos haviam colocado de joelhos todos os reis e rainhas do continente, numa sucessão de vitórias surpreendentes e brilhantes. Só não haviam conseguido subjugar a Inglaterra. Protegidos pelo Canal da Mancha, os ingleses tinham evitado o confronto direto em terra com as forças de Napoleão. Ao mesmo tempo, haviam se consolidado como os senhores dos mares na batalha de Trafalgar, em 1805, quando sua Marinha de guerra, sob o comando de Lord Nelson, destruiu, na entrada do Mediterrâneo, as esquadras combinadas da França e da Espanha. Napoleão reagiu decretando o bloqueio continental, medida que previa fechamento dos portos europeus ao comércio de produtos britânicos. Suas ordens foram imediatamente obedecidas por todos os países, com uma única exceção: o pequeno e desprotegido Portugal. Pressionado pela Inglaterra sua tradicional aliada, Dom João ainda relutava em ceder às exigências do imperador. Por essa razão, em novembro de 1807 tropas francesas marchavam em direção à fronteira de Portugal prontas para invadir o país e destronar seu príncipe regente. Encurralado entre as duas maiores potências econômicas e militares de sua época, Dom João tinha pela frente duas alternativas amargas e excludentes. A primeira era ceder às pressões de Napoleão e aderir ao bloqueio continental. A segunda, aceitar a oferta dos aliados ingleses e embarcar para o Brasil levando junto a família real, a maior parte da nobreza, seus tesouros e todo o aparato do Estado. Aparentemente, era uma oferta generosa. Na prática, tratava-se de uma chantagem. Se Dom João optasse pela primeira escolha e se curvasse às exigências de Napoleão, a Inglaterra repetiria em Portugal o que já havia feito, meses antes, na também relutante Dinamarca. Na manhã de 12 de setembro de 1807, os habitantes de Copenhague, a capital dinamarquesa, acordaram sob uma barragem de fogo despejada pelos canhões dos navios britânicos ancorados diante do seu porto. O bombardeio durou quatro dias e quatro noites. Ao final, 2000 pessoas estavam mortas. No dia 7, Copenhague capitulou. Os ingleses se apoderaram de todos os navios, materiais e munições, deixando a cidade sem defesas. No caso de Portugal, as conseqüências poderiam ser ainda piores. Se o príncipe regente aderisse a Napoleão, os ingleses não só bombardeariam Lisboa e seqüestrariam a frota portuguesa como muito provavelmente tomariam suas colônias ultramarinas, das quais o país dependia para sobreviver. Com o apoio dos ingleses, o Brasil, a maior e mais rica dessas colônias, provavelmente declararia sua independência mais cedo do que se esperava, seguindo o exemplo dos Estados Unidos e de seus vizinhos territórios espanhóis. E, sem o Brasil, Portugal não seria nada. Havia, obviamente, uma terceira alternativa, que sequer foi considerada por Dom João. Seria permanecer em Portugal, enfrentar Napoleão e lutar ao lado dos ingleses na defesa do país, mesmo correndo o risco de perder o Trono e a Coroa. Os fatos mostrariam mais tarde que as chances de sucesso nesse caso eram grandes, mas, em 1807, essa opção não estava ao alcance do inseguro e medroso príncipe regente. Incapaz de resistir e enfrentar um inimigo que julgava muito mais poderoso, decidiu fugir. "Preferindo abandonar a Europa, Dom João procedeu com exato conhecimento de si mesmo", escreveu o historiador Tobias Monteiro. "Sabendo-se incapaz de heroísmo, 13 escolheu a solução pacífica de encabeçar o êxodo e procurar no morno torpor dos trópicos a tranqüilidade ou o ócio para que nasceu."
         A invasão iminente de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte obrigou o príncipe regente Dom João a optar pela fuga, mas os planos de mudança para o Brasil eram uma idéia quase tão antiga quanto o próprio império português. Ressurgia sempre que a independência do país estava ameaçada pelos vizinhos e tinha uma forte razão geopolítica. Apesar de ter inaugurado a era das grandes descobertas e navegações 17 marítimas, Portugal não passava de um país pequeno e sem recursos. Espremido pelos interesses de seus vizinhos mais poderosos e constantemente ameaçado por eles, não tinha braços nem exércitos para se defender na Europa e muito menos para colonizar e proteger seus territórios além-mar, a fuga para o Brasil, onde haveria mais riquezas naturais, mão-de-obra e, em especial, maiores chances de defesa contra os invasores do reino, foi, portanto, uma opção natural e bem avaliada. "Era um alvitre amadurecido, porquanto invariavelmente lembrado em todos os momentos difíceis", observou o historiador Manuel de Oliveira Lima. No começo do século XIX, Portugal tinha uma total dependência em relação ao Brasil. O ouro, o fumo e a cana-de-açúcar produzidos na colônia constituíam o eixo de suas relações comerciais. O volume de bens e mercadorias importados da colônia chegou a ser quase duas vezes superior às exportações. A balança comercial era, portanto, favorável aos brasileiros na proporção de dois para um. Sessenta e um por cento das exportações portuguesas para a Inglaterra, seu principal parceiro comercial na época, saíam do Brasil. Dos trezentos navios lusitanos que atracavam por ano no porto de Lisboa, um terço estava diretamente dedicado ao comércio com o Brasil. Depois de observar a pujança da economia colonial, o viajante inglês Arthur William Costigan escreveu que a própria existência dos portugueses como povo, "e seu apoio direto ao trono", dependiam do Brasil. A dependência tinha crescido gradativamente desde que Vasco da Gama havia aberto o caminho para as índias e Pedro Álvares Cabral aportado sua esquadra na Bahia. No mesmo ritmo aumentavam as ameaças à riqueza e à autonomia do reino. Em 1580, menos de um século depois do descobrimento do Brasil, o rei Felipe II, da Espanha, assumiu também o trono português, vago com o desaparecimento do rei Dom Sebastião numa cruzada contra os mouros no Marrocos, dois anos antes.
         Dom João leu os termos da intimação de Bonaparte: Portugal deveria aderir ao bloqueio continental, declarar guerra à Inglaterra, retirar seu embaixador em Londres (Dom Domingos de Sousa Coutinho, irmão de Dom Rodrigo), expulsar o embaixador inglês de Lisboa e fechar os portos portugueses aos navios britânicos. Por fim,teria que prender todos os ingleses em Portugal e confiscar suas propriedades. Amedrontado, o conselho aprovou imediatamente as condições impostas por Napoleão, com duas ressalvas: os ingleses não seriam presos, nem suas propriedades confiscadas. Uma segunda reunião foi realizada, também no Palácio de Mafra, no dia 26 de agosto, na qual os termos da resposta a Napoleão foram aprovados e a correspondência imediatamente despachada para Paris. Era tudo um jogo de faz-de-conta, uma partida perigosa, na qual Portugal tentava blefar simultaneamente com Napoleão e com a Inglaterra. Enquanto fingia aceitar o ultimato da França, negociava com a Inglaterra uma solução diferente para o impasse. 19 "Na guerra entre a França e a Inglaterra, Portugal fazia o papel do marisco na luta entre o rochedo e o mar", assinalou o historiador brasileiro Tobias Monteiro. Logo depois de encerrada a reunião, o representante inglês em Lisboa, Percy Clinton Sidney, visconde de Strangford, escreveu ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, George Canning, dando uma versão dos acontecimentos bem diferente do que relatava a carta enviada a Napoleão. Segundo Strangford, Portugal tentava apenas ganhar tempo com "um aparente sistema de hostilidades". A guerra com a Inglaterra seria oficialmente declarada, mas era apenas uma dissimulação. Enquanto isso, o governo português pedia que os britânicos não invadissem suas colônias nem atacassem os seus navios mercantes. Espremido entre as duas potências rivais, Portugal tinha a seu favor a precariedade das comunicações e dos transportes. Em 1807, o envio de uma carta de Lisboa para Paris demorava cerca de duas semanas. Os correios viajavam por estradas de terra esburacadas, que ficavam praticamente intransitáveis em dias de chuva. Para ir e voltar gastava-se um mês ou até mais. De Lisboa a Londres, por mar, levava-se pelo menos sete dias. A lentidão permitia aos portugueses ganhar tempo enquanto tentavam, com a Inglaterra e com a França, uma saída mais honrosa ou aceitável para o seu frágil reino colonial. Ao receber os termos da contraproposta portuguesa, Napoleão reagiu como se previa: mandou avisar que, se Dom João não concordasse com suas exigências, Portugal seria invadido e a dinastia de Bragança, sobrenome da família real portuguesa, seria destronada. No dia 30 de setembro, reunido no Palácio da Ajuda, em Lisboa, o Conselho de Estado finalmente recomendou que o príncipe regente preparasse seus navios para partir. No começo, pensou-se em enviar para o Brasil somente o príncipe da Beira, como era chamado o filho mais velho de Dom João. Aos oito anos, o futuro imperador Pedro I do Brasil era o herdeiro natural do trono português. Dom João chegou a assinar, em 2 de outubro de 1807, uma proclamação ao povo brasileiro, pedindo que recebesse e defendesse o príncipe. Rapidamente, no entanto, o plano evoluiu para algo mais ambicioso: transferir a corte inteira com o governo, os funcionários e o aparato de Estado. Em resumo, toda a elite portuguesa. Em meados de outubro, a decisão de transferir a corte para o Brasil já estava tomada de forma definitiva. Por intermédio de seu embaixador em Londres, Dom João tinha assinado um acordo secreto com a Inglaterra pelo qual, em troca de proteção naval durante a viagem para o Rio de Janeiro, abriria os portos do Brasil ao comércio com as nações estrangeiras. Até então, só navios portugueses tinham autorização para comprar ou vender mercadorias na colônia. Enquanto fechava acordos secretos com a aliada Inglaterra, Dom João persistia naquele seu jogo de faz-de-conta com os franceses. Nas vésperas da partida, chegou a anunciar a proibição da entrada de navios britânicos nos portos portugueses, a prisão e o confisco de todos os bens de cidadãos britânicos residentes em Lisboa. Ao mesmo tempo, enviou um embaixador a Paris, o marquês de Marialva, prometendo total capitulação aos franceses. Para adoçar Napoleão, o diplomata levou de presente uma caixa de diamantes. Também sugeriu que Dom Pedro, o filho mais velho de Dom João, se casasse com alguma princesa da família de Napoleão. Marialva teve seu passaporte confiscado e ficou preso em Paris, mas, ao agir dessa forma, Dom João conseguiu enganar Napoleão, fazendo-o crer, até as vésperas da partida, que Portugal se sujeitaria às suas ordens. No dia 12 de novembro, o correio de Paris chegou a Lisboa com mais um recado assustador de Napoleão: "Se Portugal não fizer o que quero, a Casa de Bragança não reinará mais na Europa dentro de dois meses". A essa altura, o exército francês já estava 20 cruzando os Pirineus, a cadeia montanhosa na fronteira da França com a Espanha, em direção a Portugal. No dia 5 de novembro, o governo português ordenou finalmente a prisão dos ingleses residentes em Lisboa e o seqüestro de seus bens. Antes, fiel ao seu jogo duplo, preveniu Lord Strangford para se proteger. Como parte da política de fingimento, o próprio conde da Barca, líder do "partido francês" na corte portuguesa, propunha o seqüestro dos bens ingleses em Portugal, mas às escondidas negociava com os britânicos a indenização das eventuais vítimas da medida. No dia 6 de novembro, a esquadra inglesa apareceu na foz do Rio Tejo, em território português, com uma força de 7000 homens. Seu comandante, o almirante Sir Sidney Smith (o mesmo oficial que havia bombardeado Copenhague dois meses antes), tinha duas ordens, aparentemente contraditórias. A primeira, e prioritária, era proteger o embarque da família real portuguesa e escoltá-la até o Brasil. A segunda, caso a primeira não acontecesse, era bombardear Lisboa. Obviamente, era um jogo de cartas marcadas, em que nenhum dos lados tinha qualquer ilusão a respeito do desfecho. Convencidos de que Portugal se alinharia à Inglaterra, os governos da França e da Espanha já haviam dividido entre si o território português. Pelo tratado de Fontainebleau, assinado pelos dois aliados em 27 de outubro de 1807, Portugal seria retalhado em três partes: a região norte, composta pelas províncias de Entre-Douro e Minho e batizada, pelo tratado, de Lusitânia Setentrional, caberia à rainha regente da Etrúria, Maria Luiza de Bourbon, da dinastia espanhola; Alentejo e Algarve, na região sul, passariam para Dom Manoel de Godoy, o mais poderoso ministro espanhol, também chamado de príncipe da Paz; à França caberia a parte central e mais rica do país, composta por Beira, Trás os Montes e Estremadura. Para grande humilhação dos portugueses, esse pedaço de Portugal foi oferecido ao irmão mais novo de Napoleão, Luciano, que o recusou. "Naquele tempo em que os reinos mais apetecidos andavam quase sem donos, [...] ninguém queria o pequeno Portugal", registrou Oliveira Lima. "Sobretudo sem aquilo que constituía a sua importância, [...] o império colonial." Portugal foi invadido por 50000 soldados franceses e espanhóis. Se quisesse, Dom João poderia ter resistido, com boas chances de vencer. Os soldados enviados por Napoleão eram, em sua maioria, novatos ou pertencentes a legiões estrangeiras que não tinham nenhum interesse em defender as ambições do imperador francês. Seu comandante, o general Jean Andoche Junot, era um oficial de segunda linha - bravo combatente, mas péssimo estrategista. Devido à falta de planejamento e à pressa com que a invasão foi decidida, ao chegar à fronteira de Portugal as suas tropas eram uma legião maltrapilha e faminta. Metade dos seus cavalos tinha perecido no caminho. Restavam apenas seis canhões. Dos 25000 soldados que deixaram a França, setecentos já tinham morrido sem entrar em combate. Um quarto da infantaria tinha desaparecido porque, no desespero para encontrar comida, os soldados haviam se afastado da coluna principal e se perdido. Nas suas memórias, a duquesa de Abrantes, mulher do general Junot, diz que o marido entrou em Portugal "mais como fugitivo do que como enviado para anunciar ao povo a missão de tomar-lhe o país". Ao chegar às portas de Lisboa, os soldados franceses estavam tão fracos que não conseguiam se manter de pé. Muitos obrigavam os portugueses a carregar suas armas. "Estávamos numa situação difícil de acreditar", escreveu o barão Paul Thiébault, que participou da invasão como general-de-divisão de Junot. "Nossas roupas tinham perdido a cor e o formato. Meus dedos saíam das botas." "Sem cavalaria, artilharia, cartuchos, sapatos ou comida, cambaleando de fadiga, a tropa parecia mais a evacuação de um hospital do que um exército marchando triunfalmente 21 para a conquista de um reino", anotou o historiador inglês Alan K. Manchester, ao descrever a invasão de Portugal. "Não há exemplo na história de um reino conquistado em tão poucos dias e sem grande resistência como Portugal em 1807", escreveu Sir Charles Oman, professor da Universidade de Oxford e autor do livro A history of the Peninsular War, a mais importante obra sobre a campanha de Napoleão na Península Ibérica. "É surpreendente que uma nação, habituada desde os tempos mais remotos a se defender repetidas vezes com sucesso de inimigos muito mais fortes, desta vez tivesse se rendido sem disparar um único tiro. Era um testemunho não apenas da fraqueza do governo português, mas também do poder que o nome de Napoleão inspirava nessa época.
         O dia 29 de novembro de 1807 amanheceu ensolarado em Lisboa. Uma brisa leve soprava do leste. Apesar do céu azul, as ruas ainda estavam tomadas pelo lamaçal, devido à chuva do dia anterior. Nas imediações do porto, havia confusão por todo lado. Um espetáculo inédito na história de Portugal se desenrolava sobre as águas calmas do Rio Tejo: a rainha, seus príncipes, princesas e toda a nobreza abandonavam o país para ir viver do outro lado do mundo. Incrédulo, o povo se aglomerava na beira do cais para assistir à partida. Às 7h da manhã, a nau Príncipe Real inflou as velas e começou a deslizar em direção ao Atlântico. Levava a bordo o príncipe regente, Dom João, sua mãe, a rainha louca Dona Maria I, e os dois herdeiros do trono, os príncipes Dom Pedro e Dom Miguel. O restante da família real estava distribuído em outros três navios. O Alfonso de Albuquerque transportava a princesa Carlota Joaquina, mulher do príncipe regente, e quatro das suas seis filhas. As duas filhas do meio - Maria Francisca e Isabel Maria - viajavam no Rainha de Portugal. A tia e a cunhada de Dom João seguiam no Príncipe do Brasil. Mais quatro dezenas de barcos seguiam atrás da esquadra real. Era uma cena impressionante, mas nem de longe lembrava os tempos heróicos, quando a esquadra de Vasco da Gama partiu do mesmo cais, singrando as águas do mesmo rio para navegar mares desconhecidos e descobrir terras distantes. Em 1807, o espírito de aventura dera lugar ao medo. Em vez de empreender e conquistar, a elite portuguesa fugia sem ao menos tentar resistir aos invasores franceses. "Três séculos antes, Portugal embarcara, cheio de esperanças e cobiças, para a índia; em 1807, embarcava um cortejo fúnebre para o Brasil", comparou o historiador português Oliveira Martins. Entre 10000 e 15000 pessoas acompanharam o príncipe regente na viagem ao Brasil. Era muita gente, levando-se em conta que a capital Lisboa tinha cerca de 200000 habitantes. O grupo incluía pessoas da nobreza, conselheiros reais e militares, juizes, advogados, comerciantes e suas famílias. Também viajavam médicos, bispos, padres, damas de companhia, camareiros, pajens, cozinheiros e cavalariços. Devido à pressa do embarque, a imensa maioria dos viajantes não foi registrada ou catalogada. O cálculo do número de passageiros é, portanto, baseado em relatos e estimativas da época. As poucas listas oficiais existentes relacionam 536 pessoas, mas o total era certamente muitas vezes maior, uma vez que ao lado desses nomes apareciam descrição imprecisas, como "visconde de Barbacena com sua família", segundo observou a historiadora Lilia Schwarcz. No começo do século XIX, viagens marítimas eram uma aventura arriscada. Exigiam preparação cuidadosa e demorada. De Lisboa ao Rio de Janeiro levava-se dois meses e meio, ao sabor de tempestades, calmarias e ataques de surpresa dos corsários que infestavam o Atlântico. As doenças, os naufrágios e a pirataria cobravam um alto preço dos poucos passageiros que se arriscavam a ir tão longe. Os perigos eram tantos que a Marinha britânica, então a mais experiente, organizada e bem equipada força naval do mundo, considerava aceitável a média de uma morte para cada trinta tripulantes nas viagens de longo percurso. Por essa razão, quem partia tinha o cuidado de organizar bem a vida e se despedir dos parentes e amigos. A chance de nunca mais voltar era enorme. Todos esses riscos eram bem conhecidos em Portugal desde os tempos gloriosos dos descobrimentos, mas em 1807 ninguém teve tempo para preparar e organizar coisa alguma. Embora o plano de fuga para o Brasil fosse antigo, a viagem foi decidida às pressas e executada de forma improvisada. Até uma semana antes da partida, ainda havia na corte de Dom João alguma esperança de composição com Napoleão Bonaparte capaz de evitar a invasão de Portugal. Tudo isso caiu por terra no dia 24 de novembro, quando chegou a Lisboa a última edição do jornal parisiense Lê Moniteur, órgão oficial de Napoleão, na qual o imperador francês anunciava que "a Casa de Bragança havia cessado de reinar sobre a Europa". A notícia causou alvoroço na corte e venceu, finalmente, a indecisão crônica do príncipe regente. Não havia alternativa: ou a família real fugia para o Brasil ou seria destronada. À meia-noite, Joaquim José de Azevedo, oficial da corte e futuro visconde do Rio Seco, foi acordado por um mensageiro e instruído a se dirigir ao Palácio Real. Lá, encontrou o Conselho de Estado reunido e recebeu ordens pessoais de Dom João para organizar o embarque. Antes de se dirigir ao porto, Azevedo se assegurou de que o seu 27 lugar e o de sua família num dos navios estavam garantidos. Em seguida, colocou mãos à obra. A partida estava marcada para a tarde de 27 de novembro, o que deixava Azevedo com menos de três dias para tomar todas as providências. Ventos contrários e chuva forte, porém, acabaram adiando a saída para a manhã do dia 29. Ainda assim, a correria e a improvisação foram inevitáveis. Os palácios reais de Mafra e Queluz foram evacuados às pressas. Camareiras e pajens vararam noites trabalhando sem parar na retirada de tapetes, quadros e ornamentos das paredes. Centenas de bagagens contendo roupas, louças, faqueiros, jóias e objetos pessoais eram despachadas para as docas. No total, a caravana tinha mais de setecentas carroças. A prata das igrejas e os 60000 volumes da Real Biblioteca foram embalados e acomodados em quatorze carros puxados por mulas de carga. Em caixotes, o ouro, os diamantes e o dinheiro do tesouro real foram enviados para o cais sob escolta. Durante três dias, o povo de Lisboa observou o movimento de cavalos, carruagens e funcionários do governo nas imediações do porto, sem entender o que se passava. A explicação oficial era que a frota portuguesa estava sendo reparada. Os mais ricos e bem informados, no entanto, sabiam perfeitamente o que estava acontecendo. Pedro Gomes, um próspero comerciante, escreveu à sogra: "Nós não temos ainda embarcação, nem sei se a teremos, pois que são muitos a quererem ir, e poucos os navios. O que fazemos é arranjar-nos para sair desta capital, seja para onde for, ao primeiro indício de perigo. [...] As naus continuam a preparar-se com grande pressa, e todas as disposições indicam alguma coisa de embarque." Não se tem notícia se Pedro Gomes e a família conseguiram embarcar ou não. Quando, finalmente, a notícia da partida se espalhou, o povo reagiu de forma indignada. Nas ruas, havia choro e demonstrações de desespero e revolta. Antônio de Araújo, o conde da Barca, teve sua carruagem apedrejada quando tentou atravessar a multidão a caminho da fragata Medusa. O cocheiro saiu ferido. Ministro das Relações Exteriores de Dom João, Araújo tinha simpatia pelos franceses e era visto com desconfiança em Portugal. "O muito nobre e sempre leal povo de Lisboa não podia familiarizar-se com a idéia da saída do rei para os domínios ultramarinos", escreveu Joaquim José de Azevedo, o oficial encarregado de organizar a viagem, ele próprio chamado de "traidor" pela multidão enfurecida. "Vagando pelas praças e ruas, sem acreditar no que via, desafogava em lágrimas e imprecações. [...] tudo para ele era horror, tudo mágoa, tudo saudade." "A capital encontrava-se num estado de tristeza tão sombria que era terrível em excesso para ser descrito", relatou Lord Strangford, o enviado britânico a Lisboa, encarregado de negociar a transferência da família real para o Brasil. "Bandos de homens armados e desconhecidos eram vistos vagando pelas ruas, no mais completo silêncio. [...] Tudo parecia indicar que a partida do príncipe, se não fosse realizada imediatamente, seria retardada por tumultos populares até que se tornasse impraticável pela chegada do Exército francês." Em meio à confusão, um menino nobre de apenas cinco anos assistia a tudo com espanto. Era José Trazimundo, futuro marquês da Fronteira. Estava em companhia do tio, o conde de Ega, que, à última hora, tentou embarcar a família num dos navios da frota portuguesa. Não conseguiu atravessar a multidão. Ao chegar ao cais, os navios já haviam zarpado. Muitos anos depois, Trazimundo registraria suas lembranças daquele dia: "Nunca me esquecerei as lágrimas que vi derramar, tanto ao povo como aos criados da Casa Real, e aos soldados que estavam no largo de Belém". Sem poder embarcar, a amília de Trazimundo se refugiou na casa do conde da Ribeira, à espera da chegada das tropas do general Junot. "As salas estavam cheias de parentes que tinham tido a nossa 28 mesma sorte, não podendo dizer o último adeus aos emigrados", escreveu, referindo-se aos que partiram nos navios. Outras pessoas importantes tiveram de voltar para casa depois de tentar inutilmente chegar aos navios. Foi o caso do núncio apostólico Dom Lourenço de Caleppi, de 67 anos. Dias antes, Caleppi compareceu ao Palácio da Ajuda e foi convidado por Dom João a acompanhá-lo na viagem. Em seguida, procurou o ministro da Marinha, visconde de Anadia, que, por segurança, lhe reservou as naus Martim de Freitas ou Medusa. Numa ou na outra, Caleppi deveria viajar acompanhado do seu secretário particular, Camilo Luis Rossi. No dia combinado, porém, os dois compareceram ao cais e não encontraram lugar em nenhuma das naus, que já estavam completamente lotadas. O núncio só chegaria ao Brasil em setembro de 1808, quase um ano depois da partida da família real. As informações a respeito do embarque de Dom João são imprecisas. Numa versão, para evitar manifestações de protesto, ele teria ido ao porto num carro fechado e sem escolta, acompanhado apenas de um criado e do infante espanhol Dom Pedro Carlos, seu sobrinho preferido. Apesar de pertencer a família real espanhola, o infante passara a viver em Lisboa depois da morte dos pais, vítimas de varíola, em 1788. Ao chegar ao porto, sem ninguém para recebê-lo, para não pisar na lama teve de atravessar o charco sobre pranchas de madeira mal postas, sustentado por dois cabos de polícia. No relato do historiador português Luiz Norton, o príncipe e o sobrinho cruzaram as pranchas "com a ajuda do povo" e teriam embarcado "depois de um beija-mão frio e fúnebre". Numa terceira versão, do general francês Maximilien Foy, ao descer da carruagem, Dom João mal podia andar. "Suas pernas tremiam e havia lágrimas nos seus olhos", escreveu o general. "Com as mãos, ele afastou as pessoas que se ajoelhavam a sua volta. O seu semblante mostrava o quanto infeliz e perplexo estava o seu coração." Como fazer um discurso de despedida era impossível nas circunstâncias, Dom João mandou afixar nas ruas de Lisboa um decreto no qual explicava as razões da partida. Dizia que as tropas francesas estavam a caminho de Lisboa e que resistir a elas seria derramar sangue inutilmente. Acrescentava que apesar de todos os esforços, não tinha conseguido preservar a paz para os seus amados súditos. Por isso, estava se mudando para o Rio de Janeiro até que a situação se acalmasse. Também deixou por escrito instruções sobre como os portugueses deveriam tratar os invasores. As tropas do general Junot receberiam as boas-vindas da Assembléia da Regência, um conselho de governadores nomeado pelo príncipe. A assembléia tinha orientações para cooperar com o general francês e oferecer abrigo aos seus soldados. A carruagem da princesa Carlota Joaquina chegou ao porto pouco depois do príncipe regente com três de seus oito filhos: Pedro, futuro imperador do Brasil, de oito anos; Miguel, de seis anos; e Ana de Jesus Maria, de onze meses. Em carruagens separadas veio o restante da família: a adolescente Maria Teresa e suas irmãs Maria Isabel, de dez anos, Maria Francisca, de sete, Isabel Maria, de seis, e Maria da Assunção, de dois. Em seguida apareceu a rainha Maria I, de 73 anos. Para o povo português aglomerado no cais para assistir à partida, a presença da rainha era uma grande novidade. Devido aos seus acessos de loucura, fazia dezesseis anos que Dona Maria I vivia reclusa no Palácio de Queluz e não era vista nas ruas de Lisboa. Enquanto seu coche se aproximava do porto em disparada, ela teria gritado ao cocheiro: "Mais devagar. Vão pensar que estamos fugindo!". Ao chegar ao cais, ela teria se recusado a descer da carruagem, obrigando o capitão da frota real a carregá-la no colo até o navio. A cunhada de Dom João, Maria Benedita, de 61 anos, e sua tia Maria Ana, de 71 anos, completavam o grupo. 29 Para garantir o futuro da monarquia, considerou-se prudente evitar que todos os herdeiros embarcassem num mesmo navio. A travessia do Atlântico era uma viagem longa e perigosa. Na pressa da partida, no entanto, esse cuidado foi ignorado. A própria Carlota Joaquina se encarregou da distribuição da família nas embarcações. Os infantes Dom Pedro e Dom Miguel - os dois herdeiros diretos do trono - foram acomodados na nau Príncipe Real, em companhia do pai, Dom João, e da avó, Dona Maria I. Foi uma decisão arriscada. Um eventual naufrágio desse navio levaria para o fundo do oceano três gerações da Dinastia de Bragança. Carlota Joaquina e quatro filhas - Maria Teresa, Maria Isabel, Maria da Assunção e Ana de Jesus - ficaram na nau Alfonso de Albuquerque, comandada por Inácio da Costa Quintela, onde estavam também os condes de Caparica e de Cavalheiros, suas famílias e serviçais perfazendo um total de 1200 pessoas. As outras duas infantas viajaram junto com o marquês de Lavradio, no Rainha de Portugal. Antes de embarcar, Dom João teve o cuidado de raspar os cofres do governo - providência que repetiria treze anos mais tarde ao deixar o Rio de Janeiro na viagem de volta a Lisboa. Em 1807, embarcaram com o tesouro real cerca de 80 milhões de cruzados. Representavam metade das moedas em circulação em Portugal, além de uma grande quantidade de diamantes extraídas em Minas Gerais que, inesperadamente, retornavam ao Brasil. A bagagem real incluía também todos os arquivos da monarquia portuguesa. Uma nova impressora que tinha sido recentemente comprada em Londres, tambén foi embarcada a bordo da nau Medusa como chegara da Inglaterra, sem sair da caixa. Nesse caso, era uma carga irônica: para evitar a propagação de idéias consideradas revolucionárias na colônia, o governo português havia proibido expressamente a existência de impressoras no Brasil. Para fugir da censura, o Correio Braziliense, primeiro jornal brasileiro criado pelo jornalista gaúcho Hipólito José da Costa, em 1808, seria impresso e distribuído em Londres. Depois de soprar forte do mar para o continente durante dois dias, na manhã de 29 de novembro o vento mudou de direção. A chuva parou e o sol apareceu. Às 7 horas foi dada a orden de partida. Lord Strangford recolheu-se a bordo da nau Hibernia, de onde escreveu a seguinte mensagem para Lord Canning, o primeiro-ministro britânico: "Tenho a honra de comunicar que o príncipe regente de Portugal decidiu-se pelo nobre e magnânimo plano de retirar-se de um reino em que não mais pode manter-se a não ser como vassalo da França; e que Sua Alteza Real e a família, acompanhados pela maior parte dos navios de guerra e por multidão de fiéis defensores e súditos solidários, partiu hoje de Lisboa, estando agora em viagem para o Brasil sob a guarda da armada inglesa". O comandante da esquadra britânica, almirante Sidney Smith, descreveu o momento da partida da seguinte forma: "Às sete desse dia memorável a manhã estava maravilhosa, soprava uma leve brisa, que embalava os navios portugueses em direção à saída do Tejo. Sinais eram feitos por dois marinheiros, os quais logo depois foram repetidos por três navios da frota e viu-se as cores portuguesas. [...] O espetáculo era impressionante para todas as testemunhas (exceto para os franceses, nas montanhas), presas da mais viva gratidão à Providência por ver que ainda existia um poder no mundo capaz e decidido a proteger os oprimidos". Smith era um dos mais notáveis oficiais da Marinha britânica. Sua presença, no comando da esquadra estacionada em Lisboa, serve para dar uma noção da importância que os ingleses conferiam à operação. Aos 43 anos, já tinha participado de alguns dos mais decisivos acontecimentos da história da humanidade. Havia lutado na Guerra da Independência Americana, enfrentado Napoleão e combatido o Czar da Rússia. Tinha também trabalhado com um dos mais importantes inventores de todos os tempos, o 30 americano Robert Fulton, pai do submarino e do barco a vapor. Estava aposentado, vivendo na antiga cidade romana de Bath, no interior da Inglaterra, quando, no outono de 1807, foi chamado de volta pelo almirantado britânico para tomar parte nos acontecimentos de Portugal. Por volta das 3 horas da tarde, o menino José Trazmundo estava jantando em companhia do pai e dos irmãos quando ouviu o troar distante dos canhões. Era a esquadra inglesa do almirante Sidney Smith saudando, com uma salva de 21 tiros, o pavilhão real da nau que conduzia o príncipe regente que, naquele momento, deixava a barra do Rio Tejo para entrar no Oceano Atlântico. Os navios portugueses ainda estavam à vista no horizonte quando as tropas francesas começaram a entrar em Lisboa. Para trás, ficaram só tristeza e desolação. "Ainda que, pela minha pouca idade, não pudesse dar devida importância à crise em que estava o país, e principalmente a capital, que tinha o exército francês a duas léguas de suas barreiras, lembro-me porém de que muito me impressionava a fisionomia dos parentes e das pessoas que nos cercavam", escreveu Trazimundo. Os diários de bordo dos navios britânicos, coletados pelo historiador Kenneth H. Light, revelam que, nos momentos que se seguiram à partida de Lisboa, o clima entre ingleses e portugueses não era tão amistoso quanto fazem crer alguns relatos nos livros sobre o evento. Havia tensão e expectativa no ar. Sem exceção, todos os comandantes ingleses registraram em seus diários que, ao avistar as embarcações portuguesas saindo do porto de Lisboa, entre oito e nove horas da manhã do dia 29 de novembro, ordenaram que seus navios se preparassem para ação, formando uma linha de combate. Aparentemente, todos eles trabalhavam com a hipótese de que os portugueses tivessem se rendido às exigências de Napoleão e, naquele momento tentassem romper à força o bloqueio naval britânico. Esse breve momento de incerteza se dissipou quando a frota portuguesa cruzou a barra do Rio Tejo. Em atitude francamente amistosa, o navio Príncipe Real, onde viajava o príncipe regente, se aproximou da nau capitânia da esquadra britânica, HMS Hibernia. Em seguida, para reafirmar as intenções de paz, os dois lados trocaram as saudações protocolares: 21 tiros de canhões de cada parte - primeiro os ingleses, depois os portugueses. "Até há pouco, Portugal e Inglaterra estavam em guerra e Sir Sidney não queria correr qualquer risco", escreveu Light, referindo-se ao comandante da esquadra britânica. "Somente após um diálogo amistoso houve troca de salvas." Abandonado à própria sorte, Portugal viveria os piores anos de sua história. Nos sete anos seguintes, mais de meio milhão de portugueses fugiriam do país, pereceriam de fome ou tombariam nos campos de batalha numa seqüência de confrontos que se tornaria conhecida como a Guerra Peninsular. Naquela manhã luminosa de novembro de 1807, espalhadas pelo cais do porto de Lisboa ficaram centenas de bagagens, esquecidas no tumulto da partida. Entre elas, estavam os caixotes com a prataria das igrejas e os livros da Biblioteca Real. A prata seria confiscada e derretida pelos invasores franceses. Os livros da Real Biblioteca, que incluíam a primeira edição de Os lusíadas, de Camões, antigas cópias manuscritas da Bíblia e mapas ainda em pergaminho, só chegariam ao Brasil mais tarde, em três viagens consecutivas: a primeira em 1810 e as outras duas em 1811.
        A viagem foi complicada. Estavam em navios veleiros e quase não chegaram ao Brasil, passando meses em alto mar. O estoque de comida e bebidas estava chegando ao fim e havia ratos e baratas nos navios causados pela falta de higiene e transmitiram doenças.

A Chegada da Família Real no Brasil

         Em 1808, a corte chegou ao porto de Salvador. Os navios foram abastecidos, permitindo a continuação da viagem rumo ao Rio de Janeiro. D. João anunciou a Abertura dos Portos em Salvador, acabando com o Pacto Colonial.
         Em 7 de Março de 1808 a corte chegou na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, porém o desembarque ocorreu somente no dia seguinte. Os brasileiros, que esperavam ansiosamente pela corte, ficaram decepcionados ao vê-los em uma situação precária: D. João era um homem muito gordo e se cansava rapidamente, o príncipe era medroso.
         Nesta época, o Rio de Janeiro era uma cidade muito suja, infestada de ratos. Os problemas eram a umidade, a sujeira e a falta de bons modos dos moradores. Como diz no livro 
"A limpeza da cidade estava confinada aos urubus". Era uma cidade barulhenta e movimentada, com grande quantidade de negros, os escravos dominavam a paisagem nos feriados e nos fins de semana.
         No Brasil, surgiu uma forma de escravidão chamada 
"sistema de ganho", o qual aqueles escravos que, após fazerem as atividades nas casas dos senhores, iam para a rua em busca de atividade suplementar. Eles faziam de tudo: buscavam água, removiam lixo, traziam recado...
         No Rio de Janeiro não havia médicos formados e tinha muita doença, então, a chegada da família real trouxe muitos benefícios à cidade, o saneamento, a saúde, a arquitetura, a cultura, entre outros.
         Príncipe regente e depois rei do Brasil, D. João tinha medo de siris, caranguejos e trovoadas. Durante tempestades no Rio de Janeiro, ficava escondido em seus aposentos. Quando foi picado por um carrapato, ao inflamar ficou com febre e o médico recomendou um banho de mar, D. João, com medo de caranguejos, mandou encherem uma banheira com água do mar.
         Quando a corte chegou ao Brasil, estava falida e necessitada. Atravessaram entre 10 mil e 15 mil portugueses com D. João. Era uma corte cara, que gastava sem controle e sem juízo. Mas onde se acha tanto dinheiro para bancar tanta gente? Primeiramente foi feito um empréstimo na Inglaterra de 600 mil libras esterlinas. Esse dinheiro foi gasto com a viagem e gasto com a corte ao chegar no Rio de Janeiro. Dívida que seria deixada ao Brasil depois da Independência. Outra medida foi a criação de um banco estatal para emitir moeda, o Banco do Brasil.
         D. João precisava do apoio financeiro e político da elite rica. Para consegui-la iniciou uma farta distribuição de honrarias e títulos de nobreza. Parte da nobreza se tornou acionista do Banco do Brasil e foi criada no Brasil por D. Pedro. De festas, musicais, cerimônias, nada se comparava ao beija-mão. Era o momento o qual do qual o rei e a família real abriam o palácio para que os súditos beijassem suas mãos, prestassem suas homenagens e fizessem qualquer pedido ou reclamação.
         Em 1810, D. João assinou um tratado especial com o governo inglês que concebia a abertura dos portos ao Brasil, ou seja, o fim do pacto colonial. Com a abertura dos portos, dava vantagens à entrada de produtos ingleses no Brasil. Chegava de tudo, até patins de gelo, pesadas mantas de lã. Isso se dava pelo fato do Bloqueio Continental. Já que a Inglaterra não poderia comercializar com os outros países, despachava tudo no Brasil.
         No dia 10 de março de 1808, D. João dava início a uma reforma no Brasil, que criaria estradas, escolas, fábricas... O território do Uruguai que estava sendo ocupado por D. Pedro desde 1817, se tornou independente em 1828.
         Viana, novo agente civilizador do Rio de Janeiro determinou que as janelas das casas que antes eram de madeiras, passariam a ser vidraças.
         No começo do século XIX, a colônia brasileira era o último grande pedaço habitado do planeta ainda inexplorado pelos europeus que não fossem portugueses.
         Entre 1807 e 1814, Portugal e Espanha foram para Napoleão o que o Vietnã seria para os Estados Unidos. Anos depois, quando Napoleão estava exilado na ilha de Santa Helena, este registrara em suas memórias: "Foi (a guerra espanhola) o que me destruiu. Todos os meus desastres tiveram origem nessa só fatal.
         Por fim, o ano de 1818 é considerado o mais feliz de toda a temporada de D. João VI no Brasil, o Reino estava em paz e a ameaça de Napoleão tornara-se apenas uma memória distante. Mas durou pouco tempo, Portugal, abandonado, se revolta, reivindicando a volta de D. João. Disposto a voltar, D. João deixa seu filho, Pedro de Alcântara, para futuramente governar o país. D. João perdeu o Brasil para sempre, a prova disso foi a Independência em 1822.

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