O Pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas
Por: lcsp74 • 21/2/2018 • Resenha • 2.570 Palavras (11 Páginas) • 433 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Licenciatura em História – EAD
UNIRIO/CEDERJ
AD1 – PRIMEIRA AVALIAÇÃO À DISTÂNCIA – 2016.1
DISCIPLINA: HISTÓRIA E DOCUMENTO
Coordenação: Professora Ana Maria Mauad
Nome: Lidiane Carvalho de Souza Pimenta |
Matrícula: 16116090073 |
Pólo: Resende |
1ª etapa: Leia o texto e monte uma ficha de leitura, de acordo com as seguintes instruções: divida o texto em partes, para cada uma das partes coloque um título e faça um resumo.
O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas:
Após o 13 de maio, finalmente começam a emergir como um dos problemas históricos cruciais sobre o período. Até a década de 1990, marginalização dos libertos no mercado de trabalho pós-emancipação era enfatizada nas análises historiográficas. Com a abolição, os escravos pareciam ter saído das senzalas e da história, substituídos pela chegada de imigrantes europeus. Inúmeros trabalhos se dedicaram a estudar os projetos das elites a respeito dos libertos e da utilização dos chamados “nacionais livres” como mão de obra.
Alguns aspectos comparativos do pós-abolição:
Desde os anos 1970, quando preocupações macroeconômicas constituíam o principal aspecto analisado em termos comparativos nas sociedades pós-emancipação, muito se avançou nas discussões historiográficas sobre o tema. O declínio da produção açucareira da Jamaica após a abolição da escravidão, em contraste com continuidade sem quebras expressivas desta indústria em Trinidad, chamavam a atenção para as diferentes atitudes dos libertos no Caribe Britânico. A existência ou não de uma fronteira agrícola aberta seria o elemento determinante para o entendimento da diferença do comportamento dos libertos nas duas ilhas. Assim alguns trabalhos brasileiros das décadas de 1970 e 1980 enfatizaram um relativo paralelismo com esta situação. Da mesma forma, características específicas da escravidão e da população escrava passaram a ser analisadas para apreender aquilo que se tornou um diferencial marcante nos modernos estudos do pós-abolição: os projetos dos libertos, sua “visão” do que seria a liberdade, os significados deste conceito para a população que iria, finalmente, vivenciá-la, e não apenas para os que o definiram nos diferentes momentos do processo de emancipação. Ainda hoje, o processo de abolição da escravidão no Brasil foi bem mais estudado do ponto de vista econômico e político do que de uma perspectiva social ou cultural.
O pós-abolição e o problema das fontes
No Brasil, entretanto, é especialmente acentuada, não apenas pela inexistência de práticas legais, baseadas em distinções de cor e raça ou pela presença demograficamente expressiva, e mesmo majoritária, de negros e mestiços livres, antes da abolição, mas pelo desaparecimento, que se faz notar desde meados do século XIX, de se discriminar a cor dos homens livres nos registros históricos disponíveis. Processo cíveis e criminais, registros paroquiais de batismo, casamento e óbito, na maioria dos casos, não fazem menção da cor e, mesmo nos registros civis, instituídos em 1888, onde citar a cor era legalmente obrigatório, em muitos casos, ela se faz ausente. Neste contexto, a exploração de depoimentos orais de descendentes da última geração de escravos brasileiros, que começaram a ser produzidos de forma mais ou menos sistemática por diferentes pesquisadores desde o centenário da abolição, em 1988, apresentou-se como uma fonte alternativa para a abordagem histórica do período pós-emancipação. Entre estas iniciativas, desde 1994, o projeto Memórias do Cativeiro reuniu no LABHOI-UFF diversos pesquisadores, num esforço de documentação e pesquisa, que buscava conseguir produzir fontes de memória capazes de embasar uma abordagem histórica da inserção social do liberto após a abolição da escravidão.
Mobilidade e migração no pós-abolição:
Ainda antes da abolição uma das preocupações centrais dos senhores era a possibilidade dos escravos deixarem as fazendas nos quais foram cativos. Muitos senhores percebiam que a mobilidade de parte significativa de seus escravos apresentava-se seriamente comprometida pelas próprias características das comunidades de escravos que habitavam suas senzalas. Este momento na história das escravarias da região, de consolidação de parentelas e de superação de rivalidades ancestrais não passou despercebido pelos senhores mais argutos, que consideravam, nas palavras do barão Luiz Peixoto de Lacerda Wernek, “impolítico” separarem-se escravos de há muito acostumados a viverem juntos. Assim foi possível, nos anos de 1994 e 1995, encontrar pessoas como Seu Valdemiro, Seu Izaquiel, Seu Pedro Marin, Dona Zeferina, Dona Bernarda e muitos outros que viviam na mesma região, na mesma fazenda ou até na mesma casa em que seus avós, da primeira geração de libertos, viveram. O exercício da recém-adquirida liberdade de movimentação teria que levar em conta as possibilidades de conseguir condições de sobrevivência que permitissem realizar outros aspectos tão ou mais importantes da visão de liberdade dos últimos cativos. Com o correr dos anos, portanto, a mobilidade passou de opção ou exercício de liberdade para uma espécie de maldição para os últimos libertos. Famílias como as da liberta Tibúrcia, sua filha Clotilde e sua neta Dona Nininha, entre outras, tiveram nos constantes deslocamentos uma história de privações extremas e de desestruturação da vida familiar. O fato de a maior parte dos casos nos quais se detectou a migração para as cidades ter seguido a lógica do convite anterior por um parente, ou, especialmente nos casos das mulheres que saíram para se empregar no serviço doméstico, de famílias conhecidas na região de origem, não é uma novidade em estudos sobre migração.
Casamento e família:
Em 1889, quando da instalação do registro civil de óbitos, nascimentos e casamentos em Paraíba do Sul (RJ), o cartório da antiga freguesia de Cebolas (atualmente Cartório de Inconfidência, terceiro distrito da cidade) admitiu procedimentos um tanto singulares nos registros, especialmente os de óbitos e de nascimentos. O novo serviço criado em Cebolas naquele ano estratégico, o seguinte ao da abolição, cumpria o papel que lhe fora confiado. Criado ainda durante o Império, mas cujo alcance só se ampliaria no advento da República, pretendia que o registro dos atos vitais concernentes à vida da população fosse de responsabilidade do Estado. O ano de 1889 foi o mais procurado pelos pais de crianças negras para registrar nascimentos. Estes dados tornam o ano de 1889 um ano muito especial para a aná- lise das atitudes dos libertos que puderam ser percebidas no registro civil daquele cartório. A incerteza quanto às normas que regiam a produção do documento criou um escrivão receptivo às informações dos declarantes dos óbitos e nascimentos. De fato, segundo os depoimentos de seus descendentes aqui considerados, seus avós ressaltavam como elementos constitutivos do tempo da liberdade, a valorização de alguns elementos básicos ligados à moderna noção de direitos civis (o direito de “de ir e vir”, o direito a constituir legalmente uma família e o direito à integridade física).
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