Os Estudos de Gênero
Por: Nubia Santos • 23/6/2023 • Ensaio • 1.156 Palavras (5 Páginas) • 58 Visualizações
ORTNER, Sherry. “Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura?”. IN: A mulher, a cultura e a sociedade. ROSALDO, Michelle; LAMPHERE, Louise (org.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
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Autora destaca dois problemas iniciais da antropologia: a que explica a universalidade do homem e a que explica a cultura particularmente. Nesse aspecto, a mulher aparece enquanto um status secundário – algo encarando como uma verdade universal, um fato pan-cultural.
O interesse da autora nesses problemas é mais do que acadêmico: “(...) desejo ver surgir uma mudança genuína, a emergência de uma ordem social e cultural na qual a classificação do potencial humano seja aberto às mulheres tanto quanto aos homens. A universalidade da subordinação feminina, o fato de existir em todo tipo de classificação social e econômica e em sociedades de todo grau de complexidade, indica que estamos frente a algo muito profundo e inflexível”.
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No artigo, a autora busca explorar a lógica subjacente do pensamento cultural que assume a inferioridade feminina, buscando mostrar a natureza “altamente persuasiva da lógica”, também procura mostrar as fontes sociais e culturais da lógica para indicar onde se encontra o potencial para a mudança.
A autora afirma “é importante separar os níveis do problema”. É preciso que sejamos absolutamente claros sobre o que estamos tentando explicar antes de explica-lo.
A autora objetiva focar no fato universal do status de classe secundária culturalmente atribuído a mulher em todas as sociedades. Aqui ela suscita duas questões: 1) o que pensamos sobre isso e qual é nossa evidência de que isso é um fato universal? 2) Como explicamos esse fato, uma vez estabelecido?
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A UNIVERSALIDADE DA SUBORDINAÇÃO FEMININA
“(...) o que constituirá evidência de que uma cultura específica considera as mulheres inferiores?”
Apresenta três dados para explicação:
• Item 1:
“(...) o elemento de ideologia cultural e as colocações informativas que explicitamente desvalorizam as mulheres e com elas, seus papéis, suas tarefas, seus produtos e seus meios sociais com menos prestigio do que os relacionados aos homens e às funções masculinas correlatas” (p.97-8)
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• Item 2:
Esquemas simbólicos como a prerrogativa de violação, que poderão ser interpretadas implicitamente como uma colocação de avalições inferiores;
• Item 3: as classificações sócio-culturais que excluem as mulheres da participação no ou em contato com algum domínio de maior poder da sociedade.
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Destaca os “Crow”. “Em resumo, os Crow são sem duvida um caso bastante típico. Certamente as mulheres possuem certos poderes e direitos, neste caso alguém as coloca em posições inegavelmente elevadas. Contudo, no final cai o pano: a menstruação é uma ameaça para o combate, uma das instituições mais valorizadas da tribo, uma das principais para sua auto-definição; e o objeto mais sagrado da tribo é o tabu para o olhar direto e o toque das mulheres”.
NATUREZA E CULTURA
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Afirma que, quando consideramos a subordinação feminina enquanto um dado, devemos interpreta-la sob a luz de outros fatores universais, elaborados na estrutura da situação mais generalizada, na qual todo ser humano se encontra em qualquer cultura.
A autora aponta qual é a sua tese argumentativa: “(...) a mulher está sendo identificada com – ou se se desejar, parece ser um símbolo de – alguma coisa que cada cultura desvaloriza, alguma coisa que cada cultura determina como sendo uma ordem de existência inferior a si própria”.
Pensando na relação cultura e natureza, a autora afirma que podemos equacionar a cultura com a noção de consciência humana – sistemas de pensamento e tecnologia – por meio das quais a humanidade procura garantir o controle sobre a natureza.
As categorias de natureza e cultura são categorias conceituais
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Para a autora, cada cultura reconhece e mantem implicitamente uma distinção entre a natureza e cultura, e que a diferença da cultura se apoia no fato de poder transcender as condições naturais e transforma-las para os seus propósitos. Portanto, cada cultura “em algum nível de percepção demonstra não ser somente distinta da natureza, mas superior a ela”.
No problema das mulheres, a autora afirma que seu status pan-cultural secundário pode ser explicado postulando que as mulheres são identificadas ou simbolicamente associadas com a natureza, em oposição aos homens que são identificados com a cultura.
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