RESENHA – “O QUEIJO E OS VERMES: O COTIDIANO E AS IDEIAS DE UM MOLEIRO PERSEGUIDO PELA INQUISIÇÃO”
Por: júlio césar • 30/5/2017 • Resenha • 811 Palavras (4 Páginas) • 897 Visualizações
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO
JÚLIO CÉSAR BALDUCCI
RESENHA – “O QUEIJO E OS VERMES: O COTIDIANO E AS IDEIAS DE UM MOLEIRO PERSEGUIDO PELA INQUISIÇÃO”
FRANCA
2016
Carlo Ginzburg é um renomado historiador italiano nascido em Turim, em 1939, ano este em que tem início a Segunda Guerra Mundial. Oriundo de uma família judia e tendo o pai como ativista antifascista, Carlo teve grandes influências históricas que colaboraram com o sucesso de suas obras.
Em sua obra mais famosa, chamada “O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição” (situada no século XVI, uma era marcada pela Reforma Protestante), publicada em 1976, Ginzburg vai além de discutir um tema tão cativante como a Inquisição, mas também constrói um personagem chamado Domenico Scandella, mais conhecido como Menocchio – um moleiro formulador de diversas ideias consideradas “perigosas”. O historiador mostra sua mentalidade e seus pensamentos que levaram ao Tribunal de Inquisição do Santo Ofício.
Mennochio, por ser moleiro, se destacava por saber ler e escrever – talentos que eram incomuns aos pobres da época; e isso fez com que fosse estabelecido um forte contato com a literatura. Porém, diferente do ideal para formulação de ideias, o moleiro lia apenas o que condizia com seus pensamentos, para que assim pudesse sustentar suas ideias. Utilizando obras literárias de uma maneira oportunista.
O fato de discutir suas ideias – que contrariavam os dogmas impostos pela Igreja – com outras pessoas e em espaços públicos, de maneira audaciosa fez com que fosse levado ao Tribunal de Inquisição do Santo Ofício, sendo tratado como herege, já que questionava as verdades estabelecidas pela doutrina em uma época de fé absoluta, sem espaços para discussão de ideias ou debates.
Ginzburg reflete sobre como um simples moleiro fora capaz de ter tantas ideias em mente, cogitando que este apenas estava espalhando aquelas palavras hereges, mas não sendo seu criador. Vale lembrar que pelo fato de ser moleiro e saber ler e escrever, não devemos ter uma ideia de que os pobres da época eram como Mennochio; deve-se ter em mente que ele era a exceção da regra, como explicita o autor: “Até que ponto poderemos considerar representativa uma figura tão pouco comum, um moleiro do século XVI que sabia ler e escrever?” (p. 88)
Temos como algumas das grandes “heresias” proferidas por Mennochio o questionamento da virgindade de Maria, a dúvida em relação a crucificação de Jesus Cristo e da criação do mundo por parte de Deus (o moleiro dizia que a origem dos seres vivos era dada na putrefação, como os vermes que nascem do queijo – o que leva ao título da obra): “Eu disse que segundo meu pensamento e crença tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos. A santíssima majestade quis que aquilo fosse Deus e os anjos, e entre todos aqueles anjos estava Deus, ele também criado daquela mesma massa, naquele mesmo momento, e foi feito com quatro capitães: Lúcifer, Miguel, Gabriel e Rafael." (p.40)”.
A crítica à riqueza da Igreja e aos Evangelhos também é explícita na obra, por parte do personagem.
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