O COTIDIANO E AS IDEIAS DE UM MOLEIRO PERSEGUIDO PELA INQUISIÇÃO
Por: Yuri Costa-Silva • 15/11/2017 • Trabalho acadêmico • 5.013 Palavras (21 Páginas) • 524 Visualizações
UNIVERSIDADE TIRADENTES
DIREITO
VITOR DANTAS NOGUEIRA BATISTA DE OLIVEIRA
BRUNO SANTIAGO SILVA GOVEIA
LEONARDO LIMA SANTOS
KAIO ALEXANDRE MARINHO DE SOUZA
YURI OLIVEIRA COSTA-SILVA
LUAN PEDRO OLIVEIRA NASCIMENTO
ORLAN FRANCISCO OLIVEIRA DOS SANTOS
LUÍS MESSIAS ANDRADE SILVA
RESUMO
O QUEIJO E OS VERMES: O COTIDIANO E AS IDEIAS DE UM MOLEIRO PERSEGUIDO PELA INQUISIÇÃO
Aracaju
2017
VITOR DANTAS NOGUEIRA BATISTA DE OLIVEIRA
BRUNO SANTIAGO SILVA GOVEIA
LEONARDO LIMA SANTOS
KAIO ALEXANDRE MARINHO DE SOUZA
YURI OLIVEIRA COSTA-SILVA
LUAN PEDRO OLIVEIRA NASCIMENTO
ORLAN FRANCISCO OLIVEIRA DOS SANTOS
LUÍS MESSIAS ANDRADE SILVA
RESUMO
O QUEIJO E OS VERMES: O COTIDIANO E AS IDEIAS DE UM MOLEIRO PERSEGUIDO PELA INQUISIÇÃO
Resumo apresentado ao Curso de direito, sob orientação do prof. Rafael Araujo de Sousa, como um dos pré-requisitos para avaliação da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito.
Aracaju
2017
GINZBURG, C. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das letras, 2006.
O livro O Queijo e os Vermes de autoria de Carlos Ginzburg, traz o julgamento de um moleiro de codinome Domenico Scandella conhecido popularmente como Menocchio. No qual foi aberto um processo pela igreja Católica através de um anônimo delator sobre comportamentos heréticos executados por um moleiro de uma aldeia em Friuli. Domenico era visto como um Lutero naquela época por blasfemar palavras como o "o ar é Deus a terra é nossa mãe" e seu famoso pensamento "Eu disse que segundo meu pensamento e crenças tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo tudo junto. E de todo aquele volume em movimento formou uma massa, do mesmo modo como o queijo que é feito de leite, e do qual surgem os vermes, e estes foram os anjos...". Sendo estas palavras contraditórias a maneira dogmatizada pela igreja naquela época.
O autor Carlos Ginzburg traz à tona duas vertentes. A primeira é a igreja com sua supremacia naquela época, período da idade média, no qual exercia uma grande influência sobre a sociedade sendo esta detentora de sua vida civil e em contrapartida um moleiro chamado Menocchio que naquela época tinha autonomia de pensamento, algo que poucos tinham e que não era admitido pela igreja, e dessa forma exprimia sua maneira de pensar para o povo criticando a igreja e seus dogmas.
Domenico Scandella (Menocchio) era dono de moinhos e foi acusado de ter pronunciado palavras vinculadas à heresia além de tentar difundir suas opiniões contrárias na comunidade onde vivia.
Menocchio desabafou de maneira firme, durante o interrogatório, sobre as diferenças de classe existentes entre os superiores e os homens pobres. Em seu discurso, ataca as autoridades máximas da Igreja, afirmando que o papa e os cardeais são tão grandes e ricos que arruínam os pobres, chegando a citar a concentração de terras sob poder dos integrantes da Igreja. Quanto à política ele critica o custo dos produtos, que segundo ele, seria influenciado pela vontade da classe dominante para explorar os camponeses. Por fim, defendia uma religião bem diferente, em que todos são iguais, porque o espírito de Deus está em todos.
Durante todo interrogatório, sempre esteve disposto a explicar o que sabia, defendendo sempre seu pensamento, sua opinião/ideologia. Essa característica provocava sempre dúvida entre os responsáveis pela inquisição, pois deveria haver alguma relação entre Menocchio e grupos conectados com ideologias opostas à Igreja. Esse fato representaria um golpe contra o princípio da autoridade no campo religioso, político e social, caracterizando-se uma Reforma Protestante.
Porém, Menocchio sempre insistia na simplicidade da palavra de Deus, negação das imagens sacras, das cerimônias e dos sacramentos, a negação da divindade do Cristo, a adesão a uma religião prática baseada nas obras, a polêmica pregando a pobreza contra as “pompas” da Igreja, a exaltação da tolerância. Percebia algumas características do radicalismo religioso dos anabatistas (movimento que foi perseguido pela política e religião), mas que, apenas por isso não podia ser considerado um anabatista pois existiam pontos em comum e pontos divergentes em suas ideias defendidas. Além disso, outros relatos mostram o possível contato de Menocchio com grupos luteranos, mas também foi descartado sua vinculação tendo em vista as atitudes e opiniões.
Fazendo uma relação da cosmogonia (origem do mundo ou universo) com a de Menocchio pode-se comparar a um queijo no qual, com o passar do tempo surgem os vermes, figurando na história de Menocchio com a Reforma. Sendo assim, os vermes (a Reforma) rompe a crosta do queijo (universo/ mundo/ sociedade) e a Contra Reforma surge também neste contexto na tentativa de recompor a unidade.
Não satisfeitos com as respostas de Menocchio, durante o interrogatório na inquisição lhe foi questionado o nome dos demais integrantes do grupo, pois acreditava-se que ele não estaria só. Sabia que existia outra pessoa (Nicola de Melchiori), uma fonte que transmitia informações, já interrogada no primeiro processo, que forneceu o livro Decameron. Além desse livro, existiam outros como o chamado Zampollo que narra a história de um bufão (ator encarregado de fazer rir o público com mímicas, esgares, etc.) que morreu e foi para o inferno e fazia bufonarias com os demônios. Cita em seus versos atitudes de Martinho Lutero, vista como positiva, já que clama pelo concílio que trará de novo clareza doutrinal e repropõe o “puro Evangelho”, fé no sacrifício de Cristo. Suspeitava-se ainda que Menocchio também devia ter lido o livro “Sogno”, pois suas ideias eram profundamente fundamentadas.
Menocchio em seu dia-a-dia transmitia seus conhecimentos através de linguagem figurada para driblar a inquisição. Como ele possuía uma boa fundamentação e segurança naquilo que defendia, não era intimidado pela ameaça dos inquisidores. Não era um simples profeta visionário, um pregador ambulante. Relatava-se que quando ia se confessar questionava sobre a possibilidade de Cristo ter sido concebido pelo Espírito Santo e nascido da Virgem Maria.
No momento da prisão, o vigário-geral mandou revistar a casa e muitos livros foram encontrados, porém a maioria não era suspeita ou proibida, por isso não constam no inventário. A maior parte dos livros foram doados à Menocchio, essa informação foi importante para tentar identificar a rede de leitores em uma comunidade tão pequena como é a que Menocchio vivia.
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