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Resenha sobre: Sobre os fragmentos poéticos de Safo de Lesbos e ideias da existência de uma voz feminina - Reflexões sobre História, Linguística e Literatura

Por:   •  12/6/2018  •  Resenha  •  1.237 Palavras (5 Páginas)  •  412 Visualizações

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Resenha Crítica: “Sobre os fragmentos poéticos de Safo de Lesbos e ideias da existência de uma voz feminina: reflexões sobre História, Linguística e Literatura”, de Lettícia Batista Rodrigues Leite[1]

Rayssa Elena Gonçalves de Oliveira

R.A:223930

A autora, Lettícia Batista Rodrigues Leite, possui licenciatura e bacharelado (2002-2006) pela Universidade Estadual de Campinas e mestrado em História Cultural (2007-2009) pela mesma instituição.

Possui doutorado (2009-2015) pela Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne/ANHIMA (Anthropologie et histoire des mondes antiques), como Bolsista do Programa Doutorado Pleno no Exterior – CAPES.

Detém experiência na área de História, com ênfase em História Antiga, tendo como objeto de estudo a poesia (crítica e recepção), memórias, identidades, críticas feministas e homo(lesbo)erotismo.

Lettícia Leite possui diversas produções bibliográficas, que vão desde a presente tese, até artigos em revistas conceituadas de estudos clássicos.

Nesta dissertação, com orientação do Prof. Dr. Pedro Paulo Abreu Funari, Leite problematiza como a relação linguagem/discurso é mostrada intimamente associada à questão do sexo/gênero, no campo de estudiosos que tratam dos fragmentos poéticos de Safo de Lesbos. Caracterizando uma preocupação em destacar as particularidades de forma e conteúdo que os fragmentos poéticos de Safo apresentavam quando comparados com a “tradição masculina” do período.

Leva em consideração também as reivindicações e críticas feministas formadas, sobretudo, na década de 1960. No que se retrata às lutas das décadas de 1960 e 70 – além dessa igualdade legal – as reivindicações na essência de requerer uma igualdade mais efetiva. Reivindicação unida agora, de uma exaltação das diferentes vivências entre os vários grupos de mulheres (lésbicas, negras, burguesas, proletárias, entre outras), assim como das mulheres em contraste com os homens.

A partir do momento que as lutas sociais feministas passaram a repercutir marcadamente no campo da atenção acadêmica. Do qual sua magnitude fará com que as mulheres, e dimensões a elas relacionadas, tornam-se uma problemática que se legitima como objeto de estudo.

Por fim, a dissertação chama atenção ao fato de que se tratando de Safo, o que é visto como singularidades em sua composição tornam-se, em algum ponto, associadas a uma diferença relacionada com a existência de um feminino.

No que diz questão a divisões físicas, a tese é configurada em três capítulos, que possuem diversas subdivisões.

No primeiro capítulo, intitulado “Lugares de enunciação: da História, de algumas das suas relações com a questão da linguagem e destas com as mulheres e/ou o feminino”, têm-se como objetivo inicial, o processo de afirmação da História como uma disciplina acadêmica, a relação entre a História e a Filologia, as diferentes “Histórias” e seus respectivos problemas, como, por exemplo, definição de objetos, recortes e caminhos de análise, a intertextualidade e seu conceito no terreno da dissertação. Passado os objetivos iniciais, a autora passa a introduzir questões sobre os movimentos feministas e alguns padrões de reflexão consideradas necessárias, como, por exemplo, os seus discursos e identidades, além de considerar a tênue mudança das reivindicações, que deixaram de aclamar uma voz feminina até exaltar as diferenças e individualidades dos grupos de mulheres. Tocando também, no âmbito onde a voz feminina é enunciado por mulheres ou por homens.

No segundo capítulo, intitulado “Algumas considerações sobre as composições de caráter poético da Grécia Arcaica (VIII – VI a.C.) e sobre Safo de Lesbos e sua poesia”, a autora inicia uma breve reflexão sobre a dificuldade de se estudar o período considerado arcaico e como suas fontes, em maioria, são materiais de natureza poética ou literária, que dificultam a obtenção de informações históricas relevantes, já que autores os consideram como testemunhos pessoais. Em seguida trata das composições poéticas como “enciclopédias versificadas”, problematizando sua associação a poesia, ou seja, com um conceito contemporâneo. Além de apresentar problemáticas sobre as definições da poesia lírica, quando associadas às características formais, como a métrica, ritmo e linguagem elaborada, trazendo para essa questão definições de diferentes locais, como a do Dicionário Oxford de literatura clássica grega e latina e as dadas por Platão e Aristóteles, em suas obras intituladas “A República” e “A Poética”, respectivamente.

Depois de discutir as questões citadas acima, Lettícia foca na “biografia” de Safo de Lesbos, trabalhando suas controvérsias e dificuldades. Dialogando com obras de autores como Holt Park e André Lardinois em suas obras sobre a poetisa lírica, termo também questionado na dissertação. Discorre sobre “grande questão”, que ganhou contornos a partir do século XIX, sobre a sexualidade de Safo, sobre o seu suposto envolvimentos com outras mulheres, ou seja sua “homossexualidade feminina/ lesbianismo” (termo sugestivamente proveniente do nome da ilha, Lesbos, em que a poetisa teria nascido e vivido). A partir desse ponto, utiliza-se das ideias de diferentes autoras/autores que contrapõem-se, buscando evidenciar o contraste de suas teses e concepções. Afunilando ainda mais sua tese, a autora introduz a discussão sobre a possível existência de uma tradição poética masculina em contraste a uma tradição poética feminina e como a figura de Safo, e seus fragmentos poéticos, podem ser testemunho de uma tradição feminina que teria existido na Grécia Antiga, pelo menos desde o Período Arcaico até o Helenístico. Dialogando, principalmente, com Laura Bowman, Lettícia aponta que essa “tradição poética especificamente feminina” é indefensável, já que similaridades de localidade, ou o sexo dos poetas, não são suficientes para criar uma tradição poética. Evitando privilegiar qualquer aspecto particular de identidade de quem o compôs, sugere que os trabalhos das poetisas que sobreviveram eram parte de uma tradição poética pública, que sofreram e exerceram influências mútuas entre os sucessores, e antecessores, tanto do sexo masculino quanto do feminino.

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