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A Literatura e Sociedade

Por:   •  19/8/2017  •  Resenha  •  2.012 Palavras (9 Páginas)  •  1.246 Visualizações

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CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 8 ed. São Paulo: PubliFolha, 2000.

Crítica e sociologia

        A relação entre obra e ambiente sempre foi conflituosa, pois primeiro explicava-se uma obra pelos fatores externos, depois se acreditava que a estrutura é independente e hoje se entende a obra fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra. Antônio Candido - sociólogo, literato, professor universitário e crítico literário - diz que o “o externo (social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno” ( CANDIDO, 2000, p.6).

Ele lembra que o tratamento interno dos fatores externos pode ser legítimo quando se trata de sociologia da literatura, já que esta não propõe o “valor” da obra, interessando-se somente por tudo que é do seu condicionamento. Mas “(...) quando estamos no terreno da crítica literária somos levados a analisar a intimidade das obras, e o que interessa é averiguar que fatores atuam na organização interna, de maneira a constituir uma estrutura peculiar” (ibidem, p.6). Nesse caso, o sociólogo está procurando determinar se o fator social apenas fornece a matéria (ambiente, costumes, traços grupais, ideias) ou se, além disso, é elemento que atua na constituição do que há de essencial na obra enquanto obra de arte.

 Em seguida, Antônio Candido faz uma análise do romance Senhora de José de Alencar colocando o social como fator da própria construção artística, estudando-o no nível explicativo e não ilustrativo. Então, ele declara que para se fazer uma análise não pode mais ser imposto um critério único, ou seja, não se deve ficar somente nos aspectos periféricos da linguística, da psicologia, da religião ou da sociologia, pois a importância de cada fator depende do caso a ser analisado, em Senhora, por exemplo, a sociologia adquire uma validade maior. Assim, por mais interessada que a crítica atual esteja nos aspectos formais, não pode dispensar nem menosprezar os outros aspectos de investigação.

Antônio Candido irá enumerar as modalidades mais comuns de estudos do tipo sociológico em literatura. O primeiro tipo seria a crítica que se preocupa em relacionar o conjunto de uma literatura, um período, um gênero, com as condições sociais (método tradicional, esboçado no século XVIII). Um segundo tipo é formado pelos estudos que procuram verificar a medida em que as obras espelham (aspectos reais) ou representam a sociedade. O terceiro “é muito mais coerente” diz o sociólogo, consiste no estudo da relação entre a obra e o publico, isto é, o seu destino, a sua aceitação, a ação recíproca de ambos.

 Ainda dentro da sociologia, um quarto tipo, estuda a posição e a função social do escritor, procurando relacionar a sua posição com a natureza da sua produção e ambas com a organização da sociedade. O quinto, investiga a função política das obras e dos autores, em geral com intuito ideológico marcado. Finalmente, um sexto tipo, volta-se para a investigação hipotética das origens, seja da literatura em geral, seja de determinados gêneros. Em todos esses estudos, nota-se o deslocamento de interesse da obra para os elementos sociais que formam a sua matéria, para as circunstâncias do meio que influíram na sua elaboração, ou para a sua função na sociedade.

Para Antônio Candido, “não se trata de afirmar ou negar uma dimensão evidente do fato literário; e sim, de averiguar, do ângulo específico da crítica, se ela é decisiva ou apenas aproveitável para entender as obras particulares” (ibidem, p.13). O sociólogo julga que a crítica determinista de Taine (estruturalismo), anulava a individualidade da obra, integrando-a numa visão demasiado ampla e genérica dos elementos sociais. Para ele, “o fator social é invocado para explicar a estrutura da obra e o seu teor de ideias, fornecendo elementos para determinar a sua validade e o seu efeito sobre nós” (ibidem, p.15).

Por fim, o sociólogo declara conceber a “obra como organismo que permite, no seu estudo, levar em conta e variar o jogo de fatores que a condicionam e motivam; pois quando é interpretado como elemento de estrutura, cada fator se torna componente essencial do caso em foco, não podendo a sua legitimidade ser contestada nem glorificada a priori” (ibidem, p.16), ou seja, a obra de arte é uma organização com elementos vivos para Antônio Candido.

A literatura e a vida social

        Aqui Antônio Candido se propõe a focalizar aspectos sociais que envolvem a vida artística e literária nos seus diferentes momentos. Ele atenta para o fato da sociologia não passar de uma disciplina auxiliar, diz que ela não pretende explicar o fenômeno literário ou artístico, mas apenas esclarecer alguns aspectos. Então menciona um trecho de Sainte-Beuve, que parece exprimir exatamente as relações entre o artista e o meio: “O poeta não é uma resultante, nem mesmo um simples fofo refletor; possui o seu próprio espelho, a sua mônada individual e única. Tem o seu núcleo e o seu órgão, através do qual tudo o que se transforma, porque ele combina e cria ao devolver à realidade” (ibidem, p.18).

        Nesse sentido, o sociólogo faz uma pergunta: “qual a influência exercida pelo social sobre a obra de arte?”, complementando com: “qual a influência exercida pela obra de arte sobre o meio?”.         Então, Antônio Candido afirma que duas respostas tradicionais devem ser afastadas numa investigação como esta: “A primeira consiste em estudar em que medida a arte é expressão da sociedade; a segunda, em que medida é social, isto é, interessada nos problemas sociais” (ibidem, p.18). Para o sociólogo moderno, ambas as tendências tradicionais tiveram a virtude de mostrar que a arte é social.

        Para investigar as influências concretas exercidas pelos fatores socioculturais, Antônio Candido diz que os fatores mais decisivos se ligam à estrutura social, aos valores e ideologias e às técnicas de comunicação. E esses fatores marcam os quatro momentos da produção, pois: “a) o artista, sob o impulso de uma necessidade interior, orienta-o segundo os padrões da sua época, b) escolhe certos temas, c) usa certas formas e d) a síntese resultante age sobre o meio” (ibidem, p.20). Entretanto, o sociólogo lembra que é importante ter intuição, fazer diferente, ultrapassar sua época. Em seguida, Antônio Candido declara que “todo processo de comunicação pressupõe um comunicante, no caso o artista; um comunicado, ou seja, a obra; um comunicando, que é o público a que se dirige; graças a isso define-se o quarto elemento do processo, isto é, o seu efeito” (ibidem, p.20).

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