A PRODUÇÃO DA ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA COM O GÊNERO DIÁRIO PESSOAL
Por: Janaína Pontes • 22/3/2020 • Artigo • 2.907 Palavras (12 Páginas) • 271 Visualizações
A PRODUÇÃO ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA COM O GÊNERO DIÁRIO PESSOAL
Lívia Henrique de OLIVEIRA (UFPB)
Janaína Pontes dos SANTOS (UFPB)
Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Barboza de LIMA (UFPB)
Com o avanço da tecnologia, as práticas textuais estão cada vez mais dinâmicas e objetivas. Isso implica não só no surgimento de novos gêneros textuais, mas também em novas formas de configuração dos gêneros já existentes. O diário, por exemplo, é um dos mais clássicos. Atualmente, existem várias modalidades desse gênero que atestam seu caráter atemporal. Considerando a importância de trabalhar os gêneros textuais em diversos formatos, nos vários tipos de linguagem e meios de circulação, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a proposta de intervenção elaborada a partir do plano de ação do PIBID, Língua Portuguesa, do Campus IV da Universidade Federal da Paraíba para o ensino de escrita com o gênero Diário. A oficina proposta e apresentada neste trabalho foi aplicada em uma escola municipal da cidade de Mamanguape-PB, com alunos do sexto ano do ensino fundamental II. Dentre os principais referentes teóricos que utilizamos, estão os documentos oficiais do Brasil que norteiam o ensino de língua portuguesa, como os PCN (BRASIL, 1997) e a BNCC (2017), além de autores, como: Marcuschi (2003) e Antunes (2011). De abordagem qualitativa e natureza aplicada, utilizamos como procedimentos, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa-ação. A oficina ocorreu em etapas que previram um diagnóstico dos problemas de escrita para posterior intervenção. Como resultados, observamos que, principalmente após as atividades de reescrita, questões de ordem estrutural e linguística pertinentes ao gênero estudado foram melhor compreendidas e que o trabalho em torno dessas produções, por serem de cunho mais íntimo e informal, estimularam o exercício criativo da escrita.
Palavras-chave: Ensino de língua portuguesa. Produção escrita. Gêneros textuais. Gênero diário.
Introdução
O processo de escrita e reescrita nos ambientes escolares tem sido discutido como uma forma de melhorar o desempenho comunicativo dos usuários no tocante, principalmente, aos gêneros que exigem mais elaboração. O texto escrito, diferente do oral, exige uma preparação que pressupõe organização, seleção, revisão, ou seja, um planejamento que deixa revelar sua complexidade e a necessidade de estratégias diferentes do falar.
Pensando em apresentar uma proposta de escrita a uma turma do ensino fundamental que instigasse a criatividade e a liberdade de expressão, pensamos no gênero diário pessoal, uma vez que o gênero carrega boa dose de pessoalidade, ao mesmo tempo em que permite um exercício de escrita menos formal.
Entre as dificuldades encontradas na prática da escrita, observamos as influências da oralidade no texto escrito, algo já esperado por tratar-se de um gênero mais pessoal e informal. Outra questão referiu-se à falta de atenção e interesse pela leitura e o próprio distanciamento existente com a prática da escrita, elementos que dificultaram a obtenção dos objetivos almejados. Também por isso, optamos por, ao longo da oficina, levar gêneros literários contemporâneos que auxiliassem o processo de tomada/retomada do gosto pelo ato de ler, tendo em vista que, acreditávamos, uma vez cultivado o gosto pela leitura, amplia-se a capacidade desse leitor de compreender não apenas o texto, mas o mundo que o cerca.
Descrição e análise da experiência
Aplicamos a oficina de escrita com o gênero Diário em uma das turmas de sexto ano da escola-campo na qual atuamos. Ao todo, formada por aproximadamente trinta alunos entre onze e treze anos de idade. Nossa ação esteve dividida em quatro etapas para melhor trabalhar as necessidades de escrita e reescrita desses alunos.
A primeira etapa foi realizada no dia 15 de agosto. Como havíamos planejado, mediante diálogo e orientação dos demais integrantes do nosso grupo, o principal objetivo dessa primeira fase foi, além de apresentar o gênero, fazer um exercício de sondagem para verificar o nível de escrita dos alunos. Por isso, dividimos essa primeira fase em dois momentos.
Primeiro demos início questionando os alunos sobre com qual frequência eles escreviam fora da escola, isto é, produziam textos escritos sem necessariamente essa atividade estar vinculada a algum objetivo educacional. Ao que a grande maioria afirmou serem pouquíssimas vezes, apenas quando precisavam escrever mensagens de textos nas redes sociais ou deixar algum recado manuscrito em caso de emergência. Porém, dentre esses, três alunos afirmaram ter um diário.
“Pegamos a deixa” e começamos as discussões para introduzir o gênero a partir das contribuições desses alunos que falaram brevemente sobre suas rápidas experiências. Dizemos rápidas, porque dois deles afirmaram terem abandonado seus diários e desistido de dar continuidade aos seus registros escritos o que, em parte, é compreensível, pois, são indivíduos em transição entre a infância e a adolescência e a busca constante por novidades os faz, por vezes, instáveis. Sendo assim, percebemos logo de início que apresentar a proposta de escrita diária nessa turma não seria uma tarefa tão simples.
Na verdade, o ensino de escrita em si é complexo e por isso pensamos que o trabalho com gêneros textuais em sala de aula precisava ser de caráter funcional, isto é, o mais prático possível. Os gêneros por essência possuem essa funcionalidade, pois, como afirma Marcuschi (2003, p. 20):
Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócioculturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita.
...