ANÁLISE DO POEMA PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Por: fabysmplc • 11/9/2018 • Trabalho acadêmico • 982 Palavras (4 Páginas) • 8.053 Visualizações
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
FABIANA SIMPLÍCIO DA SILVA
ANÁLISE DO POEMA “PSICOLOGIA DE UM VENCIDO”,
DE AUGUSTO DOS ANJOS
CAMPINA GRANDE- PB
2018
Augusto dos Anjos
Biografia do autor
Augusto dos Anjos (1884-1914) foi um poeta brasileiro nascido no engenho Pau d’Arco (atualmente é o município de Sapé), na Paraíba. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Recife e lecionou Literatura Brasileira na cidade de João Pessoa. Também foi nomeado como professor do Liceu Paraibano e professor de Geografia no Colégio Pedro II.
Em 1912, o poeta publicou o seu livro intitulado de “Eu”, posteriormente publicado como “Eu e outras poesias”. Seus poemas deixaram os críticos da época perplexos pela representação constante do sofrimento, da deterioração do corpo, da morte e outros temas que passam angústia aos leitores.
Augusto dos Anjos faleceu em 1914, vítima de pneumonia. Nesse mesmo ano, iniciava-se a Primeira Guerra Mundial.
Um de seus poemas mais conhecidos é “Psicologia de um vencido”, apresentado a seguir:
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância ...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – esse operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra.
Este poema caracteriza-se como pré-modernista, pois representa uma literatura de transição no sincretismo parnasiano-simbolista. Mostra uma inovação na forma de fazer poesia e traz o desconcerto existencial, além do vocabulário científico. A composição é um soneto (dois quartetos e dois tercetos). Esquema rímico: abba abba ccd eed. Tem a presença de rimas ricas (rimas entre palavras de classes gramaticais diferentes) em rutilância/infância e um rima rara em roê-los/cabelos.
Análise
1ª estrofe:
"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco."
No primeiro verso, o eu lírico define-se como filho do carbono (C) e do amoníaco (NH3). A substância química CO2 (dióxido de carbono) é liberada no processo de respiração humana e o NH3 (amônia) é resultante do catabolismo das proteínas que, no corpo humano, é transformada em uréia (subproduto menos tóxico) antes de ser liberada para o meio ambiente. De um lado, o carbono é essencial para a vida, constituindo 18% do corpo humano, o que explica o fato de o eu lírico ser “filho do carbono”. Porém, de outro, gás carbônico em alta concentração é muito prejudicial ao corpo humano, por isso ele precisa ser liberado rapidamente. Já a amônia, quando presente em excesso na corrente sanguínea, causa a hiperamonemia, um transtorno metabólico que pode levar à encefalopatia (perturbação pela qual a função cerebral se detriota) e à morte. Isso traz uma ideia de depreciação do eu lírico.
No segundo verso, a palavra “monstro” é utilizada para menosprezar a si mesmo, já que esse termo, segundo o Dicionário Online de Língua Portuguesa, signica “tudo o que é contra a ordem regular da natureza”. As expressões “escuridão” e “rutilância” se opõem, constituindo uma antítese. Já o terceiro e o quarto versos, mostram que o sofrimento retratado vem desde o ínicio da vida do eu lírico e toma proporções universais.
O autor traz as ciências da natureza para o seu poema, como a bioquímica (1º verso) e a fisiologia (3º verso), além da astrologia (4º verso).
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