O Livro Macunaíma
Por: marc2015 • 8/1/2016 • Ensaio • 1.080 Palavras (5 Páginas) • 246 Visualizações
É a mesma dança na sala/ No Canecão, na TV/ E quem não dança não fala/ Assiste a tudo e se cala/ Não vê no meio da sala/ As relíquias do Brasil/ Doce mulata malvada/ Um LP de Sinatra/ Maracujá, mês de abril/ Santo barroco baiano/ Super poder de paisano/ Formiplac e céu de anil/ Três destaques da Portela/ Carne seca na janela/ Alguém que chora por mim/ Um carnaval de verdade/ Hospitaleira amizade/ Brutalidade, jardim
Caetano Veloso
Lembro-me de quando a minha avó me cantava Caetano, algo tão sem sentido para uma criança, captada apenas pelo ritmo apelativo, sem sequer sonhar do que escondiam as palavras.
Não havia mais ninguém lá. […] Um silêncio imenso dormia à beira-rio do Uraricoera. Nenhum conhecido não sabia nem falar na fala da tribo […] Quem que podia saber do herói? - Somente eu - um mero professor alemão -, ouvi as peripécias deste Brasil(eiro) sem caráter.
Esta é a história de um herói: Macunaíma - um brinquedo - que nasceu nas profundezas inacessíveis do Mato Virgem, na Floresta Amazónica. Filho de uma índia da tribo Tapanhumas, era feio, “preto retinto, cor da noite.” O herói nasce no (e do) silêncio. Silêncio esse que guardará até aos seis anos, para proferir as palavras que repetirá até à exaustão - “Ai que preguiça!”. Deliciava-o banhar-se nu, com a família e as cunhãs, todos mostrando as suas vergonhas que ele adorava tocar.
Ainda menino vivia já na sombra da libertinagem; regozijava-se com dinheiro e mulheres. Os seus sonhos eram imorais: como estratagema para “brincar”- ter relações sexuais - passeava com a cunhada, Sofará, no mato, onde “brincavam”. Quando Jiguê, seu irmão, testemunhava a ociosidade de Sofará, batia-lhe: ela aguentava calada. Ao encontrá-los, novamente, a “brincar” impetuosamente, após a sua reprimenda, Jiguê bateu também no herói e devolveu a companheira à sua família.
Passavam-se períodos de carência na tribo, no entanto Jiguê encontrou outra mulher, Iriqui. Macunaíma mentia para se divertir às custas dos seus irmãos, enquanto iludia também a sua mãe: pedia-lhe que fechasse os olhos para, ao abri-los, ver que estavam os dois na outra margem do rio, rodeados de alimentos. A velha índia, ao querer levá-los para perto da sua família, enfureceu-o e ele transportou-os para a velha casa onde voltaram a padecer.
Magoada com o herói, a mãe abandonou-o no mato. Macunaíma encontrou um Curupira que o aconselhou, astutamente, a seguir um caminho de retorno errado o qual, por preguiça, acabou por não seguir. Cruzou-se, mais tarde, com a Vó Cotia que o alimentou. Esta, ao inteirar-se do sucedido com a família, derramou caldo de aipim envenenado no seu corpo - Macunaíma cresceu, mas, a sua cabeça não foi atingida, mantendo as feições infantis.
Ao retornar à tribo, Macunaíma, começou a “brincar” com Iriqui. Jiguê descobriu, mas ao constatar o vigor do corpo do irmão, decidiu não agir. Mais tarde, ao caçar uma veada, o herói matou inadvertidamente a própria mãe. A família decidiu então sair daquele lugar e “partir por esse mundo”.
Macunaíma, vítima do seu próprio desaire, nunca perde as suas infantilidades. Brinca com a realidade, joga com a tradição e com a infância. Acredita Betty Milan que o amor é um sentimento europeu, justificando-se assim que este seja estranho ao brasileiro. O brasileiro troca a tragédia pelo humor, e compreende-se, então, que o ritual amoroso de Macunaíma, “o herói de nossa gente”, seja somente uma “brincadeira”.
Na nova terra, o herói deparou-se com Ci, adormecida. A Mãe do Mato, pertencente a uma tribo amazónica, despertou-lhe o desejo de “brincar”. A guerreira tentou resistir, mas, com a ajuda de seus irmãos, Macunaíma conseguiu dominá-la. Nasceu, fruto deste abuso, não só uma paixão idílica, onde se reinventavam “brincadeiras” amorosas, mas também o novo Imperador do Mato-Virgem.
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