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Resenha Crítica: Ensaio Sobre a Cegueira

Por:   •  8/6/2016  •  Resenha  •  1.332 Palavras (6 Páginas)  •  968 Visualizações

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                           ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA – ATPS

LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL

                                                 

6º Semestres - Letras

Mara Esteves RA: 5664139336

Profº. Edison Nunes

Resenha do filme: Ensaio sobre a Cegueira, direção Fernando Meirelles, baseado na obra de José Saramago.

Ensaio sobre a cegueira, obra do escritor português José Saramago e transposto para as telas do cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, foi filmado em três cidades: São Paulo, China e Canadá. O filme se passa em uma megalópole indefinida. O caos do trânsito e a paisagem composta de arranhas-céu e tons de cinza é o cenário para o primeiro caso dá então desconhecida “cegueira branca”, em uma cidade onde as pessoas não têm tempo nem para si, nem para o outro, a doença se propagou rapidamente e foi retratada por um grupo de pessoas que interagiram durante o processo de contaminação e quarentena.

O filme nos dá elementos para diversas leituras, porém escolhi analisar situações que refletem características globais e locais da sociedade. As formas de dominação e opressão, raça, classe, gênero e solidariedade, são temas discutidos tanto nas pequenas cidades como a nível global e que constituem historicamente a criação e a existência dos movimentos sociais.

 A primeira relação de forma de opressão e dominação está relacionada à conduta do governo, que ao conduzir o tratamento às pessoas contaminadas, isola os infectados de quarentena em hospícios desativados, com condições inaptas para abrigar as pessoas.

 Pelo noticiário são transmitidos os pronunciamentos do governo, informando o gasto de milhões em pesquisas, mas sem nenhuma descoberta eficaz. A única medida efetivada pelo governo é a constante vigília realizada por soldados e a ordem máxima de atirar, caso algum doente se arrisque em transpor os limites estabelecidos para a área.

O domínio do Estado, por se tratar de autoridade política e força armada, garantiu que os doentes ficassem aprisionados nesses espaços, sem a possibilidade de diálogo ou condições dignas de sobrevivência, similar ao ocorrido em outro momento do filme, ao retratar o modo de organização das alas. A Ala 3 por deter uma arma de fogo, se auto-proclama autoridade máxima e detêm o controle sobre a distribuição da comida, impondo um regime ditatorial, aonde pela sobrevivência, os integrantes de outras alas tiveram que trocar jóias, eletrônicos e até o próprio corpo, no caso das mulheres.

Essas duas situações retratam que, em situações extremas, quem detêm ferramentas, habilidades ou tecnologias extremamente importantes para determinada situação, está exposto diretamente a uma posição de domínio, surgindo assim, o ímpeto de obter vantagem sob o dominado, como retratado na cena em que um soldado orienta a personagem representada pela atriz Julianne Moore a pegar a pá no meio do pátio, brincando e não orientando verdadeiramente sobre o posicionamento da pá, por acreditar que ela era cega.

O proveito em detrimento da fraqueza do outro, também é retratada no início do filme, quando o primeiro contaminado está perdido, após ficar cego no meio do trânsito, e é ajudado por um simpático e prestativo rapaz, mas, ao conduzir o cego para sua casa, rouba-lhe seu automóvel.

O protagonismo feminino permeia toda a história do filme e nossas heroínas estão representadas pela mulher do médico, a prostituta e a consultora financeira.

Independentes, fortes e pró-ativas, essas são as características das personagens femininas em referência a mulher moderna, longe do padrão submisso dos anos passados.

A mulher do médico é a única que não foi contaminada pela cegueira branca, mas que finge ser afetada pela cegueira para poder acompanhar seu marido, e é a partir da visão dela, que acompanhamos a agonia do súbito enclausuramento dos cegos e como ela se torna responsável por diversas tarefas para facilitar a vivência e organização de todos, assumindo também o papel de enfermeira de seu marido, cuidando de sua alimentação, higiene. A prostituta também desconstrói os estereótipos, ao se apresentar como mulher digna e honesta, tornando-se responsável pelo cuidado da única criança da quarentena.

Na cena aonde as mulheres decidem submeter seus corpos a mercadoria de troca por comida, a consultora financeira enfrenta a objeção de seu marido, afirmando não ser diferente das outras mulheres e que o marido não possui o poder sobre suas decisões. Esta cena e a dos atos de estupro são impactantes e nos trazem a tona o que muitas mulheres se submetem para garantir a sobrevivência.

No primeiro estupro, uma das mulheres morre em decorrência da violência, uma cena difícil de assistir e não ter repúdio pelo ato e ainda associar a violência contra a mulher, presente na sociedade contemporânea, partindo dos nossos instintos mais primitivos pela sobrevivência, não há como não desejar a vingança contra os algozes dessas mulheres. A partir desse contexto, a mulher do médico muda a sua ação e se anteriormente não pode evitar o ato violento, agora usará de sua visão para poder matar o rei da Ala 3, responsável pelo caos e pesadelo das mulheres. E quando o ato e pós-ato são visualizados nas telas, o incomodo e desespero é exacerbado, e apenas satisfeito com a morte do mentor da proposta. A masculinidade que nestas cenas são representadas pela força e dominação se mostra em outros momentos do filme sua relação frágil, principalmente quando retrata o cuidado da mulher com o médico e sua dependência até mesmo em tarefas simples.

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