Semântica, Semânticas: Resenha crítica do livro
Por: Genilson Medeiros • 13/11/2017 • Resenha • 1.665 Palavras (7 Páginas) • 878 Visualizações
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS – PORTUGUÊS
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA PORTUGUESA
RESENHA CRÍTICA
Resenha Crítica elaborada por Genilson Silva de Medeiros como atividade concernente à disciplina de Semântica e Pragmática do período 2017.1.
Campina Grande, PB
07 de novembro de 2017
RESENHA CRÍTICA
BARBISAN, Leci Borges. Semântica Argumentativa. In: FERRAREZI, Celso e BASSO, Renato [orgs.]. Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2013. p. 19 – 28.
BASSO, Renato. Semântica Formal. In: FERRAREZI, Celso e BASSO, Renato [orgs.]. Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2013. p. 135 – 151.
LENZ, Paula. Semântica Cognitiva. In: FERRAREZI, Celso e BASSO, Renato [orgs.]. Semântica, semânticas: uma introdução. São Paulo: Contexto, 2013. p. 31 – 55.
O universo da linguagem do qual nos servimos compreende em si uma ampla variedade de recursos que constroem um ambiente atraente para os mais diversos estudos. Se considerarmos o estudo dos sentidos expressos pela língua, encontraremos na Semântica aporte teórico que, com o avanço cronológico de pesquisas na área, nos permite compreender como esta ciência entende as significações e sentidos das palavras nas construções da língua. Com focos distintos, mas guiando sempre para o objetivo comum de compreender os sentidos, as diferentes abordagens que constituem a semântica, mais especificamente a formal, argumentativa e cognitiva, esclarecem e ampliam os horizontes sobre este assunto.
Ao indivíduo que inicia nestes estudos, o assunto pode parecer obscuro. Por causa disso, Ferrarezi e Basso (2013) nos apresentam em seu livro Semântica, semânticas (2013) um compilado de textos teóricos que trazem, de maneira introdutória, perspectivas sobre as diversas formas de abordagem a que se compreende os estudos da Semântica. Aqui nos deteremos a apresentar apenas os tópicos intitulados Semântica Formal, Semântica Argumentativa e Semântica Cognitiva. Os tópicos apresentam cada forma de Semântica de maneira didática em seções que esclarecem o que é, o que estuda, como estudá-la, exemplos que podem ser dados, quais são as grandes linhas de investigação e recomendações de leitura, todos apresentados na forma interrogativa, tal qual um aluno arguindo ao professor sobre.
Levando em consideração a primeira seção, vemos que Basso (2013), apresentando os estudos de Gottlob Frege, define a Semântica Formal como uma teoria que atenderá o princípio de composicionalidade, o qual se embasa por meio de uma metalinguagem lógico-matemática, levando em consideração as noções de verdade relacionadas a partir da conexão entre língua e realidade (p. 140). Para este estudo semântico, os sentidos são atribuídos e considerados verdadeiros a partir daquilo que representam no mundo externo, sua literalidade. É uma teoria, a determinado nível, que considera a linguagem um reflexo do universo. A linguagem consta numa descrição da realidade, levando em consideração as noções de verdade atribuídas a este estudo. Tal como o autor explica em seu texto, podemos notar que o objetivo dos estudos da Semântica Formal, observada as condições de verdade, torna-se o de determinar como atribuímos estas no nosso sistema linguístico, investigando como itens, formas ou manobras, dado um estudo de decomposição e composição das sentenças, impactam nas condições de verdade das sentenças (p. 143). Seus exemplos, de maneira a demonstrar como o estudo da Semântica Formal acontece, abordam recursos imagéticos que remetem à Teoria dos Conjuntos, visto que neste antro da Semântica percebemos forte influência dos estudos da lógica matemática. De maneira a compreender apenas os sentidos literais expressos nas sentenças da Língua, podemos perceber determinada semelhança com os estudos de Saussure sobre a linguística estrutural. Tal como em Saussure, é possível observar que nesta parte dos estudos da Semântica, o falante não é observado. Os aspectos dicotômicos de langue e parole são evidenciados, servindo por base do estudo os sentidos expressos por aquele primeiro polo dicotômico em relação com a realidade.
Já no segundo texto, Barbisan (2013) apresentará algumas noções sobre o ramo da Semântica Argumentativa. Mencionando pesquisadores como Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre e seus papéis como criadores e orientadores dos primeiros estudos sobre este foco da semântica, a autora destaca que, desta vez, o sentido das sentenças que será observado não se remete às noções de verdade observadas na Semântica Formal, mas sim no que é expresso pelo linguístico. Neste momento, é possível notar que a autora apresenta a importância do locutor e do alocutário nas construções do enunciado. Compreende-se aqui que “o sentido não está nele [locutor], nem no outro [alocutário], mas na relação que se estabelece entre ele e o outro” (p. 21). Entende-se que o momento da enunciação, ato de fala, é um recurso de expressão do pensamento e que o objetivo neste caso é fazer o alocutário conduzir o diálogo a partir das possibilidades que é possível se obter do enunciado fornecido pelo locutor, dando continuação. A partir disso, a autora apresenta, baseada na teoria de Ducrot, a noção de escolha, a qual se refere às opções feitas pelo enunciador no momento do ato de produção do enunciado, efetivando a argumentação e resistindo à descrição extralinguística. Descrevendo em poucas palavras, a Semântica Argumentativa deixa à parte os fatores extralinguísticos, confirmando que “seu objetivo é o de descrever o sentido criado por um locutor, ser de fala, responsável pelo enunciado” (BARBISAN, 2013. p. 24).
Sob outra óptica, Paula Lenz (2013) nos apresenta em seu tópico sobre Semântica Cognitiva uma visão semântica ligada aos processos cognitivos do ser humano na construção e uso das sentenças da língua. Como vimos no tópico sobre Semântica Formal, podemos perceber que a Língua é analisada na sua forma literal de representação dos sentidos. Contudo, nesta abordagem cognitiva, estudada por autores como Fillmore e Lakoff, podemos perceber que a literalidade da sentença é superada por uma compreensão voltada para o individual. As noções de verdade, neste caso, levarão em conta as intenções e percepções que o ser humano tem do mundo ao seu redor. Na Semântica Cognitiva, também chamada Semântica de Frames, as estruturas serão compreendidas agora por conceituais e incluirão no acervo de significações do indivíduo os seus conhecimentos de mundo, experiências, culturas, convenções sociais etc. Segundo a autora, “os estudos em Semântica Cognitiva voltam-se tanto para a investigação da semântica linguística quanto para a modelagem da mente humana” (p. 37). Acatando que a mente é corpórea e que os processos que levam a atribuição de sentido só se dão através do relacionamento sensorial do corpo com o mundo externo, podemos inferir que a Semântica Cognitiva situa o indivíduo como produtor dos sentidos da sua linguagem, o qual pode atribuir conceitos a determinados referentes aos quais, levando em consideração a linearidade cronológica, antes lhe significavam algo e no momento passam a significar outra coisa, a qual se concretiza por seus experimentos sensório-motores com o mundo que o cerca.
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