Sermão de Santo António aos Peixes
Por: Ana Rita Caldeirinha • 23/10/2020 • Trabalho acadêmico • 1.128 Palavras (5 Páginas) • 1.043 Visualizações
É uma sátira social pois julga comportamentos corruptos e condenáveis.
Capítulo I - EXÓRDIO
O Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, “Vós sois o sal da Terra”, sendo a máxima que a obra se baseia e o conceito a comprovar no sermão para ser aceite pela audiência.” Vós” refere-se aos pregadores, “sal” á mensagem e “Terra” os ouvintes.
O sal era utilizado para conservar a comida e simbolizava impedir a corrupção e os pregadores servem para louvar o bem e impedir o mal.
A Terra está tão corrupta devido aos pregadores ou ao sal. Se é devido aos pregadores é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, porque dizem uma coisa e fazem outra ou porque pregam-se a si mesmos e não a Cristo. Se é devido ao sal então é porque a Terra não se deixa salgar, os ouvintes não querem receber a verdadeira doutrina, querem imitar o que os pregadores fazem e não o que eles dizem ou querem servir os seus apetites em vez de servir a Deus.
Assim, a possível solução segundo Cristo era lançar o sal fora para ser pisado por todos e a resposta de Santo António foi mudar de auditório.
Padre António Vieira apresenta Santo António como exemplo de um bom pregador, como modelo a seguir, para moralizar o auditório, à sua semelhança vai pregar os peixes, já que os homens não o ouvem.
Capítulo II – LOUVORES EM GERAL
O Sermão é considerado uma alegoria porque os peixes são metáforas dos Homens. O pregador fala aos peixes, mas o seu alvo é o Homem.
Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco.
As principais virtudes dos peixes são que foram as primeiras criaturas criadas por Deus, são a espécie mais numerosa e também a maior, são bons ouvintes e obedientes, revelam respeito e devoção e não se deixam domesticar.
O pregador pretende condenar os homens que possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.
Capítulo III – LOUVORES EM PARTICULAR
Rémora: A rémora é um peixe digno de admirar devido á sua força e convicção, pois apesar do seu corpo pequeno, é capaz de impedir um navio de andar, pegando-se ao leme de uma nau. O pregador identifica a rémora como a língua de Santo António (o seu pregar), sendo ambos de pequena dimensão e apesar disso, têm muita força.
Torpedo: O Torpedo é um peixe que provoca descargas eléctricas em quem lhe toca, ao ser pescado essas descargas podem atingir o pescador, fazendo-o tremer. O pregador louva este peixe porque o considera metáfora dos pregadores que conseguiam agir fortemente sobre o auditório, fazendo-o tremer.
Quatro-olhos: O Quatro-olhos é um peixe digno de admirar pois tinha quatro olhos, dispostos de tal maneira, que lhe permitiam ter uma visão muito alargada, podendo ver simultaneamente para cima, para se proteger das aves e para baixo para se proteger dos perigos do fundo do mar. Olhar para cima associa-se ao Céu e para baixo associa-se ao Inferno, simbolizando as duas direções do caminho de cada ser humano.
Peixe Tobias: O peixe Tobias era um peixe digno de louvar pois o fel deste peixe curava a cegueira, e os homens precisavam de ser curados das cegueiras que tinham. Por outro lado o seu coração tinha propriedades de afastar os demónios (afastar as tentações). Estabelece uma relação de semelhança com Santo António pois também este era capaz de curar a cegueira dos ouvintes, tirando-os das trevas e mostrando-lhes a luz, e afastar os demónios com as suas palavras e bondade.
Capítulo IV: Críticas em Geral
Os peixes comem-se uns aos outros, os mais fortes exploram e abusam dos mais fracos. Crítica assim a sociedade referindo que os homens prejudicam-se uns aos outros, na ânsia de ganhar na vida.
O pregador dá como exemplo um habitante do Maranhão que deixou-se levar pelo português, que lhe sugeriu comprar uns trapos que não valiam nadas mas que este o fez acreditar que valia e endividou-se por mera vaidade. Em contraste, o exemplo de Santo António, que nunca de deixou enganar pela vaidade do mundo, sendo rico vestia-se bem, ao converter-se, mudando de vida, alterou a indumentária, passando a vestir-se simples.
Capítulo V: Críticas em Particular
Pegador: Estes peixes caracterizam os homens orgulhosos e oportunistas, sendo pequenos, pregam-se aos peixes maiores, não os largando mais (parasitismo), são peixes arrogantes e com pouca firmeza. São facilmente pescados pois quando o peixe em que estavam colados morria, estes morriam também. Referem-se ás pessoas que se apegam aos poderosos por mero interesse, com o objetivo de extrair algo da outra, quem vive sob a proteção de alguém, caindo o protector, caí protegido. O pregador afirma que se havemos de nos pegar a alguém ou algo é Deus, como ele mesmo faz.
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