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TCC - Florbela Espanca

Por:   •  20/4/2020  •  Monografia  •  8.521 Palavras (35 Páginas)  •  463 Visualizações

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INTRODUÇÃO

Florbela de Alma Conceição Espanca (1894 – 1930) ou Florbela Espanca,

identidade assumida pela escritora alentejana, deixou o anonimato para tornar-

se uma das poetas mulheres mais conhecidas mundialmente. Embora tenha

publicado narrativas em prosa, foram os sonetos que mais obtiveram destaque

em sua bibliografia. Ao contrário da personagem Capitu, de Machado de Assis,

que trazia um par de olhos de cigana oblíqua e dissimulada, a mulher Florbela,

em suas fotos, revela um olhar que denuncia angústia e abandono. Não apenas

sua fisionomia bem como seus versos são permeados por um total desamparo.

Seus leitores, ao contemplarem seu semblante, têm a medida exata do abismo

de sua existência.

Ainda que muitos críticos visem decifrar a obra da escritora por meio da

análise de eventos importantes de sua vida – como, por exemplo, seus lutos,

seus casamentos, o abandono parental e o falecimento precoce de seu irmão -

tal atitude revela-se reducionista perante à magnitude da obra de Florbela.

Não pretendemos aqui adotar semelhante método. Antes temos por

objetivo refletir sobre as diversas facetas dessa instigante mulher e sua literatura

concomitantemente frágil e forte.

Portadora de uma fé assombrosa, Espanca revela sua versatilidade

poética ao tratar de amores frustrados, de profundas divagações acerca da vida

e dos costumes lusitanos vigentes na época de sua escrita, além do registro de

ínfimas partículas de felicidade.

Apesar de suas quase quatro décadas de vida, como inúmeros nomes da

poesia, Florbela viveu intensamente e deixou um legado literário extenso e

maduro para tão pouca idade, que só veio a ser reconhecido em seu post-

mortem. A fim de melhor esboçarmos o caráter da mulher e da escritora, fizemos

uso de significativa pesquisa bibliográfica, ora consultando livros impressos, ora

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coletando informações em artigos acadêmicos hospedados em plataformas que

fornecem conteúdo seguro e relevante como, por exemplo, Scielo e Pepsic.

Portanto, no primeiro capítulo, colocamos um breve panorama da

sociedade portuguesa e do simbolismo, movimento literário em que se insere a

obra de Florbela, estabelecendo um paralelo com os dias atuais, onde a mulher

ocupa um lugar e desempenha funções distintas.

No capítulo seguinte, tratamos das características da poesia florbeliana,

introduzindo alguns poemas à guisa de ilustração. E, por fim, no terceiro

capítulo, analisamos alguns de seus poemas à luz da filosofia e da psicanálise,

buscando uma compreensão maior do tema.

Pretendemos, com o presente trabalho, que a intensa produção literária

de Espanca possa ser estudada e debatida em âmbito nacional e não somente

em território português, uma vez que imaginamos que tal estudo possa suscitar

a elaboração de projetos futuros, na seara da Literatura Portuguesa ou ainda no

âmbito da Literatura Comparada.

Cremos que, por se tratar de uma voz feminina e lusófona, certamente um

cotejo de obras de autoria da escritora e de poetas brasileiras possa ser bastante

profícuo e incentivar a elaboração de pesquisas inéditas na área, já que Florbela

trata da dor da existência, matéria poética de muitos escritores ao redor do

mundo.

CAPÍTULO 1

FLORBELA E O SIMBOLISMO PORTUGUÊS

Em oposição à estética parnasiana, surge o simbolismo para quebrar com

a objetividade que lhe era característica. A estética simbolista, originária da

França, é marcada pela obra de Mallarmé. Os poetas que acompanhavam este

movimento compunham poesias abarrotadas de musicalidade, recursos sonoros

e outros artifícios tais como as aliterações, figuras de linguagem e assonâncias,

abrindo mão do rigor que pregava o parnasianismo.

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Tal estética remete à esfera espiritual, ao metafísico e ao inconsciente. O

poeta, por valorizar o obscurantismo, aprecia o mistério e manifesta-se de forma

melancólica. Este não consegue ajustar-se ao mundo, que lhe soa incômodo e

absurdo. Sob este aspecto, o Simbolismo encontra eco no Romantismo, que

pretende escapar da insatisfação promovida pelo mundo material.

Segundo Antônio Cândido (1976),

“Os simbolistas conservaram vários hábitos de versificação dos parnasianos.

Mas de acordo com seu desejo de mistério e fluidez, buscaram ritmos mais musicais e

insinuantes, tornando-os eficazes por meio de certos recursos expressivos, como a

atenuação e deslocamento das tônicas, o uso do dístico, a repetição sistemática de

palavras e frases, que dão ao poema uma força por vezes sonambúlica de

envolvimento.” (CÂNDIDO, 1976, p. 105)

É neste contexto que imaginamos uma Florbela Espanca deslocada,

completamente angustiada em virtude do abandono parental, da morte da mãe

e, sem sombra de dúvida, de uma Portugal que era surda para manifestações

artísticas elaboradas por mulheres. Nas obras de Cândido (1976) e Bosi (2012)

bem como em outros autores, não há qualquer menção ainda que superficial

neste período, a escritoras mulheres.

De acordo com Pessoa, a autora teria se posicionado contra a política

vigente, adotando uma postura feminista, o que deve ter lhe colocado ainda mais

à margem da sociedade, causando-lhe inúmeras inquietações.

“Além dos projetos poéticos e manuscritos, foi colaboradora de suplementos

literários feministas e de revistas literárias em Lisboa, que defendiam posições políticas

contra o salazarismo e a favor do movimento feminista”. ( PESSOA, 2014, p.6)

O escritor Eugenio de Castro publica, em 1890, a obra Oaristos, tida como

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