Testamento - Manuel Bandeira
Por: shutupana • 3/11/2016 • Trabalho acadêmico • 1.287 Palavras (6 Páginas) • 3.036 Visualizações
Este trabalho irá discorrer sobre o poema “Testamento” de Manuel Bandeira, a fim de levar em consideração aquilo que ele projetava e o que se conquistava. Antes de começar a análise, é necessário situar-se de alguns aspectos pessoais da vida do autor. Nascido em 1886 na cidade do Recife, Pernambuco, Manuel Bandeira mudou-se para o Rio de Janeiro com sua família em 1890, mas pouco tempo mais tarde regressou a Recife. Entretanto alguns anos depois o escritor vai para São Paulo a fim de ingressar no curso de arquitetura; contudo, ao final do ano letivo, ele abandonou os estudos por ter contraído tuberculose. Vindo de uma família pequena e após ser condenado a uma vida curta devido a doença, ele viveu parar assistir a morte da sua mãe em 1916, em seguida sua irmã no ano de 1918 e por último seu pai em 1920. Com certeza, isso acarretou algum tipo de mágoa, uma vez que ele era o enfermo da família. Contrariando toda a expectativa médica da época, este autor foi o último da sua família a falecer, 1966, e com isso ele obteve uma carreira longa e prospera no âmbito literário, pois além de poeta e professor, ele exerceu outras atividades como: jornalista, redator de crônicas e crítico literário e artístico.
De todos os poetas cânones brasileiros, Manuel Bandeira é um dos que mais viveram o conflito entre o tradicional e o moderno, pois ele nunca estabeleceu efetivamente uma ruptura com o passado. O livro Lira dos Cinqüent’anos – publicada em 1940 - foi a obra mais diversificada do escritor, pois nele encontramos uma mescla estilística bandeiriana inconfundível, ou seja, o seu jeito único de mesclar versos livres com formas tradicionais faz com que o leitor perceba seu domínio pleno dos meios expressivos, além de um amplo conhecimento sobre as poesias tendenciosas de seu tempo. Logo, a variedade de técnicas e formas compreende uma atualização do passado em um contexto contemporâneo. O poema “Testamento” foi publicado neste livro, e tal é um grande exemplo de recuperação do fazer poético tradicional, pois, quanto à forma, este poema possui versos em redondilhas maiores, com cinco estrofes, tendo a primeira seis versos e as demais cinco; e além disso, é possível perceber a construção oscilante entre rimas pobres e ricas, visto na terceira estrofe.
Há um trecho na introdução do livro Estrela da vida inteira, de Manuel Bandeira, Antonio Candido e Gilda Melo e Souza que diz: “A metáfora simboliza, portanto, uma frustração, o contraste existente entre aquilo que o poeta se propõe alcançar e aquilo que de fato acaba alcançando, a distância que vai da aspiração à realidade, (pg. 11). Este fragmento está diretamente relacionado com um dos diversos comportamentos encontrados na lírica bandeiriana. Acontece, que no poema aqui proposto “a distância que vai da aspiração à realidade” é descrita de maneira explícita e tranquila, diferentemente do poema “Canção das suas índias” que alude desesperadamente e de forma metafórica os equívocos da sua vida.
O título do poema traz como significado um ato mediante o qual uma pessoa dispõe de seus bens após a morte. E esta é a primeira impressão que o leitor tem da obra. Mas, logo nos dois primeiros versos “O que não tenho e desejo/ É que melhor me enriquece”, o estigma sobre a materialidade é rompido, pois, de fato, o sujeito poético vive pelo ato de não ter desejo. A veracidade desta afirmação pode ser confirmada nas estrofes seguintes “Tive uns dinheiros – perdi-os.../ Tive amores – esqueci-os.”. No quinto verso, “Mas no maior desespero”, a conjunção “mas” marca o contraste do que foi dito anteriormente, ou seja, no instante que o eu-lírico acreditava não possuir mais nada foi-lhe dado um momento de desespero, e, neste ato, ele descobre que “a prece” é o que deseja documentar; visto “Rezei: ganhei essa prece”. No entanto, o que viria ser a prece? Podemos interpretar essa palavra como uma metáfora para poesia. Logo, esse é o bem mais valioso a ser deixado pelo sujeito.
Nesse primeiro momento de análise já é perceptível que os versos estão em diálogo direto com a própria vida do autor. A construção desta obra propõe dois aspectos: o fracasso e a superação. Tais pontos são vistos do início ao fim do poema, mas os dois sentimentos se unificam a partir do momento que o autor trabalha com a ideia de positivar seus fracassos, isto é, superar aquilo que nunca se teve. Foi importante destacar anteriormente alguns aspectos pessoais do autor, pois agora é possível fazer algumas comparações. Na quarta estrofe: “Criou-me desde eu menino,/Para arquiteto meu pai. Foi-se-me um dia a saúde.../ Fiz-me arquiteto? Não Pude!/ Sou poeta menor, perdoai!”. É sabido que o autor teria sido arquiteto, mas com o diagnóstico de tuberculose aos 18 anos, ele escolheu não concretizar essa profissão. Desta forma, o seu hobby (o mundo literário) surgiu para si como a fonte de sobrevivência, pois Manuel Bandeira realmente foi um poeta que fez da poesia um trabalho.
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