Trabalho Comparativista entre o Livro e o Filme O Retrato de Dorian Gray
Por: fggoncalves • 5/10/2016 • Ensaio • 2.252 Palavras (10 Páginas) • 1.066 Visualizações
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TRABALHO COMPARATIVISTA ENTRE O LIVRO E O FILME: O RETRATO DE DORIAN GRAY
Felipe Garcia Gonçalves ¹
- INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa comparar o capítulo XIII da obra O Retrato de Dorian Gray (1890) de autoria do irlandês Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde, com a cena correspondente do filme britânico de mesmo nome “O retrato de Dorian Gray” (2009) dirigido por Oliver Parquer, tanto o capítulo quanto a cena, trata do assassinato cometido pelo personagem principal chamado Dorian Gray, ao seu amigo e pintor Basil Hallward ( que fez o retrato de Dorian).
- SINOPSE DO LIVRO E FILME
É a história de um jovem dotado de extrema beleza, que encanta a todos que o conhecem. No dia em que seu dedicado amigo, o pintor Basil Hallward, termina seu retrato, Dorian conhece Lord Henry – rico, hedonista e extremamente sarcástico –, que vai exercer uma influência trágica e avassaladora na vida do belo jovem. Ao ver o quadro Dorian faz a promessa de que daria tudo, até mesmo sua alma, para permanecer sempre com o visual nele estampado. A partir de então Dorian não mais envelhece, mas todos os pecados que comete e a idade que chega, são demonstrados no retrato, cada vez mais terrível. Para que ninguém mais o veja, Dorian decide esconder o retrato no sótão de sua casa, quando seu amigo Basil pede o quadro emprestado, Dorian acaba por assassiná-lo onde o retrato está guardado (no sótão), pois ele responsabiliza seu amigo por tudo o que acontece de errado em sua vida.
- DA ESCADARIA ATÉ O SÓTÃO
Analiso passo a passo do livro para o filme, o que está transmitindo um e o outro, quais os aspectos mais importantes que um passa e o outro não. A primeira cena do capítulo livro descreve assim:
“Dorian saiu da sala e começou a subir, acompanhando de perto por Basil Hallward. Caminhavam docemente, como instintivamente se caminha à noite. A lâmpada projetava clarões fantásticos na parede e na escadaria. Soprava um vento que fez bater as janelas. Quando ambos atingiram o andar superior, Dorian depôs a lanterna no pavimento e segurando e segurando a chave, torceu a fechadura. (Wilde, 2009 pag. 150).
Para o efeito de suspense o autor coloca artifícios de situações que nos deixam apreensivos como o jeito caminhar a noite, o efeitos das lâmpadas os clarões normalmente produzem sombras fantasmagóricas, e a cena clássica de descrever a janela fechando-se com o vento, que por sinal assusta muitas pessoas.
No filme essa cena e adaptada, o jogo se produz em dois pontos, os ângulos da cena e a musica de fundo. O tempo em que os dois personagens sobem a escada o ângulo é aberto de cima para baixo mostrando a maior parte do saguão. Com isto faz o contraste entre os personagens com suas sombras na parede. O eco que a batida do caminhar no assoalho produzia. Quando chegam no fim das escadas Basil e Dorian começam uma discussão, entra em cena a música de fundo, o piano tocado o mais lento possível traz a sensação de apreensão. O personagem Dorian tem as expressões faciais de maléficas enquanto de Basil e um olhar de desconfiança.
A próxima cena a ser comparada, Basil e Dorian estão no sótão:
Um grito de espanto escapou-se dos lábios do pintor, quando ele viu à fraca luz da lanterna, a execrável figura que parecia caretear na tela. Havia nessa expressão qualquer coisa que o encheu de nojo e pavor. Céus! Aquilo poderia ser a face, a própria face de Dorian Gray? O horror, fosse qual fosse, entretanto, não havia inteiramente danificado essa beleza incomparável. Restava ainda ouro na cabeleira iluminada e a boca sensual ainda possuía o seu escarlate. Os olhos empolados haviam guardado uns restos de pureza de seu azul e as curvas elegantes das narinas, finamente traçadas, e do pescoço, fortemente modelado, não haviam desaparecido inteiramente. Sim, era bem o próprio Dorian! Mas quem fizera aquilo? Pareceu-lhe reconhecer a sua pintura e a moldura não deixava de ser desenhada por ele. A idéia era monstruosa e ele se apavorou!... Apanhou a luz e aproximou-se da tela. No canto esquerdo, seu nome estava traçado em grandes letras, a puro vermelhão... (Wilde, 2009 pag. 151).
O autor tenta passar ao leitor o aspecto de degradação da pintura no retrato, e também a surpresa desagradável que Basil tem ao ver sua obra prima: “um grito de espanto. As palavras “fraca luz da lanterna” dá um aumento no suspense.
No filme o diretor preferiu passar uma cena mais “demoníaca” ao espectador, deixando-a mais assustadora. A cena começa quando Dorian retira o pano que envolve o retrato. A imagem da câmera mostra como se o quadro estivesse vendo os personagens, e essa visão do quadro para personagem Basil que esta no centro, é focalizada em preto e branco, no resto da imagem que enquadra o sótão ela está escurecida. Passa-nos a sensação de que algo está dentro da pintura, alguma coisa de sobrenatural. Esse jogo que o diretor faz, da pintura estar olhando para as personagens e não o contrário transforma a cena em algo muito mais forte. Se junta a isso nessa cena que Basil dá um passo para trás, e sua expressão é de terror, como olhasse não para a pintura e sim para um ser estranho. E mais uma vez entra a musica de fundo que dá a sensação maior de suspense.
A próxima comparação que se pode fazer é uma alteração que o diretor faz em relação a obra, o trecho do livro é o seguinte:
- Há anos, quando eu era um menino – disse Dorian Gray, triturando a flor nas pontas dos dedos –, tu me lisonjeaste e me ensinaste a envaidecer-me da minha beleza. Um dia apresentaste-me a um de teus amigos, que me explicou o milagre da mocidade, e fizeste-me esse retrato que me revelou o milagre da beleza. Em um momento de loucura, que, mesmo agora, não sei se lamente ou não, fiz um voto que talvez denomines uma prece... (Wilde, 2009 pag. 151,152).
No filme Dorian fala para Basil, que por causa da sua pintura (a cena mostra Dorian pegando a mão de Basil e colocando em sua face), o seu rosto nunca ia envelhecer. No contexto do filme, não se passa os anos, como aconteceu no livro. Dorian Gray ainda é um jovem. Outro detalhe importante é o posicionamento de luz, está somente nos atores fazendo a face dos próprios se destacarem mais que o cenário.
Outro fato importante a comparar é que, a última parte desse trecho em que Dorian se refere ao termo prece, significa o pacto que fez para manter-se jovem. Um pacto com Diabo, mas não fica tão evidente, precisa se ler mais alguns parágrafos para poder chegar a tal conclusão. Quando Basil fala que no retrato não era a imagem de Dorian: e sim de um sátiro (pag. 152), podemos notar a intertextualidade presente. O fator da mitologia grega “sátiro”, tende a ser relacionado principalmente na Idade Média como uma das representações do Diabo. E seguindo um pouco mais o pintor fala que a pintura: tem os olhos do demônio. Na adaptação quem nos influência a suspeitar que há uma pacto com o diabo é Basil. O pintor fala para Dorian que poderiam conseguir ajuda, com um padre ou um curandeiro para destruir “isto”, referindo ao retrato. Nessa parte da cena o diretor proporcionou mais a situação de suspense que na obra. Há novamente o olhar da posição do retrato para os personagens. Continua o aspecto escuro (pouca luz) e lúgrube. A música de fundo se torna mais rápida e é adicionado o som do vento sussurrando no sótão, o que transmite a sensação de medo para o espectador.
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