A Formação do professor na perspectiva da Teoria Crítica
Por: celia.almeida • 2/4/2018 • Trabalho acadêmico • 3.403 Palavras (14 Páginas) • 240 Visualizações
A formação do professor na perspectiva da Teoria Crítica.
Célia Cristina Gonzales de Almeida
Introdução
Um dos maiores problemas dos educadores é da angústia de que padecem na sua ação pedagógica. É comum na fala desses profissionais a decepção da não aprendizagem dos seus alunos no dia a dia escolar. Alguns afirmam que já participaram de cursos de formação, fizeram pós-graduação e até mestrado. Mas as expectativas sempre ficam aquém daquilo a que se propõem esses educadores. Muitas dessas falas se tornaram senso comum na tentativa de se encontrar uma resposta a esses problemas. E, muitos desses educadores, já lecionam há mais de uma década. Esse mal estar do não conseguir atingir os seus objetivos e a sua frustração enquanto profissional leva-os a uma desesperança de que nada adianta fazer e colocam a responsabilidade do não aprender ao aluno. Além disso, a falta de uma autorreflexão sobre a sua ação pedagógica e sobre a sua própria formação, permite que políticas públicas educacionais, através de currículos de caráter positivista, reproduzam o sistema de adaptação e conformismo ante a realidade atual.
Sem perceber que faz parte de um processo de semiformação que tirou do indivíduo a sua capacidade de pensar sobre a sua própria realidade e buscar caminhos para as mudanças que se fazem necessários, o educador não se apercebe como sujeito da sua própria história e não consegue entender o sistema que o domina. Ele, dominado pelo sistema, como quase todos nas sociedades contemporâneas, naturaliza a sua situação e se resigna diante da sua condição.
Para o sistema capitalista, a naturalização desse processo faz parte da sua estratégia ideológica que positiva as respostas a esses dilemas conflituosos. Na retórica neoliberal os problemas enfrentados pela educação são responsabilidade da própria escola e dos seus professores, a precarização da formação do professor é responsabilidade dele e lhe cabe participar dos cursos de formação continuada para melhorar o seu desempenho nas salas de aulas.
Mas para entendermos o porquê dessa problemática é preciso buscar na dialética da negação o que poderia ser e não é na realidade concreta e prever como fazer ser.
Desta forma, contextualizar a realidade em que está inserido o educador é imprescindível para entender o fracasso da educação na construção de pessoas autônomas e humanizadas.
Vivemos tempos de mercantilização, tempos em que tudo passou a ter valor de troca. O homem visa o produto e acaba sendo o próprio produto. A coisificação do homem o fez perder a sua essência calcada na sua autonomia e o transformou em um ser adaptado voltado para o desejo incessante de consumo, que tirou dele o ser e deu-lhe o ter. E quando não há a possibilidade de ter, ele resigna-se diante da sua própria prostração. A privatização do ser atingiu tal ponto de sobreposição ao homem que ela determina até mesmo as mercadorias que serão aproveitadas em sua diversão. Assim, até mesmo no lazer e na felicidade, as pessoas reproduzem o próprio processo do trabalho estabelecido pelas relações capitalistas de produção. O trabalho intelectualizado se perde, e o homem se torna um reprodutor de funções padronizadas e relativamente repetitivas.
Por isso, para iniciarmos qualquer debate sobre a educação é preciso partir do pressuposto da Dialética da negação, para entendermos os porquês dos dilemas que vivem hoje o educador.
Assim, na Teoria Crítica o sentido fundamental é o “de que não é possível mostrar "como as coisas são" senão a partir da perspectiva de "como deveriam ser": "crítica" significa, antes de tudo, dizer o que é em vista do que ainda não é, mas pode ser”.
Para tanto, é preciso entender que o currículo não pode ser lido apenas como uma área meramente técnica, ateórica e apolítica. Na perspectiva da tradição crítica do currículo, ele é considerado um artefato político que interage com a ideologia, a estrutura social, a cultura e as relações de poder. Ele não é somente um conjunto neutro de conhecimento, mas também expressa um conhecimento oficial, uma política em que exprime um conflito em torno daqueles que veem simplesmente como descrições neutras do mundo e outros com concepções de elite que privilegiam determinados grupos e marginalizam outros. E é nesse sentido que a formação do professor é reflexo do seu tempo histórico.
Por isso é preciso buscar nas entranhas do sistema em que vivemos como se dá a formação para a adaptação e não a emancipação. Na dialética do esclarecimento, “Horkheimer e Adorno, buscaram” compreender por que a racionalidade das relações sociais humanas, ao invés de levar à instauração de uma sociedade de mulheres e homens livres e iguais, acabou por produzir um sistema social que bloqueou estruturalmente qualquer possibilidade emancipatória e transformou os indivíduos em engrenagens de um mecanismo que não compreendem e não dominam e ao qual se submetem e se adaptam impotentes”. Portanto, não se pode esperar que o educador tivesse como objetivo a emancipação do seu aluno se ele mesmo foi educado para a adaptação. É preciso levá-lo a autorreflexão da sua formação inserida em um contexto histórico marcada pela semiformação.
Para entendermos o contexto atual é preciso pensar em uma teoria adorniana que “não pode alimentar a expectativa de se partir de uma teoria positiva acerca de como se estabelece a mediação dialética entre a universalidade e a particularidade dos interesses, entre o social e o individual, a autonomia e a integração.” Sem esse pressuposto dificilmente poderíamos pensar em uma teoria de formação do educador que não estivesse contaminada pela semiformação.
A sociedade administrada traçou o seu caminho pautado em atender o Mercado, esse sacralizado pela cultura do consumo, introjetou sua essência ideológica por todos os poros do individuo, dominou a sua consciência, determinou a sua percepção sonora e a sua sensibilidade. A sua capacidade de domínio vem da sua capacidade de não deixar que nada a conteste. Como diz Adorno: “A vida, modelada até suas últimas ramificações pelo princípio da equivalência, se esgota na reprodução de si mesma, na reiteração do sistema, e suas exigências se descarregam sobre os indivíduos tão dura e despoticamente, que cada um deles não pode se manter firme contra elas como condutor de sua própria vida, nem incorporá-las como algo específico da condição humana”.
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