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A JUVENTUDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO

Por:   •  27/9/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.536 Palavras (11 Páginas)  •  120 Visualizações

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JUVENTUDE, TRABALHO E EDUCAÇÃO

Marileide Marcis da Silva

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar a juventude no contexto social e da educação, com o intuito de compreender as juventudes e seus atravessamentos sociais, historicos e culturais, a partir das leituras dos autores, e de se propor outro olhar que ajude a refletir e problematizar o fenômeno juventude. Para isso, busquei novas leituras e pautei-me nos estudos de Michel Foucault  e de Peralva, sobretudo os que aprofundam as temáticas relacionadas a juventude e educação.

Palavras-chave: juventude, educação e social

Introdução

O conceito de juventude, mais recentemente ampliado para juventudes, foi forjado pelas sociedades ao longo da história humana. As idades da vida, além de serem um desenvolvimento biopsíquico dos indivíduos, são um fenômeno histórico e social. A infância e a juventude, são fases socialmente distintas, constituíram-se no desenvolvimento da sociedade ocidental como um espaço e tempo de preparação para a vida adulta. Com o processo da revolução tecnológica e a globalização, crianças e jovens também foram incluídas no mercado, passando a ser identificados como novos consumidores da indústria cultural.

O conceito de juventude foi ganhando nuances diferentes em cada época. De modo geral, pode-se dizer que sempre houve interesse de se educar os jovens para a sociedade, desde a educação para a pólis grega, na Grécia antiga, até a formação dos guerreiros medievais, passando pelos ensinamentos detalhados de Erasmo de Roterdã sobre o modo como os jovens devem se comportar . Pode-se, assim, dizer que a especificidade da juventude existe desde os tempos primórdios, estendendo-se até a particularidade do vínculo social, pelo qual ela se apresenta como configuração própria da experiência moderna .

Assim o processo civilizatório dos costumes apresenta um elemento  constitutivo para a ordem moderna, também para Foucault a  educação e a ordem são faces complementares do dispositivo  intrínseco à racionalidade moderna . As  tecnologias disciplinares, o  dispositivo do saber, o controle das sexualidades infantil e juvenil  têm  o grande objetivo de produzir ordenamento sobre os costumes e  comportamentos (FOUCAULT, 1988). Esse controle e ordem  presentes no mundo moderno afetam em muito o  entendimento sobre as fases da vida. Se a infância e a juventude têm  suas especificidades próprias, elas também são interdependentes,  mesmo que hierarquizadas.

Tal hierarquia constrói-se sobre a base de uma tensão, intrínseca à modernidade, entre uma orientação definida pela lógica da modernização (portanto, orientação para o futuro, pela afirmação conquistadora da renovação como valor) e o fundamento normativo da ordem moderna, que afirma, ao contrário, a primazia do passado como elemento de significação do futuro. Cabe ao passado, isto é, à ordem social já constituída, domesticar, sem destruir, os elementos de transformação e modernização inerentes à vida moderna (PERALVA, 2007, p. 17).

Peralva nos mostra o dilema moderno da juventude frente ao esfacelamento da tradição e a crise da educação no mundo moderno. Para essa pensadora, “a essência da educação é a natalidade, o fato de que seres nascem para o mundo” (2007, p. 223). Ao nascer, colocam-se em contato com uma tradição, uma herança que lhes é passada pelo adulto. Há um testamento que diz ao herdeiro o que será realmente seu e que atribui um passado ao futuro. Sem tradição não é possível existir, humanamente falando, visto que não restaria nem passado e nem futuro, apenas o devir eterno dos mundos e do ciclo biológico dos seres humanos (PERALVA, 2007, p. 17).

Nesse contexto da tradição, os pais que trazem os filhos ao mundo têm uma dúplice responsabilidade de cuidar e proteger a criança, mas também devem cuidar da continuidade do mundo, em relação ao assédio das novas gerações.

Os pais humanos, contudo, não apenas trouxeram seus filhos à vida mediante a concepção e o nascimento, mas simultaneamente os introduziram em um mundo. Eles assumem na educação a responsabilidade, ao mesmo tempo, pela vida e desenvolvimento da criança e pela continuidade do mundo. [...] Porém também o mundo necessita de proteção, para que não seja derrubado e destruído pelo assédio do novo que irrompe sobre ele a cada nova geração (ARENDT, 2007, p. 235).

Por isso a educação no mundo moderno deve ser eminentemente conservadora, no sentido de conservação. A educação conservadora cuidará para que a tradição seja passada pelo adulto à criança de forma que possa ajudar a criança a se inserir no mundo ao mesmo tempo em que a educa para a conservação e preservação deste mundo.

Exatamente em benefício daquilo que é novo e revolucionário em cada criança é que a educação precisa ser conservadora; ela deve preservar essa novidade e introduzi-la como algo novo em um mundo velho, que, por mais revolucionário que possa ser em suas ações, é sempre, do ponto de vista da geração seguinte, obsoleto e rente à destruição (ARENDT, 2007, p. 243).

Peralva salienta que “o velho se impõe sobre o novo, o passado informa o futuro e essa definição cultural da ordem moderna define também as relações entre adultos e jovens, definindo o lugar no mundo de cada idade da vida” (2007, p. 18). Segundo a autora, o jovem é aquele que se integra mal, pois ele resiste à ação socializadora, que se desvia em relação a um certo padrão normativo. As formas do desvio variam, em função de níveis distintos de estratificação social e cultural, o desvio como tal é inerente à experiência juvenil. Para Arendt, a dificuldade para se ter uma educação conservadora é a crise na autoridade do (a)professor(a) que o distancia de sua responsabilidade de mediar a relação entre o velho (o passado, a tradição) e o novo que se dá pela natalidade:

A crise da autoridade na educação guarda a mais estreita conexão com a crise da tradição, ou seja com a crise de nossa atitude face ao âmbito do passado. É sobremodo difícil para o educador arcar com esse aspecto da crise moderna, pois é de seu ofício servir como mediador entre o velho e o novo, de tal modo que sua própria profissão lhe exige um respeito extraordinário pelo passado (2007, p. 243).

A autoridade independe, da formação ou qualificação do professor, e independe igualmente de atitudes de violência e de terror que de forma alguma garantem a autoridade. Significa, assumir responsabilidades pelo mundo no qual está inserindo a criança. Dessa forma, a educação não pode ser compreendida sem autoridade.

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