CULTURA, EDUCAÇÃO SEXUAL DE JOVENS E ESCOLA
Por: Fabio Henrique Gulo • 8/10/2018 • Trabalho acadêmico • 3.742 Palavras (15 Páginas) • 251 Visualizações
CULTURA, EDUCAÇÃO SEXUAL DE JOVENS E ESCOLA: ENFOQUES NA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA
Fabio Henrique Gulo[1]
Maria de Fátima Salum Moreira[2]
Sala temática: Educação Sexual, Gênero e Valores
RESUMO
Este estudo apresenta resultados de dissertação de mestrado em educação a partir das análises sobre o modo como as discussões sobre sexualidade e suas relações com a educação escolar são abordadas em dissertações e teses provenientes de diversos campos de conhecimento. Objetivou-se levantar e analisar aqueles estudos que investigaram a sexualidade sob a perspectiva dos processos de escolarização, com ênfase no estudo das práticas e relações entre os agentes escolares e nos modos como são discutidas as intersecções entre sexualidade, cultura e escola. São focados estudos que abordam os conceitos de cultura na escola, cultura da escola e cultura escolar, enquanto se tentou relacioná-los à fonte principal de análise que é composta por resumos de dissertações e teses produzidas entre os anos 2000 e 2004. Como resultado, pôde-se observar forte participação de estudos que mantêm seu foco no modo como discussões sobre sexualidade se inserem no interior das escolas, enquanto aquelas que apresentam aspectos sobre a sexualidade (re)produzidos e difundidos pelos próprios agentes escolares em um contexto local ou histórico ainda representam um campo pouco explorado. Tal constatação demonstra como a sexualidade tem sido tratada pelos pesquisadores que pretendem discuti-la a partir da escola. Ou seja, de forma unilateral visto que as pesquisas são realizadas em escolas sem que estas entrem significativamente nas análises, tornando-se apenas “palco” das investigações. São poucos os casos em que ela é tratada como participante dos processos de construção dos significados para a sexualidade e para as identidades sexuais.
Palavras-chave: Cultura organizacional escolar, Educação Sexual, Juventude
As discussões acadêmicas sobre a sexualidade, apesar de fazerem parte de um contexto histórico que remete inicialmente ao século XIX, se fortaleceram em diversas áreas do conhecimento no século seguinte. Segundo Werebe (1998), a história da investigação científica sobre tais questões é relativamente recente, assim como também são recentes as tentativas de implantação de uma educação sexual em escolas de Educação Básica no Brasil.
Segundo Barroso e Bruschini (1982), essas tentativas ocorreram em alguns dos principais centros urbanos do país, ainda no começo do século XX, e foram marcadas por um histórico de avanços e retrocessos. Algumas delas, que tiveram sucesso em sua implantação, foram fortemente atacadas e repreendidas por setores sociais e do poder público, além de outros casos em que se utilizou a Educação Sexual como forma de repressão da sexualidade de crianças e jovens.
Apesar disso, estudos mais recentes, que avaliam a publicação acadêmica sobre essa temática, constataram números mais expressivos de trabalhos, principalmente daqueles que buscam novas compreensões sobre o papel da Educação Sexual na formação de crianças e jovens, tanto no meio escolar quanto no meio social de modo mais amplo. Dentre esses estudos, destacam-se três estados da arte: Figueiró (1995), Silva (2004) e Gulo (2011). No primeiro, foram constatados, entre os textos analisados, 17 dissertações e teses que abordavam a temática da Educação Sexual, publicados entre os anos de 1980 e 1993. No segundo, sobre a mesma temática, foram identificados 167 títulos publicados entre os anos de 1977 e 2001. No terceiro, do qual deriva-se este artigo, foram verificadas 118 publicações apenas no período entre os anos 2000 e 2004. Entretanto, diante da proposta de análise da pesquisa, foi acrescentado um novo filtro: Juventude / adolescência, a partir do qual foram encontradas 64 obras, as quais foram analisadas através de seus resumos e organizadas de acordo com categorias temáticas e conceituais específicas.
Dentre esse último conjunto de pesquisas, foi possível observar a diversidade de abordagens, temas, áreas do conhecimento e concepções que se misturam e, muitas vezes, se confundem em meio às constantes tentativas de se atribuir a essas instituições de ensino o papel de locus privilegiado para o desenvolvimento de estudos sobre a sexualidade juvenil. Assim, diante das inúmeras possibilidades de análise da fonte documental levantada, estabeleceram-se como primordiais, e objetivo central deste estudo, as reflexões sobre o papel que a escola desempenha, ou deveria desempenhar, na efetivação de uma Educação Sexual voltada ao público jovem.
Toda essa importância do espaço escolar, constatada principalmente no considerável crescimento no número de dissertações e teses que versam sobre educação, sexualidade e juventude, produzidas no período citado (GULO, ibid.), aparentemente acompanha o crescente interesse nos estudos sobre cultura organizacional escolar e sobre o papel social que deve ser incorporado pelas instituições de ensino.
As discussões sobre a escola e sua cultura organizacional, acompanhando os índices dos estudos sobre educação sexual, apenas tomaram força na segunda metade do século XX. A partir da década de 1970, segundo Faria Filho et al. (2004) e Torres (2005), a crise dos sistemas educacionais ganhou grande destaque nas pesquisas em educação que, além de sustentarem a necessidade de reformas educativas, buscavam agregar novos referenciais teóricos que possibilitassem a compreensão do universo escolar.
É neste contexto dos estudos científicos sobre a cultura organizacional, em especial na pesquisa histórica e sociológica, que os temas e bases conceituais da “cultura da escola”, da “cultura na escola” e da “cultura escolar” se estabelecem e se configuram como centrais nos debates acadêmicos de diversas áreas de pesquisa envolvidas com a busca de uma lógica para organizar a compreensão dos processos que envolvem a educação escolar.
Para historiadores como Souza (2000) e Faria Filho et al. (2004), apesar de não serem únicas, duas principais perspectivas abordam a cultura escolar no campo da pesquisa histórica: de um lado uma representada por autores como Viñao Frago, que reafirma a pouca permeabilidade da cultura escolar às transformações, isto é, enfatiza as suas continuidades e permanências, enquanto outros, como Dominique Julia, utilizam-se do conceito para enfatizar a necessidade de “se deixar sensibilizar pelas mudanças muito pequenas que insensivelmente transformam o interior do sistema” (FARIA FILHO et al., ibid., p. 149).
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