Comportamento alimentar
Por: Rosangela Silva • 3/11/2016 • Monografia • 2.357 Palavras (10 Páginas) • 537 Visualizações
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CONTROLE NEURAL DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR
Uma estrutura do sistema nervoso central que tem um papel fundamental
na regulação de vários comportamentos que contribuem para a homeostasia,
como o comer, o beber e o controle da temperatura, é o hipotálamo. O
hipotálamo influencia esses comportamentos integrando estímulos externos, que
atuam como incentivos, e estímulos internos, que informam o estado do
organismo. A relação funcional do hipotálamo com outras estruturas do sistema
nervoso central (Fig. 3) garante a integração do sistema endócrino com outros
sistemas efetores, como o motor e o autonômico.
Figura 3 – Esquema de estruturas que possuem conexões com o
hipotálamo. (Fonte: Lundy-Ekman, 2004)
Antes de discutirmos o papel do hipotálamo, é importante uma análise da
anatomia do sistema nervoso central. Como ilustrado na Figura 4, o sistema
nervoso central é constituído pelo encéfalo (localizado dentro do crânio) e pela
medula espinhal (localizada no interior da coluna vertebral). O encéfalo é
constituído por três partes: o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico. No
cérebro, entre outras estruturas, encontramos as que em conjunto denominam32
se diencéfalo. O diencéfalo, por sua vez, é formado pelo tálamo, hipotálamo,
epitálamo e subtálamo.
Figura 4- Visualização lateral das regiões do sistema nervoso. (Fonte: Lundy-
Ekman, 2004)
O hipotálamo situa-se acima da hipófise, ao redor do terceiro ventrículo
(Fig. 5). Ele possui vários grupamentos de células neuronais, denominados
núcleos. Dentre eles podem ser citados o núcleo ventromedial, o núcleo
arqueado e o núcleo periventricular. O hipotálamo pode ser dividido em três
regiões: periventricular, medial e lateral (Fig. 6).
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Figura 5 – Vista lateral do diencéfalo, mostrando a localização do
hipotálamo. (Fonte: (A) Van de Graaff, 2003; (B) Lundy-Ekman, 2004)
(A)
(B)
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Figura 6 - Secção coronal do cérebro, mostrando três regiões importantes
para o controle da alimentação: núcleo arqueado, núcleo paraventricular,
área hipotalâmica lateral. (Fonte: Bear et al., 2002)
O hipotálamo é considerado uma estrutura que participa do controle da
manutenção do peso corporal em determinado nível, conhecido como “ponto de
ajuste”, que varia de indivíduo para indivíduo. Essa idéia surgiu em torno de
1940, a partir de experimentos realizados com ratos. Pesquisadores faziam
lesões em certas regiões do hipotálamo desses animais e observavam as
alterações que ocorriam no comportamento alimentar (Fig. 7). Os cientistas
verificaram que lesões nas regiões laterais do hipolálamo causavam anorexia,
ou seja, os animais tornavam-se inadequadamente saciados e deixavam de
comer (afagia), ficando cada vez mais magros e muitas vezes acabavam
morrendo. Já quando as lesões eram efetuadas na região medial do hipotálamo
(no hipotálamo ventromedial) os animais ficavam insaciáveis, o que causava um
aumento da ingestão dos alimentos (hiperfagia) tornando-os obesos.
Além disso, observou-se também que a estimulação elétrica na região
lateral do hipotálamo desencadeava nos ratos a ingestão de alimentos, ao passo
que a estimulação elétrica na região medial do hipotálamo suprimia o consumo
de alimentos. A partir desses dados concluiu-se que na região lateral do
hipotálamo estaria o “centro da fome” e na região medial do hipotálamo estaria o
“centro da saciedade” e lesões efetuadas nesses centros levam a um
desequilíbrio desse sistema.
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Essa idéia de “centro dual” prevaleceu por muitas décadas. Porém, com a
progressão de pesquisas realizadas nessa área, esse modelo mostrou-se
bastante simplista.
Figura 7 – Comportamento alimentar e peso corporal alterados por lesões
bilaterais do hipotálamo de ratos. (a) Lesões no hipotálamo lateral, gerando
anorexia. (b) Lesões no hipotálamo ventromedial, ocasionando obesidade. (Fonte:
Bear et al., 2002)
Vários estudos mostraram que os animais com lesão na região lateral do
hipotálamo, quando alimentados por cânulas voltavam a se alimentar
espontaneamente, embora mantendo seu peso em um patamar mais baixo. Já
os animais com lesões na região ventromedial do hipotálamo tornavam-se
comedores vorazes por até três semanas, tornando-se obesos. Entretanto, eles
não engordavam indefinidamente, ou seja, eles estabilizavam o consumo de
alimentos
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