Leitura - Um desafio no processo educacional

LEITURA: GRANDE DESAFIO NO DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO EDUCACIONAL

Ester Candida Umbelino^[1]

Katia Lopes Ferreira da Silva^[2]

RESUMO

A leitura é o ponto inicial para a formação intelectual e cultural do educando e implica num processo que transcende a mera decodificação de sinais gráficos, já que a leitura deve ser encarada como uma experiência em que o leitor, jogando com seu conhecimento prévio, pode buscar caminhos a fim de chegar à plena compreensão do texto. O objetivo deste estudo foi investigar as dificuldades que os professores do ciclo I do Ensino Fundamental encontram para desenvolver o hábito de leitura nos alunos. A amostra foi composta por 5 professores pedagogos e 20 alunos do 2º ano sendo todos do Ensino Fundamental I de uma escola municipal na área continental de São Vicente estado de São Paulo. No que diz respeito aos instrumentos utilizados foram observação e questionário que visava investigar as dificuldades do professor quanto a presença do problema e sugestões de intervenção para resolução do problema. Os professores assinaram um termo consentindo a participação na pesquisa. Essa pesquisa ocorreu no 2º Semestre de 2011 e teve duração por 04 meses de Agosto a Dezembro. Observou-se que 80% dos professores relataram encontrar dificuldades em despertar nos alunos o hábito de leitura. Atribuiu-se a falta de prazer em ler ao elevado desinteresse dos educandos e a falta de leitores nas famílias atualmente. A estratégia de resolução do problema proposta é pensar a cerca do ensino de leitura, sugerindo algumas estratégias de trabalho diferenciado na tentativa de influenciar beneficamente na formação do leitor. Concluindo, observou-se ser comum esta dificuldade na escola investigada. O professor tem papel fundamental na formação do leitor, assim sua participação na orientação e mediação do trabalho de leitura parece ser um fator relevante na resolução do problema. As estratégias adotadas pelos professores são imprescindíveis a fim de garantir que os alunos se sintam motivados para aprender.

Palavras-chave: Leitura. Ensino Fundamental. Estratégias. Texto. Realidade. Família.

INTRODUÇÃO

Antes de darmos início ao nosso estudo, gostaríamos de ressaltar que o livro é um componente essencial ao crescimento intelectual e cultural do indivíduo, por isso é importante que os professores despertem nos educandos o hábito da leitura. O livro, além de servir como instrumento de comunicação é também uma forma de desenvolver uma ação educativa que permite a interação da criança com o meio social em que vive, porém é necessário que ele, tendo acesso a literatura, sinta prazer e interesse em ler ao mesmo tempo em que pode estar sendo instruído(Zilberman, 1989).

Atualmente nossos alunos apresentam grandes dificuldades na prática da leitura, por verem na leitura uma obrigatoriedade a ser cumprida. Bamberger(1987, p.46) citando Danrendorf confirma que “as crianças encontram pouco prazer na leitura quando esta lhes parece difícil”.

É interessante ressaltar que o aluno se depara com situações em que ele é levado a ler pelo simples prazer de ler. Entretanto, o professor deve ter o cuidado de não desistir de realizar um acompanhamento mais metódico, pois o leitor pode ser afetado positiva ou negativamente pelo livro, conforme o leia bem ou mal. Vygotsky(1988, p.109) constatou que “a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar”, com isto entende-se que quando a criança chega a escola já há um histórico de aprendizagem. A escola tem a função então de orientar e estimular esses processos mentais já interiorizados. O importante é desenvolver no aluno a prática de uma leitura, que propicie o hábito de reflexão e crítica acerca da interpretação de uma realidade expressa pelo autor, ou seja, o leitor deve, conforme a fase de desenvolvimento em que se encontra, estar apto a se posicionar a favor ou contra da produção que consome(Cunha, 1988).

Antes de abordarmos aspectos relativos a leitura é importante precisarmos o significado do ato de ler. Martins(1994) define o ato de ler não como um simples aprendizado qualquer, mas como uma conquista de autonomia, que permite a ampliação dos nossos horizontes.

O ato de ler é usualmente relacionado com a escrita e o leitor visto como mero decodificador da letra. Porém não basta decifrar palavras para que a leitura aconteça. O ato de ler vai muito além da escrita. A esse respeito, Leffa(1996, p.10) ressalta que “a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio”, pois não lemos “apenas a palavra escrita mas também o próprio mundo que nos cerca”.

De acordo com Orlandi(1988) em um sentido amplo, esse ato corresponde ao processo de apreensão da realidade que cerca o indivíduo e essa realidade se revela ao leitor por meio de diversas linguagens: como fazer a leitura de um gesto, de uma situação, indicando, portanto, que o ato de ler não diz respeito à apreensão da realidade somente por meio da leitura do escrito.

Ocasionalmente, as pessoas passam anos vendo objetos comuns, sem nunca tê-los enxergado, limitando-os à sua função decorativa ou utilitária. Certo dia, por motivos diversos, encontram-se diante de um deles como se fosse algo completamente novo e seu conteúdo passa a fazer sentido. Passa-se, então, a pensar em sua história, nas circunstâncias  de sua criação, nas intenções de quem o produziu, nas pessoas que o manipularam no decorrer de sua produção e, depois de pronto, naquelas que foram ligadas a ele e as que o ignoram ou a quem esse mesmo objeto desagrada. Até aquele momento, o objeto era apenas algo ao redor, que não dizia nada. Tudo ocorre, possivelmente, de maneira casual, sem intenção, porque houve uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. De repente se descobre um sentido, uma maneira de ser de um objeto que incite determinada reação, um modo especial de percebê-lo(Martins, 1994).

Assim acontece também com a leitura de um texto escrito. Quando alguém se dispõe realmente a ler, este ato vai além do gesto mecânico de decifrar os sinais, pois esses sinais se ligam imediatamente a uma experiência, uma fantasia, uma necessidade. Para Kleiman(2004, p.13) “a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo da vida”. Como diz Paulo Freire(1994), a leitura da palavra é precedida pela leitura do mundo, pois a compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.